Dallari entregou o relatório final da CNV ao presidente do Senado, Renan Calheiros |
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Pedro
Dallari, fez um apelo nesta quinta-feira (11) para que o Senado se comprometa a
cobrar das Forças Armadas o reconhecimento pelas violações aos direitos humanos
cometidas entre 1964 a 1985. O pedido foi feito durante audiência pública da
Subcomissão Permanente da Memória, Verdade e Justiça e teve apoio do presidente
do colegiado, senador João Capiberibe (PSB-AP).
Para Dallari, o Senado que sempre recebe em Comissões e em
audiências públicas representantes militares tem dever de se envolver nessa
luta. “ É importante colocar na pauta do Senado e da Câmara, nesse diálogo com
as Forças Armadas, questionar o porquê de as Forças Armadas não reconhecerem
que houve esse quadro. O silêncio do Senado, o silêncio da Câmara acabará
reforçando essa ideia de que esse assunto se esgota no relatório da comissão”,
alertou.
O coordenador disse ainda que não tem dúvida do compromisso
democrático das Forças Armadas contemporâneas. Por outro lado, ressaltou que
depois de expostos todos os fatos que constam no relatório, o silêncio gera uma
“eloquência enorme”. Ele avaliou que o Brasil só terá certeza que nunca mais
atos como os praticados na época da ditadura voltarão a acontecer quando houver
reconhecimento dos crimes cometidos. Só assim, segundo Pedro Dallari, essa
parte da história do Brasil será superada.
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade ressaltou
ainda os empecilhos criados pelas Forças Armadas na busca por vítimas do
período. Instalada em 2012, a CNV só identificou três dos desaparecidos.
Essa também foi a maior frustração do relatório na opinião
de Wadih Damus, presidente da Comissão Nacional da Verdade do Rio de Janeiro.
“Não podermos dizer aos familiares onde estão os desparecidos políticos, onde
foram enterrados, onde estão seus corpos”, lamentou ao dizer que com o fim dos
trabalhos da Comissão Nacional, caberá as Comissões Estaduais e ao Ministério
Público dar continuidade às investigações.
Para Wadih Damus é preciso lutar para que as recomendações
feitas no relatório se transformem em políticas públicas. “Embora a atual
geração de militares não tenha participado da barbárie dos anos 70, o silêncio
[de agora] faz com que ela se torne cúmplice, porque acoberta os crimes de seus
antecessores”, afirmou.
Já Gilney Viana, coordenador do projeto Memória e Verdade,
da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, apontou como
ponto fraco do trabalho da CNV a ausência de dados sobre a violência sofrida
por camponeses e povos indígenas.
Sobre esse ponto Pedro Dallari disse que apesar de
reconhecer que 8,5 mil índios morreram naquela época, por todas as dificuldades
de levantamento de dados, a CNV não teria condições de analisar os casos, por
isso, segundo ele, foi uma decisão prudente dar destaque aos 434 casos, em que
foi possível ter acesso a mais informações.
Fonte: Agência Brasil
Via: Portal Vermelho
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