Ser de esquerda não é só defender justiça social. É também lutar pelas liberdades e os direitos
da forma mais ampla quanto possível. Sem tergiversar. E sem pestanejar.
Por Renato Rovai
Aquela máxima de que o radical libertário da juventude se
torna o conversador da meia idade e o reacionário ranheta da velhice, não vale
para todo mundo.
Mas, como quase todas essas percepções que se tornam populares, esta também tem lá seu fundo de verdade.
Os ícones do reacionarismo neocom, por exemplo, foram
militantes de grupos de esquerda ou rebeldes nos anos 80. Desde o velho
Lobo, passando por Magnoli e Reinaldão.
E se poderia ir mais longe, por exemplo, e citar o deputado
Roberto Freire (PPS), que em 89, foi candidato pelo PCB e que hoje é contra
tudo que signifique algum avanço progressista. Freire, por exemplo, foi uma das
vozes mais altas contra a aprovação do Marco Civil da Internet e a favor das
teles no Congresso.
Há vários motivos que explicam essas guinadas. Uma delas é o
oportunismo. As pessoas entram na luta política pela porta que está aberta e em
geral ela é a dos partidos mais à esquerda e dos movimentos sociais.
E depois vão se tornando conhecidas e sendo seduzidas para
fazer seu show em outras bandas. Aparecem os convites mais vantajosos e no
primeiro descontentamento com o seu movimento ou partido de origem já pulam do
barco atirando contra o sectarismo e os
desvios éticos.
Há também aqueles que se desencantam. Muitos desses chegam à
militância quase como torcedores de organizadas de futebol. Não estão dispostos
a debater, a ponderar as diferentes opiniões e a aprender. Querem ir pro pau.
Acabam se tornando bate-paus das organizações.
Vão pra cima de tudo com uma gana imensa. Sem se importar se
a violência que utilizam para agredir verbalmente seus adversários não os torna
pior do que eles. Esses, quando percebem que nem todos que estão ao seu lado
têm a mesma disposição de guerrear naquele nível, se indignam e alegam que não
tem estômago, paciência ou qualquer outra coisa para seguir em frente.
E se voltam pro seu dia a dia, comentando aquela experiência
sempre de forma amarga. O “eu sei como isso funciona, por isso não me iludo” é
uma frase clássica. Essas pessoas se acomodam e acabam sendo muito úteis para o
conservadorismo se manter.
E há ainda os ingênuos. Eles se comportam de uma maneira
simplista, achando que não há motivo algum para que o resto do mundo não faça
as coisas do jeito que eles acham que devem ser feitas. Entendem que tudo que
defendem é sensacional. E não suportam as contradições, mesmo ainda estando
numa fase de definição de suas convicções. E buscam fincar estacas naqueles que
consideram adversários de suas teses.
São ingênuos, porque não percebem que são muito úteis para
dividir lutas e criar problemas inexistentes nos movimentos que integram. Não
fazem as coisas por mal, mas acabam produzindo conflitos desnecessários. Com o
tempo, ou essas pessoas mudam sua forma de agir ou se tornam os piores
adversários.
A ingenuidade vira esperteza, e elas começam a atrair outros
com características semelhantes a elas quando eram apenas ingênuas. E fazem
daquilo um espaço político de ação. Que é movido à intolerância.
Não existe intolerância de esquerda. A intolerância é a base
da sociedade conservadora. E quando alguém que se diz de esquerda, mas tem como
base de sua ação a luta por silenciar as vozes que não lhe são agradáveis, essa
pessoa já pulou o muro.
Via Blog do Saraiva
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