Lançado no final de
2012, o livro “A Ditadura Civil-Militar e a ´politicalha interiorana’: o caso
Halim Maaraoui em Nova Londrina-PR (1969)” vem atingindo boa repercussão tanto
perante o público acadêmico, quanto o leitor comum, interessado em conhecer a história
do Brasil e a do Paraná, em especial nos anos da Ditadura. Abaixo, prefácio
escrito pelo professor doutor Reginaldo Dias, do departamento de História da
UEM.
O livro pode ser
adquirido diretamente com o autor ou no site da Editora CRV: http://www.editoracrv.com.br/?f=produto_detalhes&pid=3642
Prefácio
Cassio Augusto
Guilherme, por intermédio de sua bem-sucedida pesquisa de mestrado, agora
convertida ao formato de livro, trouxe importante e singular contribuição aos
debates sobre a ditadura civil-militar brasileira.
No título da
dissertação de mestrado, o leitor é informado que a pesquisa investigou o
processo de cassação do prefeito de Nova Londrina, município do Noroeste do
Paraná, em 1969. De fato, com apenas três meses de exercício de mandato, o
prefeito Halim Maaraoui, acusado de ser subversivo, teve seu mandato cassado.
Uma inferência
apressada poderia levar à conclusão de que a contribuição apresentada por
Cássio Augusto Guilherme foi promover o deslocamento do debate sobre a ditadura
civil-militar dos grandes centros urbanos para a realidade das pequenas cidades
do interior do país.
Se fosse apenas isso, a
contribuição já seria bastante apreciável, visto que o foco privilegiado nos principais centros do
Brasil nem sempre permite entender as dinâmicas políticas em um país extenso e,
sobretudo, complexo como o nosso. O pesquisador, no entanto, foi muito além.
Por intermédio de uma
análise da história do referido município, demonstra como a ruptura promovida
em 1964 e o novo ambiente institucional do país entrelaçaram-se com as dinâmicas das elites regionais e com a
disputa pela conquista ou preservação do poder local. Mais significativo ainda
é o fato de desvelar como essas disputas incidiram no processo eleitoral.
Embora o Brasil vivesse sob o tacão de uma ditadura, os detentores do poder
procuraram erigir instituições que pudessem alimentar a imagem de que o país se
encontrava sob relativa normalidade democrática.
No início, efetuada a
“operação limpeza” patrocinada pelo primeiro Ato Institucional, não houve
modificação do sistema partidário e interrupção das eleições municipais de 1964
e do pleito para governo de estado do ano seguinte. Passada a eleição aos
governos estaduais é que foram extintas as antigas legendas e implantado o novo
sistema partidário. Houve, então, abolição das eleições diretas para presidente
e governadores, mas foram preservadas as eleições para prefeito (com exceção
das capitais e dos municípios das chamadas áreas de segurança nacional),
vereadores, deputados estaduais e federais e senadores.
Nos municípios do
interior, malgrado o rígido ambiente institucional, há registros de disputas
muito acirradas, que movimentavam eleitos e eleitores. A pesquisa divulgada por este livro demonstra
como a ideologia da segurança nacional e o aparato repressivo relacionavam-se
com essas frestas de participação política, sobretudo quando o resultado das
urnas ensejava deslocamentos no poder local.
Cássio Augusto
Guilherme, por meio de hábil análise, sustentada por acurada pesquisa documental
e bibliográfica, amplia as fronteiras da pesquisa sobre o período da ditadura
civil militar, não apenas por focalizar outros territórios geográficos, mas por
inserir temas e problemáticas ainda subestimados ou pouco explorados pela
literatura acadêmica.
Acompanhei a pesquisa
de Cássio Augusto Guilherme em suas diversas etapas. Já conhecia seu potencial
antes de seu ingresso no programa de Pós-Graduação em História da UEM, visto
que ele, mesmo sendo discente de outra instituição, freqüentava as atividades
do nosso Laboratório de Estudos do Tempo Presente. Ao compor a banca de
avaliação, foi uma satisfação ver que esse potencial foi traduzido em uma
sólida dissertação de mestrado. Mais recentemente, foi uma alegria verificar
que seu trabalho de pós-graduação, agora editado no formato de livro, tem
condições de atingir um público ledor mais amplo e fomentar o debate sobre
temas tão importantes.
Reginaldo Benedito Dias
- Dep. de História da UEM.
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