Emicida - Foto - Divirta-se |
Via Portal Forum
Em relato no Facebook, rapper conta como o reconhecimento de
seu trabalho não impede que sofra racismo. “Depois de ter tirado todas aquelas
fotos, ter saído de uma entrevista, indo renovar o passaporte pra tocar na
gringa outra vez, com a cara na capa da revista e tudo mais. Nada importa. O
taxista não era fã de rap. No final, a gente era só dois pretinhos”, escreveu
Por Redação
Na última terça-feira (21), o rapper Emicida utilizou sua
página no Facebook para expor caso de racismo do qual foi vítima, ao lado de um
amigo também negro. Ele conta que, apesar de todo o reconhecimento dos fãs nas
ruas, três taxistas se recusaram a transportá-los – chegaram a descer do veículo
de um deles, que não queria levar “dois passageiros no banco de trás”
“Depois de ter tirado todas aquelas fotos, ter saído de uma
entrevista, indo renovar o passaporte pra tocar na gringa outra vez, com a cara
na capa da revista e tudo mais. Nada importa. O Taxista não era fã de rap. No
final, a gente era só dois pretinhos”, escreveu o artista.
Rapidinho.
Que cena foda aquela do filme do James Brown no final, onde
ele foge da polícia e ao ser enquadrado, quando abre a porta e desce do carro,
ele volta a ser apenas uma criança, um pretinho. Isso foi muito forte pra mim.
Tava ali hoje com meu parceiro Djose, fui resolver umas
pendências no cartório por que segundo semestre tem uns shows pela europa de
novo, tudo rapidinho no cartório.
Passamos na lotérica pra pagar umas contas, mesma coisa de
sempre, umas fotos, umas piadas, faz uma rimaê Emicida, todo mundo ri e volta
pros seus universos.
Detalhe – a menina da lotérica pergunta em choque - porque
ele está escondendo o rosto? Isso devido ao fato de ele estar de boné, haviam
outras três pessoas de boné na lotérica
( comigo quatro ) e quem adivinhar a diferença entre elas e
o Djose ganha um brinde.
Sem novidade.
Fióti me chama pra ir ao escritório assinar um documento, eu
que estava a pé naquele rolêzinho pela norte, pra agilizar resolvo pegar um
táxi. Selfie com o menino do posto de gasolina.
Djose acena pro primeiro que passa, ele diminui a
velocidade, olha bem pros dois pretos e acelera de novo como se não tivesse nos
visto. Foda-se, rimos e continuamos, afinal existem centenas de taxis na
cidade, certo?
Vem um ciclista e pede pra tirar foto, é fã e está
emocionado. Da hora.
O segundo táxi que vem, idem, avalia o freguês e acelera de
novo. Aí já ficamos mais sérios. Deixou de ser uma piada.
Chegamos a um ponto de táxi, freia um eco-sport ao lado do
táxi, era outro fã, me comprimenta, eu retribuo, viro pro taxista, mando meu
boa tarde e pergunto se o taxi dele está livre, ele atua no procedimento
padrão:
- Pra onde você vai?
Respondo o bairro e ele destrava a porta.
Entramos e sentamos no banco traseiro, ele nem liga o carro,
vira e diz que não podem ir duas pessoas no banco traseiro.
Eu pergunto de onde ele tirou isso e ele me responde que é
assim mesmo. Ponto final.
Nos recusamos a ir pro banco da frente e ele ainda sem ligar
nem o carro e nem o taxímetro pergunta:
- Qual o endereço exato de onde vocês vão.
Eu no auge da minha paciência digo o endereço e ele repete:
- Agora um dos dois passa pra frente.
Nos recusamos novamente e pergunto - qual o problema?
Silêncio.
Ele me pergunta o endereço exato novamente.
Eu pergunto qual o problema outra vez.
Ele vira, se nega a nos levar e silêncio.
Dei umas xingadas e desci do carro.
Uma menina acena e grita:
- parabéns pelo trabalho, sou fã!
Agradeço sorrindo automaticamente.
Então fomos, eu e Djose procurar outro táxi, debatendo sobre
como é foda isso ainda ser tão normal.
Fiquei pensando nessa cena do filme do James Brown, o rei do
soul, do funk, uma das mais influentes figuras do século 20, mas na hora do
enquadro, o policial não era fã de Soul. E então, James Brown era só mais um
pretinho.
Depois de ter tirado todas aquelas fotos, ter saído de uma
entrevista, indo renovar o passaporte pra tocar na gringa outra vez, com a cara
na capa da revista e tudo mais. Nada importa. O Taxista não era fã de rap. No
final, a gente era só dois pretinhos e como Gil e Caetano cantaram em Haiti,
todos sabem como se tratam os pretos.
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