Eu estou pensado em escrever um artigo que esclareceria de
uma vez por todas essa celeuma que envolve as urnas eletrônicas e as acusações
de fraude que as cercam. Mas ao mesmo tempo eu fico imaginando se valerá a pena
eu me debruçar sobre esse teclado e digitar durante 20 minutos ou mais, onde,
terei que, em respeito aos meus princípios e aos meus leitores, focar
exclusivamente em fatos reais, porém ter a certeza de que depois irei perceber
que muitos já estarão cuspindo maribondos mesmo sem ter lido o texto, ou na
íntegra, ou com a atenção que mereceria, ou ainda, caso leiam com a devida
atenção, suas interpretações estarão contaminadas por seus vieses de
confirmação.
Ao pensar nessas hipóteses me veio à memória duas situações
que, apesar de distintas, sintetizam bem essa ideia.
A primeira lembrança que tive foi relacionada aos livros de
cânticos que são entregues nas entradas das igrejas. Explico.
Quando vou à missa percebo que na entrada da igreja ficam
aquelas senhorinhas entregando aqueles livretos onde, com todo o carinho elas
os organizaram, chegaram a fazer reunião num dos dias da semana para
certificarem-se de que tudo sairá nos conformes para os momentos exatos em que
os cânticos serão entoados durante a missa. Pois bem, quando finalmente chega o
momento para os livretos serem usados, que é quando o celebrante avisa, “abram
todos o livro de cânticos na página x” ocorre algo inusitado, ao menos para
mim, pois, a maioria das pessoas já conhecem os louvores, portanto, abrem o
livreto na página determinada mas se quer lançam os olhos sobre sua letra,
afinal não há necessidade para isso e, aqueles que não sabem a letra do louvor,
que na maioria das vezes é o meu caso,
acabam por ler a letra mas esquecerem-se de entoá-lo em alto e bom som.
Resumindo, todo aquele trabalhão feito com tanto carinho por aquelas senhoras
acabam sendo em vão.
Outra lembrança que tenho sempre que me disponho a escrever
um texto para postar, seja no meu blog ou no grupo que administro no Facebook,
é a de uma passagem que vivi logo no inicio de minha carreira profissional.
Naquela ocasião eu tinha meus tenros 19 anos e fui admitido
para trabalhar no extinto banco Nacional, banco esse que pertencia ao saudoso
Jose de Magalhães Pinto. Muito bem, estando eu com apenas alguns meses de
trabalho naquela instituição financeira na função de escriturário, comecei a
observar algumas deficiências que, como é normal em quase toda empresa, passava
despercebida por aqueles que ali trabalhavam há muito tempo, esse é um
“fenômeno” normal, pois é inerente ao ser humano se adequar ao meio em que
vive. Porém, como eu estava quase me formando em administração na época,
resolvi tentar implantar na pratica do meu trabalho tudo o que eu havia
aprendido na teoria das salas de aula.
Peguei minha velha olivetti e passei para o papel todas as
minhas ideias de melhorias que eu considerava pertinentes a serem implantadas
naquela agencia. Depois de muito tempo e umas seis páginas digitadas, consegui
transferir para o papel todas as ideias pré-concebidas.
Naquela manhã, quando o Sr. Lourival Lourenço, que era nosso
gerente de serviços chegou, eu fui até sua sala e perguntei se ele teria alguns
minutinhos para ouvir umas ideias que eu havia tido para a melhoria da nossa
agência. Prontamente ele disse que sim, pediu para que a dona Cristina
trouxesse dois cafezinhos e mostrando-se muito interessado pediu para que eu
falasse sobre elas. Aí eu falei que faria um breve resumo de todas as ideias
que eu tinha e ele falou que estava ótimo para ele. Pois bem, falei superficialmente
sobre as propostas e ele mostrou-se muito interessado, extasiado diria eu. Ao
final ele levantou-se, bateu nas minhas costas e disse: Dagmar, você é um jovem
de futuro nessa instituição. Por favor, passe essas ideias para o papel que eu
as levarei para o nosso gerente geral, mas de antemão posso garantir-lhe que,
se não em sua totalidade, pelo menos 90% do que você sugeriu será implantado,
não somente nessa, mas em todas as demais agencias Brasil afora, pois essas são
deficiências generalizadas dessa instituição.
No outro dia logo cedo eu fui até a sala do gerente de
serviço, e deixei sobre a mesa o envelope com as seis páginas endereçadas ao
Sr. Lourival Lourenço. Ele chegou no horário costumeiro, cumprimentou todos e
foi para sua sala. Eu já havia terminado de fazer a soma dos cheques da
compensação do dia anterior, que era minha primeira atividade do dia, depois
que a agencia abria meu trabalho era o de atualizar em tempo real todas as
movimentações feitas nas contas dos nossos clientes. Isso mesmo era tudo feito
manualmente, não existiam computadores, e as contas correntes eram controladas
em papel cartolina onde constavam cinco colunas. A primeira era a da data, a
segunda do histórico, a terceira dos créditos, a quarta dos débitos e finalmente
a quinta, era onde ficavam os saldos. Isso tudo era feito manualmente.
Pois bem, passaram-se algumas horas, o gerente de serviço já
havia entrado e saído umas 50 vezes de sua sala, mas nada de me procurar. E
assim foi até o horário de fechamento da agencia. Quando todos já haviam se
retirado, ele sempre era o último a sair, eu o esperava logo na saída. Lá veio
ele, com um semblante sério, como sempre e, ao me ver perguntou o que havia
acontecido. Como ele não mencionou nada sobre o que havíamos tratado no dia
anterior eu me antecipei e perguntei-lhe o que ele havia achado das ideias. Ele
respondeu que começou a ler, mas como era muita coisa pediu para que eu fizesse
um resumo e entregasse para ele no outro dia. Pois bem, sai dali às pressas e
fui para a faculdade, cheguei em casa por volta das 23:00 hs. Tomei um banho e
de volta à minha velha olivetti consegui reduzir de 6 para 3 as folhas. No outro dia logo cedo se seguiu o mesmo
ritual de sempre, eu chegava até a agência, batia meu cartão tomava um cafezinho
rápido e ia até a tesouraria pegar o chumaço de cheques para conferir a
compensação. Depois de umas duas horas, quando o banco abria para os clientes
lá ia eu de volta para o controle das contas correntes. Lá pelas tantas o Sr.
Lourenço me chamou até a sua sala e lá fui eu todo animado, chegando lá ele
pediu os tradicionais 2 cafezinhos para a dona Cristina, mandou que eu me
sentasse e disse: “Dagmar, suas ideias são muito interessantes, mas eu preciso
que você me faça um favor. Faça um novo resumo, mas coloque somente aquilo que
conversamos no primeiro dia”.
Resumindo, de que valeriam minhas ideias, ou melhor, do que
valeu todo o meu trabalho em chegar da faculdade depois de um dia estressante e
detalhar em seis folhas colocando tim tim por tim tim cada um dos passos para a
instalação de melhorias se, no fundo, nada do que eu havia dito teve alguma
importância para o gerente.
E assim também acontece por aqui. De que adiantará eu tentar
provar que quase tudo o que é dito sobre as fraudes nas urnas eletrônicas são
fantasias daqueles que ainda não aceitaram a derrota?
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