O estopim que acendeu a guerra de Canudos foi mesquinho e abominável, revelando personalidade doentia e escandalosa de quem perpetrou calúnia hedionda contra os membros da comunidade mística fundada no adusto sertão baiano, cujas características quanto às conquistas humanas impressionam devido ao grau de organização, tendo beneficiado a todos que lá se acomodaram, fugindo da fúria do latifúndio e da prepotência dos senhores de braço e cutelo que vicejavam de forma proeminente no sertão nordestino daquela época.
Arlindo Leone, juiz de direito de Juazeiro (BA), forjou
mentira de que os conselheiristas estavam prestes a invadir a cidade, em razão
que não havia sido entregue lote de madeira, comprado e pago regiamente, o qual
estava destinado para o término da construção da igreja nova. Havia antiga rixa
entre o magistrado e o líder carismático-religioso de Canudos. Conselheiro,
certa vez, tinha passado reprimenda no juiz devido vida pregressa levada por
Arlindo Leone, sobretudo com relação ao adultério. Colocando a população, as
autoridades e a imprensa em polvorosa, Leone criou as condições necessárias
para a futura destruição do arraial que mudou a vida de muitos excluídos
nordestinos, pois abrigava gente de várias procedências, ávida por melhores
condições de sobrevivência material e espiritual em um sertão extremamente
marcado pela opressão.
A igreja católica, que também não via o Belo Monte com bons
olhos, cerrou fileiras nas denúncias contra o “reduto fanático”. Anteriormente,
relatório elaborado pelo Frei Monte Marciano, altamente desagradável e cheio de
adjetivos caluniosos, profuso na quantidade de violência verbal inaudita contra
os habitantes do arraial conselheirista, alimentou ainda mais a raiva nutrida
pelo clero contra Antônio Conselheiro e seus seguidores.
Agrupamento do 4º batalhão da policia militar da Bahia
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Mentiras, calúnias e difamações começaram a ser
exponencializadas contra o arraial, agora considerado mais que maldito, pois
entre as muitas inverdades divulgadas estava referente que a luta em Canudos
estava ligada à tentativa de restituição do regime monárquico. Apenas uma voz
respeitada se levantou contra a histeria coletiva que se formava em torno do
caso Canudos. Através de espaço que lhe era reservado na imprensa, Machado de
Assis pediu, com profundo humanismo, para que deixassem em paz a gente de
Antônio Conselheiro. Por outro lado, artigo inflamado, disfarçado em profunda
cientificidade, sobretudo com relação ao quadro natural, era escrito por
Euclides da Cunha, intitulado “Nossa Vendéia”.
Euclides da Cunha
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A capital catarinense, que
antes se chamava
Desterro, teve o
topônimo mudado para
Florianópolis. A terceira expedição foi confiada a Moreira César. De
forma arrogante, o corta-cabeças, como ficou conhecido o famigerado oficial,
chegou com sua tropa nas imediações de Canudos, destilando desdém contra os
conselheiristas. Logo a guarda católica mostrou que não era de brincadeira,
pois comandados por Pajeú, infringiram vergonhosa derrota à expedição que havia
propalado com alarde a fácil destruição de Canudos, de forma imediata e fulminante, tendo divulgado
na imprensa que não haveria chance alguma para àqueles “lombrosianos”
sertanejos, incapazes de fomentar qualquer estratégia de guerra Era essa a
errônea e distorcida concepção do homem que era tratado como estrela pelos
militares aliados de Floriano Peixoto.
Moreira César |
Igreja de Bom Jesus
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A quarta expedição, comandada pelo General Arthur Oscar,
levou desvantagem nítida quando dos combates, razão pela qual foi engrossada
por uma quinta expedição vinda de todos os Estados brasileiros.A chegada da
participação militar paraense em Canudos demonstrou o grau de decisão do povo
do Conselheiro. O beato já tinha morrido, mas, incansáveis, os guerrilheiros
continuavam impávidos defendendo o território no qual encontraram sonhada
felicidade.O comando militar paraense não entendeu a razão por que o General
Dantas Barreto se encontrava em posição de espera.
Conselheiro morto |
General Arthur Oscar
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CARDOSO, José Romero Araújo. Notas para a História do Nordeste. João Pessoa/PB: Editora Ideia, 2015. P. 26-29.
*José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-Adjunto IV
do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Fonte: Seminário cariri cangaço
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