Conquistada a condenação dos réus da Ação Penal 470, o
chamado mensalão, a Globo agora quer transferir o ônus do golpismo para o STF,
mais especificamente para Joaquim Barbosa. Não parece ser por virtude, mas por
esperteza, que William Bonner passou um minuto no Jornal Nacional de
quarta-feira (20) lendo a notícia: "Divulgada nota de repúdio contra
decisão de Joaquim Barbosa".
Por Helena Sthephanowitz*, na Rede Brasil Atual
Os ministros Ricardo Lewandowski (à esq.) e Joaquim Barbosa entram no plenário para julgamento do mensalão |Foto: Roberto Jayme |
O manifesto é assinado por juristas, advogados, lideranças
políticas e sociais repudiando ilegalidades nas prisões dos réus do mensalão
efetuadas durante o feriado da Proclamação da República, com o ministro Joaquim
Barbosa emitindo carta de sentença só 48 horas depois das ordens de prisão.
O locutor completou: "O manifesto ainda levanta dúvidas
sobre o preparo ou boa-fé do ministro Joaquim Barbosa, e diz que o Supremo
precisa reagir para não se tornar refém de seu presidente".
A TV Globo nunca divulgou antes outros manifestos em apoio
aos réus, muito menos criticando Joaquim Barbosa, tampouco deu atenção a
reclamações de abusos e erros grotescos cometidos no julgamento. Pelo
contrário, endossou e encorajou verdadeiros linchamentos. Por que, então,
divulgar esse manifesto, agora?
É o jogo político, que a Globo, bem ou mal, sabe jogar, e
Joaquim Barbosa, calouro na política, não. E quem ainda não entendeu que esse
julgamento foi político do começo ao fim precisa voltar ao be-a-bá da política.
O PT tinha um acerto de contas a fazer com a questão do caixa dois, mas parava
por aí no que diz respeito aos petistas, pois tiveram suas vidas devassadas por
adversários, que nada encontraram. O resto foi um golpe político, que falhou
eleitoralmente, e transformou-se numa das maiores lambanças jurídicas já
produzidas numa corte que deveria ser suprema.
A Globo precisava das cabeças de Dirceu e Genoino porque, se
fossem absolvidos, sofreria a mesma derrota e o mesmo desgaste que sofreu para
Leonel Brizola em 1982 no caso Proconsult, e o STF estaria endossando para a
sociedade a tese da conspiração golpista perpetrada pela mídia oposicionista ao
atual governo federal.
A emissora sabe dos bastidores, conhece a inocência de
muitos condenados, sabe da inexistência de crimes atribuídos injustamente, e
sabe que haverá uma reviravolta aos poucos, inclusive com apoios
internacionais. A Globo sabe o que é uma novela e conhece os próximos capítulos
desta que ela também é protagonista.
Hoje, em tempos de internet, as verdades desconhecidas do
grande público não estão apenas nas gavetas da Rede Globo, como acontecia na
ditadura, para serem publicadas somente quando os interesses empresariais de
seus donos não fossem afetados. As verdades sobre o mensalão já estão escancaradas
e estão sendo disseminadas nas redes sociais. A Globo, o STF e Joaquim Barbosa
têm um encontro marcado com essas verdades. E a emissora já sinaliza que, se
ela noticiou coisas "erradas", a culpa será atribuída aos
"erros" de Joaquim Barbosa e do então procurador-geral da República,
Roberto Gurgel.
Joaquim Barbosa, homem culto, deve conhecer a história de
Mefistófeles de Goethe, a parábola do homem que entregou a alma ao demônio por
ambições pessoais imediatas. Uma metáfora parecida parece haver na sua relação
com a TV Globo. Mas a emissora parece que está cobrando a entrega antes do
imaginado.
*é colunista da Rede Brasil Atual
Nenhum comentário:
Postar um comentário