A posse do novo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do
ABC, Rafael Marques, transformou-se, nesta quarta (19), em um ato de desagravo
ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O que mais machuca meus
adversários é o meu sucesso”, disse o petista, que foi recebido por gritos de
“Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo”, uma resposta às denúncias da
mídia e da oposição, que têm usado acusações do empresário Marcos Valério para
atingir o ex-presidente.
O ato reuniu centenas de sindicalistas, lideranças políticas
e do movimento social. Nas falas, críticas à imprensa e à judicialização da
política. Último a discursar, Lula afirmou que, “para a alegria de muitos e
para tristeza de poucos”, voltará a percorrer o país em 2013.
"Não se preocupem muito com os ataques. Há uma razão
para isso. Em 2010, quando lançamos a Dilma, ela era um poste. Vencemos. Agora,
quando apresentamos Fernando Haddad aqui, era outro poste. Vencemos. De poste
em poste a gente está iluminando o Brasil inteiro”, disse, repetindo uma fala
sua durante a campanha de Haddad.
“Só existe uma possibilidade de me derrotar: é trabalhar
mais que eu. Se ficar um vagabundo numa sala com ar condicionado falando mal de
mim, vai perder”, discursou, sob palmas. O ex-presidente é alvo de uma série de
denúncias, que tentam envolvê-lo no chamado esquema do “mensalão” e nos
supostos crimes de tráfico de influência investigados pela Operação Porto
Seguro.
Segundo o petista, ele voltará a andar pelo país, porque
ainda tem muita coisa a ser feita pelo Brasil, como “ajudar a presidenta Dilma
a fazer cada vez mais, ganhar ainda muitos estados e prefeituras, trabalhar
forte com as esquerdas nesse país, trabalhar com setores progressistas da
sociedade”, afirmou.
Em seu discurso de cerca de 40 minutos, Lula falou sobre
futebol e sobre a história do Sindicato dos Metalúrgicos, que presidiu no
passado. E prosseguiu com as críticas aos adversários. “Eu consigo compreender
o jogo que eles fazem. Eles governam o país desde que Cabral chegou aqui e como
poderiam aceitar que seja exatamente um peão o presidente que mais fez
universidade federal nesse país? Como podem aceitar pacificamente, sem ódio,
que seja um metalúrgico de diploma primário que tenha feito, em oito anos, uma
vez e meia de tudo que eles fizeram de escolas técnicas em um século?”,
disparou.
Ele lembrou que, quando assumiu a presidência em 2002,
previam o seu fracasso, ele era considerado o próprio "Titanic",
brincou. "Mas não era possível governar esse país para um terço da
população. É por isso que eles não se conformam que colocamos 40 milhões de
homens e mulheres na classe C, nem podem ver os pobres viajarem de avião,
trocarem de carro. Eu acho que isso deixa eles indignados", completou.
Lula disse ainda que, em 2002, quando se elegeu presidente
pela primeira vez, desconfiava que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) estava torcendo por ele. "Teve momento que eu achava que ele
preferia minha vitória à do Serra. Muita gente vinha e me dizia 'ele prefere
você'. Ele achou que não ia dar certo, seria um fracasso, e que depois
voltaria", disse.
Crise
O ex-presidente afirmou ainda que é preciso pensar de forma
positiva em relação ao futuro do Brasil. "Não é porque nosso vizinho está
doente que nós vamos ficar doentes. Não é porque a Europa está em crise, que
nós vamos entrar em crise. A crise pode ter maior ou menor incidência a partir
das medidas que nós tomemos aqui", disse ele.
Lula destacou que, no início das turbulências econômicas de
2008, pediu ao povo que não parasse de consumir, uma estratégia para manter o
mercado interno aquecido e a economia ativa. “Um país que tem a quantidade de
investimentos anunciados por Dilma, que tem o PAC, que tem o pré-sal, vai ter
Copa do Mundo e Olimpíadas, que tem terras agricultáveis, não tem que ter medo
do futuro”, defendeu.
“Está em crise? A França está em crise. Vamos torcer para
que passe a crise lá. Se não conseguimos vender para esses países, vamos
procurar outro parceiro. É igual ao mascate. Ele vai perder tempo com quem não
tem dinheiro? O Brasil tem que pensar no que fazer de troca com a África, a
Ásia, a América Latina. Fico feliz que a Dilma e o ministro da Fazenda, Guido
Mantega, tenham clareza sobre o que deve ser feito”, elogiou.
Apoio
O Centro Celso Daniel, onde ocorreu o ato, estava repleto de
faixas de solidariedade, nas quais se liam frases como “Lula, obrigado por
mostrar o Brasil de verdade” e “Lula, nós não desistimos nunca”. Muitas foram
às referências à necessidade de democratizar os meios de comunicação e de
evitar a judicialização da política.
O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, destacou a
importância de Lula para as transformações necessárias no país, ressaltando a
grande conquista de “termos forjado uma liderança dos trabalhadores, um
operário com a expressão do Lula”. Rabelo lembrou que o petista recomendava que
ninguém se enganasse sobre a força da luta e da organização da classe
trabalhadora.
E criticou uma tentativa da oposição de tirar a disputa do
plano político, transferindo-a ao plano jurídico. “Tentam criminar a política,
os políticos e os movimentos sociais. Mas não vão conseguir", afirmou.
O representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), Gilmar Mauro, destacou que, em 2013, algumas lutas se projetam
para os movimentos sociais, no campo da política. “Temos que pensar em lutas e
ações de massa que coloquem em pauta temas como a democratização dos meios de
comunicação e a criminalização da política e dos movimentos. Outra coisa que temos
que colocar em pauta é o Judiciário, que parece intocável”, condenou.
O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel
Iliescu, declarou que os movimentos sociais não irão se intimidar diante da
campanha de denúncias. “Ao contrário do que pensam os adversários desse projeto
de país mais justo, não vamos nos intimidar”, disse, convocando à unidade para
futuras lutas, como a defesa dos 10% do PIB para a Educação, a redução da
jornada de trabalho e a “superação de uma situação de monopólio da mídia e do
capital financeiro”.
Vagner Freitas, presidente da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), acusou a elite de querer “vencer no tapetão”, por não
digerir o fato de Lula ter feito o melhor governo do país. “Essas perseguições
que estão acontecendo são contra a democracia. A CUT está preocupada com isso.
A elite percebeu que não consegue vencer as eleições e resolveu mudar as
regras, quer ganhar no tapetão, com o Poder Judiciário. Não vamos concordar com
isso. O que se tenta fazer é um golpe contra o que o povo decidiu nas urnas”,
apontou.
Já o novo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Rafael
Marques, disse que a oposição alimenta sentimentos de "mesquinhez, avareza
e raiva" em relação a Lula, que chamou de "patrimônio da classe
operária e da sociedade brasileira e internacional". Segundo ele,
democracia não se resume a eleições. “Democracia é ter dirigente sindical no
chão de fábrica, ter um sistema de comunicação brasileiro democrático, aberto
às entidades sociais. É preciso que exista mais gente escrevendo a história
contemporânea brasileira”, concluiu, afirmando que os movimentos lutarão contra
as denúncias reverberadas pela mídia. “1, 2, 3, é Lula outra vez”, encerrou,
puxando um coro espontâneo da plateia.
Da Redação,
Joana Rozowykwiat - Via Portal Vermelho
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