Pediatras têm prescrito a leitura de livros para crianças
menores de 3 anos como forma de estimular a linguagem e a interação familiar
Era uma vez uma criança que convivia com livros desde os
primeiros anos de vida. Folhear títulos infantis e se encantar com ilustrações
fazia parte da brincadeira, banho ou hora de dormir. Desenvolvida desde o
nascimento, a prática colaborou para o desenvolvimento da linguagem e aquisição
de capacidades socioemocionais. A constatação, longe dos contos de fada, é tão
real que médicos estão prescrevendo livros para as crianças durante as
consultas. A ação faz parte de uma recomendação da Academia Americana de
Pediatria (AAP) e também já é adotada por especialistas brasileiros.
De acordo com a AAP, uma parte importante do cérebro dos
bebês se desenvolve nos três primeiros anos de vida e a leitura de histórias
com regularidade para crianças, desde o nascimento, pode favorecer esse
processo. Ler para bebês ainda pode abrir portas para o mundo das artes,
facilitar o aprendizado da leitura e fortalecer as relações entre pais e
filhos.
A prescrição, avalia a médica Ana Maria Costa da Silva
Lopes, do Departamento de Pediatria do Comportamento e Desenvolvimento, da
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), se faz necessária do ponto de vista
neurológico e em relação à formação da vida psíquica do bebê. “A criança, mais
adiante, terá um momento de alfabetização a partir do sexto ano de vida, mas o
incentivo da leitura deve ser contínuo”, defende.
Família
Para Ana Maria, os pais precisam ser os mediadores desse
processo. É através da voz deles que o bebê descobre enredos, ilustrações e até
mesmo o cheiro do papel. “Infelizmente, os médicos estão tendo de prescrever o
básico da relação humana. Coisas que já fizeram parte de uma tradição e que não
deveriam ter sido perdidas”, pondera.
Doutora em Educação, a professora Elisa Dalabona, da UFPR,
argumenta que esse tipo de estímulo pode fazer a diferença na vida das
crianças. Entre os benefícios, ela cita a ampliação do repertório imaginário,
melhor desenvolvimento da oralidade e da interlocução com o adulto. Ao mesmo
tempo, lembra, a leitura abre espaço para trabalhar com emoções, como o medo,
nas histórias do Lobo Mau, ou a rejeição, como no caso das irmãs de Cinderela.
“Quando a criança sente o prazer da família em contar aquela história, ela
retribui isso”, salienta.
Leitura para envolver pais e filhos
Quanto mais leitura, melhor a escrita, defende o gerente de
Conteúdo do movimento Todos Pela Educação, Ricardo Falzetta. Na última edição
da Avaliação do Ciclo Final de Alfabetização, a Prova ABC, aplicada em 2012
pela organização em escolas públicas e privadas do país, 56% das crianças que
cursavam o 3.º ano do ensino fundamental apresentavam leitura inadequada e 70%
também não dominavam bem a habilidade de escrever. Ao todo, 54 mil crianças de
600 municípios brasileiros foram avaliadas.
Para Falzetta, a escola precisa estar apta a oferecer
leitura de qualidade às crianças, principalmente quando os alunos vêm de
famílias em situação de vulnerabilidade. “Essas famílias também precisam ser
conquistadas. Elas podem valorizar os livros que os filhos levam para casa,
perguntar sobre o que leram na escola ou fazer essa leitura juntos com eles”,
assinala.
Em Curitiba, esse trabalho já vem sendo feito na rede
pública. A gerente dos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI) de
Curitiba, a professora Vera Lúcia Gran Dal Molin, explica que as unidades têm a
leitura como orientação de prática permanente. Os berçários contam com cantos
para a leitura e os bebês são estimulados a ter contato com os livros assim que
conseguem segurar os materiais, relata. As crianças também podem fazer empréstimos
para ler com os pais.
Exemplo
Por Antoniele Luciano
Gazeta do Povo
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