A ficha falsa de Dilma divulgada pela Folha e a foto falsa
de Lula divulgada pela revista Veja revelam a podridão da velha mídia de
sempre. Por outro lado, a história recente tem provado que nada disso serve
para ganhar eleição
Rodrigo Vianna, Escrevinhador
A campanha de 2014 começou. Dois anos antes. E a prova disso
não é o lançamento prematuro de Aécio Neves à Presidência pelo PSDB.
Foto da ficha falsa de Dilma reproduzida pela Folha durante a última campanha presidencial. |
Jornalistas mais afoitos embarcam em ondas desse tipo. Foi o
que fez a Folha em 2009. Estampou a ficha de Dilma em primeira página. Quando a
patranha ficou demonstrada, o jornal deu uma explicação inesquecível: publicara
a ficha porque sua autenticidade “não podia ser confirmada, mas tampouco podia
ser descartada”.
Agora, em 2012, Ricardo Setti da Veja pelo menos pediu
desculpas. O jornalista (!) publicou fotomontagem grosseira em que Lula aparece
abraçado a Marisa Letícia e Rose (veja aqui). A foto circulava pelas redes
sociais. Setti achou genial ilustrar um post usando a foto – que imaginava ser
verdadeira.
A Veja é capaz de qualquer coisa. Já caiu em conto de 1º de
abril. O glorioso “boimate” (piada de uma revista estrangeira, escrita sob
encomenda para o primeiro de abril) foi levado a sério na publicação da família
Civita. Os editores acreditaram na mistura genética de boi e tomate. Agora, a
Veja de Ricardo Setti acreditou na montagem para agredir Lula, assim como a
Folha acreditara na ficha falsa de Dilma.
Tudo isso mostra a podridão da velha mídia de sempre. Mas
nada disso – diga-se – serve para ganhar eleição.
Aliás, imaginava eu que os tucanos seriam mais cuidadosos
com a estratégia para 2014. O PSDB tem alguma chance de ganhar se caminhar para
o centro com Aécio. O figurino pitbull – adotado por Serra, sob inspiração de
blogueiros e pastores com estranhas obsessões sexuais – não deu certo! O
figurino pitbull serve só para tornar os antipetistas mais raivosos, da mesma
forma que unifica os lulistas para o combate contra os tucanos e a velha mídia.
Acontece que – no meio do caminho – há um eleitorado mais
centrista que, nas eleições desde 2002, o PT conseguiu atrair. Gente que não
detesta o PT, mas também não ama o Lula. Não é com montagens grosseiras que o
PSDB vai conquistar essa gente.
Mas a publicação que ganhou destaque no site da Veja é só a
ponta do iceberg – se me perdoam o lugar-comum. Na rede, no submundo da
política e da velha mídia, o vale-tudo corre solto.
Um amigo jornalista procurou-me ontem [5/12] para contar que
passou a receber e-mails falsos nos últimos dias – com as denúncias mais
absurdas contra Lula. Outros colegas na redação confirmam: há em curso a
tentativa de criar – nas redes sociais – uma “onda” incontrolável para colar em
Lula a imagem de bandido/cafajeste. O “mensalão” não colou, a ideia de chamá-lo
de “apedeuta” não havia colado, o terrorismo religioso também não. Sobraram
ataques pessoais. Foi o que Collor fez em 1989.
Mas, podem perguntar alguns, por que atacar Lula se o
adversário de 2014 deve ser Dilma? Escrevi sobre isso no blog: “Lula, Dilma e o
PT: fatiados”. Enfraquecer a imagem de Lula é passo fundamental para a
oposição. Dilma forte, tendo apoio de um ex-presidente tão forte como Lula,
tornaria a batalha perdida antes de começar. Por isso, os ataques são
“fatiados”. É preciso minar Lula, o PT e – num segundo momento – Dilma.
Suponho que a “onda” na internet não garanta coisa nenhuma
aos tucanos. Imagino até que os mais refinados entre eles sequer concordem com
essa “onda” moralista rastaquera. É só mais um passo rumo ao pântano, onde a
oposição sem programa se deixa dominar por blogueiros enfurecidos, pastores
dementes e gente do submundo da política.
Ataques exagerados contra Lula e atos como a recusa em colaborar pra redução das contas de luz esse sim adotado sob a égide da
liderança mais “orgânica” do tucanato) só ajudam a reforçar a imagem de que a
oposição joga contra o Brasil – numa tentativa desesperada de voltar ao poder.
Tenho a impressão que Aécio, se assumir de fato o comando do
PSDB, vai mudar essa linha de ação. Até porque uma campanha em que se exponha a
vida pessoal de políticos e candidatos não é algo que possa interessar ao
senador mineiro – fustigado, dentro do próprio partido, por dossiês e histórias
sobre seus hábitos pessoais.
Via Pragmatismo Político
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