Não tenho dúvidas de que o ano de 2015 começará “mais pobre”
que o que termina. 2014 foi um ano, como devem ser todos, de muitas perdas e
não vou aqui relacioná-las, mas o janeiro de 2014 foi devastador: entre outros,
levou Eusébio e Pete Seeger.
Por Dr. Rosinha*
O mês de julho empobreceu a literatura brasileira, além de João Ubaldo e Rubem Alves, no dia 23, partiu Ariano Suassuna. |
“Conheci” o Eusébio em 1966. Tinha eu 16 anos e era
apaixonado por futebol. Torcia pelo ‘imbatível’ Santos de Pelé e, lógico, para
a seleção canarinha. Na Copa da Inglaterra, o Brasil perdeu de 3 a 1 para
Portugal e Eusébio, que foi o artilheiro da Copa com nove gols, fez dois destes
no Brasil.
Se Portugal perdeu Eusébio, nós, em março, perdemos Bellini
e Chico Anysio. Bellini foi zagueiro da seleção brasileira campeã do mundo de
1958. Foi o primeiro na história das Copas a erguer a taça com as duas mãos
sobre a cabeça.
Fui apresentado ao Chico Anysio quando fui apresentado à
primeira TV que entrou em minha casa. Imediatamente, tornei-me um admirador de
sua criatividade. Partiu e deixou-nos sem graça.
Não lembro o ano: despretensiosamente fui ao cinema assistir
a um filme que nada sabia a respeito. Fui por indicação de um amigo (Homero). O
filme se chama “This Land Is Your Land (Esta terra é sua terra)”. Foi vendo
esse filme que conheci Woody Guthrie e Pete Seeger.
Voltei ouvir falar de Pete Seeger anos depois quando ele
fazia shows em Londres para arrecadar dinheiro para exilados chilenos. Em 1995,
tomo conhecimento que Pete Seeger vai se apresentar no Teatro Paiol de
Curitiba. Fui até lá e conheci-o pessoalmente. Seeger é um dos homens
imprescindíveis, como define Bertolt Brecht.
Chocante a morte de Eduardo Coutinho, assassinado pelo próprio
filho. Conheci-o na redemocratização do Brasil. Quando ele volta do exílio e dá
continuidade às filmagens de “Cabra Marcado para Morrer”, interrompidas com o
golpe militar em 1964.
Sempre gostei de música e em fevereiro deste ano a morte
“calou” a guitarra de Paco de Lucía. Os amantes da boa música e principalmente
os amantes de Paco de Lucía guardarão, enquanto viverem, luto.
Não lembro o ano, mas fui apresentado a Gabriel García Márquez
por meio do “Cem Anos de Solidão. A partir daí passei periodicamente a conviver
com ele. As duas últimas vezes foram nas leituras de “Memorias de mis putas
tristes” e o livro autobiográfico “Vivir para contarla”.
O “Memorias de mis putas tristes” li de uma sentada só.
Estava em Buenos Aires quando comprei o livro e dirigi-me ao hotel. No quarto,
abri o livro e comecei a lê-lo esperando parar a chuva para ir jantar. Não sei
se a chuva parou, só parei de lê-lo para dormir.
Gabo deixou-nos em 17 de abril de 2014. Não tomei
conhecimento do segundo volume de “Vivir para contarla”. Será que está pronto?
Lendo critica literária conheci “Setembro não tem sentido”.
Ao lê-lo fui apresentado a João Ubaldo Ribeiro. Não fui um grande leitor, como
tampouco sou de qualquer outro autor, de João Ubaldo Ribeiro, mas gostei de
outros dois livros escritos por ele: “Sargento Getúlio” e “Viva o povo
brasileiro”.
O mês de julho empobreceu a literatura brasileira, além de
João Ubaldo, que morreu no dia 18, Rubem Alves nos deixou no dia seguinte (19)
e no dia 23 partiu Ariano Suassuna. Conheci Suassuna através do Movimento
Armorial (música), numa das minhas visitas a Pernambuco. A partir daí conheci
sua literatura, poesia e atividades políticas.
Duas grandes escritoras estrangeiras também nos deixaram: a
judia alemã Stefanie Zweig, aos 81 anos, e a sul-africana Nadine Gordimer, aos
90. Ambas com história pessoal de lutas contra o holocausto (Stefanie Zweig) e
contra o racismo (Nadine Gordimer).
Outro pernambucano, menos conhecido se comparado a Suassuna,
nos deixou meses antes: Jaime Leão, ilustrador. Conheci-o através das
ilustrações (de protesto) no Pasquim, Opinião e Movimento, jornais alternativos
da década de 1970.
Em todas as áreas há órfãos de 2014. Na história, Jacques Le
Goff (01/04) e Nicolau Sevcenko (13/08) deixaram muitos.
A lista é longa e não é possível retratá-la, mas é
necessário registrar que ao partirem vocês e outros como Rodolfo Konder, Jair
Rodrigues, José Wilker, Plínio de Arruda Sampaio, Eduardo Campos, Dirceu
Travessos, Hugo Carvana, Leandro Konder, Adib Jatene, Roberto Gómez Bolaños,
Joe Cocker, Alan Resnais nos deixaram mais pobres.
Por isso termino com um poema de Manoel de Barros (13/11):
“No fim da tarde, nossa mãe aparecia nos fundos do quintal: Meus filhos, o dia
já envelheceu, entrem pra dentro”.
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