Após haver governado as nações latino-americanas, a direita
vive uma situação de profunda ilegitimidade e isolamento políticos. O
descalabro destas elites conservadoras começou com a vitória de Hugo Chávez nas
eleições de 1998 e, desde aquele momento, o retrocesso manteve-se até hoje.
De acordo com o cientista político argentino Atilio Borón:
"Pode-se dizer que o ponto mais baixo deste ciclo decadente foi a derrota
da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) na Cúpula do Mar da Prata, no
final de 2005".
Hoje existem governos de esquerdas em países como Bolívia,
Venezuela, Equador e Brasil, e suas popularidades e reconhecimentos
internacionais justificam o acertado de suas políticas: combate à pobreza, luta
contra o narcotráfico e a violência civil, e numerosas medidas sociais.
Outra de suas fortalezas tem sido a acertada política
exterior. Isto tem permitido colocar-se à altura das potências e pôr na agenda
mundial os interesses dos países latino-americanos.
Os mecanismos de integração regional, segundo adverte Borón,
“têm sido, por sua vez, os meios para se conseguir uma verdadeira coalizão
entre estas nações e defender-se dos Estados mais reacionários e da minguada
hegemonia de Washington no continente”. No entanto, apesar da direita ter
preferido se retirar a lamber suas feridas no campo da alta política
continental, tenta retomar seu antigo poderio.
Os meios e estratégias são diversos; às vezes, por exemplo,
são realmente burdos: o golpe de Estado e a promoção da violência civil. Uma
ação deste tipo ocorreu na Venezuela no ano de 2002, para derrotar Hugo Chávez,
mas a resistência popular frustrou a intentona.
Na Bolívia (2008) e no Equador (2010) os golpes contra os
governos de Evo Morales e Rafael Correa terminaram em fracasso; diferente dos
casos de Honduras (2009) e do Paraguai (2012). Nas eleições de 2013, a direita
voltou a morder o pó na Venezuela e esta derrota levou a que incentivasse um
processo desestabilizador, cujos resultados mais notáveis têm sido fortalecer o
governo.
“Quando estas tácticas não dão resultado se recorre a
estratégias mais sutis”, explica Emir Sader, destacado sociólogo
brasileiro."Recentemente passou a promover a Aliança do Pacífico (AP) como
uma alternativa em oposição ao Mercosul e à Unasul", segundo o acadêmico
carioca.
"A AP promove um tipo de integração regional baseada no
livre comércio, muito apegada ao consenso que Washington quer restituir na
região". Outra estratégia implica promover novos rostos, como os dos
venezuelanos Henrique Capriles e Leopoldo López.
É precisamente no âmbito do discurso onde aparece um novo
matiz, segundo explica Alfredo Serrano, diretor do Centro Estratégico
Latino-americano Geopolítico (Celag), da Espanha.
Para políticos como o argentino Sergio Massa, o venezuelano
Henrique Capriles e o equatoriano Mauricio Rodas uma tática é
"distanciar-se" dos partidos tradicionais.
"O que têm em comum Massa, Capriles e Rodas?"
-pergunta o analista. "Tentam apresentar um novo momento, um estágio
superior: o da pós-política, o de achar que todas as discussões são técnicas ou
tecnocráticas e não políticas".
"Massa, Capriles e outros políticos preferem discutir
questões como a redução dos impostos, a luta contra a insegurança, mas, nos
debates sobre despesa social, compreendem que a política das Missões na
Venezuela ou Atribuição Universal por Filho, na Argentina, são extremamente
populares".
"A nova direita se dá conta de que tem que tentar
captar a maioria vencida pela esquerda latino-americana para recobrar sua
hegemonia", conclui.
Mas as sociedades latino-americanas pedem que suas
democracias distribuam melhor as riquezas que geram e que se feche a brecha
entre ricos e pobres, em lugar de torná-la crônica.
Os povos americanos pedem que os dirigentes tenham
verdadeira preocupação pela pobreza e marginalidade, e não mera retórica
eleitoral.
Borón, Sader e Serrano concordam em que os partidos e
dirigentes que não compreendam esta mudança no clima da época e na agenda de
reivindicações sociais perderão irremediavelmente nas urnas, recusados pelas
maiorias que exigem de seus mandatários bem mais do que lhes exigiam há algumas
décadas.
Fonte: Prensa Latina
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