Esta semana foi exumado o corpo do saudoso ex-presidente
João Goulart.
O Jango, para os mais íntimos.
Jango foi deposto de seu cargo de presidente em 1964 pelos
generais da direita brasileira.
Sempre ela, a direita.
Mas os brasileiros gostavam de Jango.
Contudo, a voz brasileira foi calada pelo Ato Institucional
nº 5.
Mas sempre tem aqueles rebeldes que quebram tudo, fazem o
escarcéu.
Entre os principais nomes estava Chico Buarque de Holanda.
Não era só um filhinho de papai de família nobre do Brasil.
Não era só o sobrenome Buarque de Holanda herdado de seu
pai, o famoso historiador, Sergio Buarque.
Não era só um "homem cordial".
Era uma voz forte, com refrões fortes e provocativos.
Muitos deles, talvez a maioria, se tornaram documento
histórico.
Letras feitas para um período específico e que não queremos
cantá-las no futuro para outros ditadores.
Mas uma dessas músicas ainda é presente.
Presente, uma vez que a Lei da Anistia, anistiou, absolveu,
perdoou os nossos opressores.
Segundo eles (os agentes da ditadura) a Anistia é válida
porque o que houve no Brasil não teria sido bem uma ditadura, mas sim, uma
“dita-branda”.
“Apesar de Você” é a música de Chico que, talvez, mais
demonstra a sua insatisfação com o regime totalitário.
No segundo refrão da música Chico lança a sua profecia:
“Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De 'desinventar'
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar”.
A profecia de Chico Buarque se baseia na ideia que a
ditadura não poderia durar para sempre.
Perspicaz esse Chico. Já sabia que a ditadura tinha prazo de
validade.
Ele tinha noção do tempo e que feito uma “Roda Viva” “o
tempo rodaria num instante”.
Mas o que o nosso profeta da MPB não esperava era que o
ditador João Figueiredo, o adorador de equinos, anistiasse a si mesmo em agosto
de 1979.
Seria Chico um profeta charlatão?
Os juros que Chico queria cobrar junto com a população não
poderiam ser cobrados.
O grito não deveria ser mais contido.
O samba poderia voltar a ter luz.
Mas, a promissória fora rasgada. Como “cobrar dobrado cada
lágrima rolada”?
Como a tristeza poderia ser totalmente “desinventada” se
Figueiredo fez uma das suas últimas “ditadorices”.
Mas esta semana. Ah, esta semana!
Esta semana o corpo do Jango foi exumado.
A ministra Maria do Rosário me corrigiria e diria que não!
Quem foi exumada foi a Operação Condor!
Jango morreu de um suposto ataque cardíaco em 1976.
Suposto porque as probabilidades apontavam para um possível
assassinato, dado o contexto da época.
Em 2008 o ex-agente do serviço de inteligência uruguaio
Mario Neira Barreiro declarou que Goulart foi envenenado por ordem de Sérgio
Fleury, delegado do temível DOPS.
A autorização teria vindo do ex-presidente e ditador Ernesto
Geisel, protestante luterano, só por curiosidade.
Também em 2008, o primeiro militar foi reconhecido pela
Justiça brasileira como torturador durante a ditadura, era o coronel Carlos
Alberto Brilhante Ustra.
Mesmo com os arquivamentos de pedidos de reavaliação da Lei
da Anistia.
Mesmo com o parecer contrário à revisão da Lei da Anistia
pelo ex-procurador (graças a deus é ex) Roberto Gurgel e dos ministros do STF.
Mesmo com todos os votos dos veneradores de totalitaristas
de direita, as coisas parecem que estão caminhando.
Em 2012 foi instalada a Comissão Nacional da Verdade pela
presidenta Dilma Rousseff (que durante um tempo até pareceu a Comissão da “meia
verdade).
Mas, depois de um "chacoalhão" bem ao estilo
Dilma, a comissão parece trabalhar.
E quem vai enfrentar a presidenta?
Será que ser for provado o óbvio, isto é, o envenenamento de
Jango, vão revogar a Lei mais absurda e vergonhosa desta nossa nação?
Será que Chico Buarque vai poder com convicção cantar:
“Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro...”
Será Chico uma espécie de profeta ou bruxo?
Teria ele pacto com o diabo?
Sei lá!
Mas se tem, foi o mais perfeito pacto que se teve notícia.
Mas isso pouco importa porque o que esperamos mesmo é o dia
que eles “vão pagar é dobrado”.
Paulino Peres
Esse Paulino é um orgulho, muito bom.
ResponderExcluirEsse é o momento. Esse é um dos momentos de se cobrar o que foi feito de tão cruel em nosso Brasil. Grande Chico, grande visionário. A verdade tem que vir a tona, pois o Brasil viveu 21 anos na escuridão da ditadura, que de branda não teve nada, a não ser para os militares, pois para o povo, principalmente para os militantes ativos, ela foi muito cruel e desumana. Eu ouvi a seguinte frase essa semana: - Ele já morreu mesmo! Não vai mais viver, para que mexer com o ''defunto'', esse povo não sabe que Deus não gosta disso? E eu indaguei: - E todos os nossos ''irmãos'' que morreram lutando por um Brasil melhor, sem repressão, sem censura, por liberdade política devem ser esquecidos no cemitério também? Devemos passar uma borracha em cima de todas as atrocidades cometidas na ditadura, pelo simples fato de já ter ficado para trás, ou pelo simples fato de ter uma leizinha de merda que diga isso? E os culpados? Devem eles serem inocentados por que Deus ''diz'' na Bíblia que devemos perdoar o próximo? E onde estava Deus na hora que nossos irmãos eram torturados, machucados, espezinhados e mortos pelos militares? A justiça tem que prevalecer. Os culpados tem de aparecer. Os culpados tem que pagar. Espero ansiosamente o dia em que isso aconteça, mesmo que demore eu espero. Devemos honrar todos aqueles que nos honraram. E quanto a Lei da Anistia, que seja revogada essa porcaria. Belo texto, uma leitura muito gostosa, mais sobre um conteúdo muito amargo da nossa história.
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