'A gente não desconfiou', diz mãe de adolescente estuprada por preso Famílias dizem que se sentiram humilhadas após a descoberta.
Luciane Cordeiro
Do G1 PR, em Paranavaí
As famílias das meninas de 12 anos que foram assediadas por
presos em regime semiaberto em Paranavaí, na região noroeste do Paraná, afirmam
que estão desesperadas e se sentindo humilhadas. A mãe da menina que confessou
ter tido relações sexuais com um dos 16 presos que trabalhavam no Instituto das
Águas do Paraná diz que até essa terça-feira (5) não tinha desconfiado que a
filha se encontrava com um deles.
“Ela não é muito de conversar", só contou o
que aconteceu mesmo na hora que o delegado perguntou. Há um mês ela estava se
encontrando com o preso e há duas semanas teve a relação sexual com ele. A
gente não desconfiou de nada. Estou em estado de choque”, diz.
O Ministério Público Federal (MPF) investiga a denúncia sobre possíveis estupros
de duas alunas de uma escola estadual que teria sido cometido por presos que
estavam em regime semi-aberto. Em depoimento à polícia, uma delas confessou que
teve relação sexual com um dos detentos e a outra afirmou que apenas tinha
beijado um preso. Uma terceira menina também foi ouvida, mas, no depoimento,
ela negou ter tido contato com os presidiários. De acordo com a lei, mesmo que
a adolescente tenha conscentido a relação sexual, os suspeitos serão
responsabilizados por estupro à vulnerável porque a menina é menor de 14 anos.
As duas meninas que tiveram contato com os presos realizaram
o exame de corpo de delito na manhã desta quarta-feira (6). A mãe da menina que
mantinha um relacionamento com um dos presos há um mês questiona a segurança do
local e da região ao redor do colégio.“Ela não tem cabeça, não sabe o que é
certo ou errado. Eu não entendo porque esses presos estavam soltos ao lado de
uma escola, sem nenhuma segurança e nenhuma pessoa para vigiar”, questiona.
A mãe lembra que o mesmo grupo de presos estavam se
relacionando com outras mulheres do bairro, no entanto não imaginava que os
detentos assediavam as alunas da escola. “A minha filha disse que ele (preso) a
buscava de moto na frente da escola e iam para um terreno baldio. Depois que eu
soube disso peguei o celular dela e havia dezenas de mensagens trocadas. Eu nem
sei mais o que pensar”, desabafa.
Ele (preso) ligou e pedia para ela faltar aula, que ela
podia pular o muro para encontrar com ele do outro lado da rua" detalhou a mãe que denunciou os presos
O assédio dos presos a crianças e adolescentes de uma escola
estadual foi descoberto após a mãe de outra menina ter atendido a uma ligação de um dos detentos
na segunda-feira (4). De acordo com essa mãe, ela e a filha estavam
compartilhando o mesmo celular depois que o aparelho da menina foi roubado.
Por
isso, a filha passou o número para as amigas e uma delas repassou o número para
um detento. “Eu atendi a ligação e essa
pessoa pediu por ela, então eu fiz que era a minha filha e ele (preso) começou
a perguntar se ela era boazinha, se tinha irmão mais velho que a levava para a
escola, como era a relação com os pais e que se concordasse em se encontrar com
ele, o encontro seria muito carinhoso”, detalha a mãe que procurou a escola
para denunciar o abuso.
Ainda segundo ela, na terça-feira pela manhã, a mesma pessoa
voltou a ligar por duas vezes, em uma delas a patrulha escolar presenciou a
ligação. “Ele (preso) ligou e pedia para ela faltar aula, que ela podia pular o
muro da escola para encontrá-lo do outro lado da rua", acrescenta.
"Estou destruída e com medo de deixar as minhas filhas irem para o
colégio. Graças a Deus que não aconteceu nada com a minha filha, ela não chegou
a se encontrar com ele como as outras duas. Mas não sei como estaria agora se
não tivesse atendido aquela ligação”, declara.
As duas mães afirmaram ao G1 que a presença de homens
estranhos estavam incomodando as crianças da escola há algum tempo. A filha
mais velha de uma delas disse que alguns desses presos já tinham pulado o muro
da escola durante os intervalos de aula e se misturado aos alunos. “Na segunda eu
reuni a minha família e contei o que um homem tinha ligado e quis saber o que
estava acontecendo. Foi então que a minha filha de 14 anos deu o alerta e pediu
que eu procurasse a escola”, afirma a mãe que denunciou o abuso.
Os pais agora esperam por justiça e que a segurança seja
reforçada no local. “A partir de agora as meninas só vão para escola
acompanhadas pelo meu marido, não podemos mais achar que elas estarão seguras”,
aponta a mãe da menina que se encontrava com o detento há um mês. “Não acredito
que tirando os presos dali o problema será resolvido. Nós queremos que esses
que cometeram o crime sejam julgados aqui em Paranavaí e que recebam as penas
que merecem”, cobra a mãe denunciante.
Suspensão
A Secretaria da Justiça do Paraná (SEJU) informou que suspendeu
o convênio que mantinha com o Instituto da Águas do Paraná em Paranavaí pelo
período de 15 dias até que todas as irregularidades sejam apuradas.
Conforme a SEJU este foi um caso isolado e as
parcerias com empresas cumprem a Lei de Execução Penal (LEP) e é uma
oportunidade de promover a ressocialização dos presos
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