Em 1º de setembro de 1939 teria começado a maior guerra da
humanidade, a Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha de Adolf Hitler invadiu
a Polônia. Na verdade, ela começou antes, com a agressão do Japão à China.
Discursando em uma gigantesca manifestação da campanha do
Partido Comunista do Brasil (então com a sigla PCB) pela Assembleia Nacional
Constituinte, que seria instalada em 1946, em 21 de agosto de 1945, em frente à
estátua de Rio Branco, na Esplanada do Castelo, o histórico dirigente comunista
Maurício Grabois afirmou que aquele comício era, antes de tudo, uma festa de
todos os povos livres, amantes da paz e da liberdade, dos comunistas do mundo
inteiro que contribuíram decisivamente para o esmagamento militar do
nazi-nipo-fascismo.
Grabois saudou os soldados que lutaram em todos os fronts,
em especial o Exército Vermelho, “e, para glória nossa, os bravos rapazes da
Força Expedicionária Brasileira, heróis de Monte Castelo”. “Mas esta festa, que
é do povo e do proletariado, significa que pesa sobre nossos ombros de
comunistas novas e maiores responsabilidades. Porque, na verdade, o
nazi-nipo-fascismo foi esmagado militarmente, mas é preciso que nós liquidemos,
para sempre, o fascismo, moral e politicamente”, conclamou.
E prosseguiu: “Para isso, no período de desenvolvimento
pacífico que se abre diante de nós, temos que unir, concentrar todas as nossas
forças a fim de que não se abatam sobre os povos, em todo o mundo, novas catástrofes
como as que foram desencadeadas pelas forças do obscurantismo e da opressão.”
Política de Munique
No Japão, descrito por Maurício Grabois como “o último
baluarte do fascismo”, os derradeiros lances da guerra mostraram o peso das
armas soviéticas. “Na verdade, a contribuição da URSS foi decisiva: em onze
dias, o Japão caiu de joelhos diante das forças aliadas. Isto é, aliás,
significativo, principalmente para nós, porque o Japão foi o primeiro a iniciar
esta guerra contra os povos livres do mundo, atacando de surpresa e
monstruosamente o povo chinês, desarmado e pacífico. Esta guerra, portanto, não
começou em 1939: começou muito antes, até que se transformou, sob o ponto de
vista das democracias, numa guerra patriótica, de libertação e independência de
todos os povos amantes da paz e da liberdade”, afirmou.
Segundo Maurício Grabois, desde o início do conflito os
comunistas estiveram ao lado do povo chinês e de todos os povos. A voz dos
comunistas, em todo o mundo, constituiu uma tremenda advertência. “Com efeito,
os apetites do imperialismo nipônico não foram enfrentados e novas catástrofes
se abateram sobre o mundo. Hitler e Mussolini, como era natural, iniciaram sua
infame obra de divisão dos povos para com a quinta-coluna e seus exércitos escravizá-los.
Contra o divisionismo do nazi-fascismo, os comunistas em todo o mundo
levantaram ainda mais alto a bandeira da unidade dos povos, das democracias. Os
comunistas enfrentaram o perigo, sacrificaram suas vidas em todo o mundo, em
luta de morte contra Hitler e seus asseclas”, enfatizou.
No Brasil, disse Maurício Grabois, ainda estavam na
lembrança de todos o heroísmo e o patriotismo com que os comunistas enfrentaram
o nazi-integralismo. “Mas, infelizmente, nossa voz não foi ouvida. Os traidores
quebrantavam o ânimo de todos os verdadeiros democratas. Litvinov (Maxim
Maximovich Litvinov, ministro das Relações Exteriores soviético), na Liga das
Nações, batalhava pela paz indivisível, pela união de todos os antifascistas
contra Hitler. Mas, como sabemos, veio a política do capitulacionismo, de
concessões, a política de Munique, que entregou, através de Chamberlain
(primeiro-ministro britânico) e Daladier (primeiro-ministro da França), as
democracias aos seus piores inimigos, aos seus algozes. Apesar de todas as
provocações, os comunistas não traíram a causa da liberdade: lutaram contra
Hitler e seus sequazes”, afirmou.
Quando os nazistas atacaram a URSS, lembrou Maurício
Grabois, os povos soviéticos, sob a liderança dos comunistas, sabiam e souberam
enfrentar e derrotar o hitlerismo. “Deram um exemplo de como se luta realmente
pela liberdade. A guerra, a essa altura, se transformou numa guerra patriótica,
pela independência e libertação dos povos”, destacou.
Organização da FEB
O Partido Comunista do Brasil se empenhou com tenacidade na
luta anti-fascista e propôs a organização da Força Expedicionária Brasileira
(FEB), que lutaria em Nápoles, Itália. Com essa finalidade, o Partido abriu
duas frentes de trabalho — reforçou a União Nacional dos Estudantes (UNE) e
relançou a Liga da Defesa Nacional, entidade fundada em 1916 no Rio de Janeiro
pelos intelectuais Olavo Bilac, Pedro Lessa e Miguel Calmon, sob a presidência
de Rui Barbosa.
No dia 28 de novembro de 1943, o governo decidiu organizar a
FEB. “Fomos os primeiros a reivindicar a participação militar do Brasil e o
fizemos de maneira consequente”, segundo o histórico dirigente comunista João
Amazonas. As Comissões de Ajuda, criadas às centenas em todo o território
nacional, angariaram donativos, realizaram conferências e promoveram comícios
populares. Todo esse trabalho foi coroado com a organização da FEB.
O desembarque do primeiro escalão da FEB em Nápoles, Itália,
em 17 de julho de 1944, coroou o trabalho abnegado daqueles brasileiros que
olhavam para o futuro e imaginavam o país livre da ditadura do Estado Novo e
das ameaças nazi-fascistas. O Partido Comunista do Brasil mobilizou forças e
organizou grandes ações em favor desse objetivo. E, após o término da guerra,
enfrentaria seus efeitos.
No dia 9 de outubro de 1946, maurício Grabois, já como líder
da bancada do Partido Comunista do Brasil na Câmara dos Deputados, ocupou a
tribuna para denunciar o perigo que a guerra ainda representava. Ele reagiu,
indignado, às palavras de Gilberto Freyre (UDN-PE) que, “em nome da consciência
universal cristã”, protestou contra a pena de morte imposta aos criminosos nazista
julgados em Nuremberg. Grabois disse: “A clemência para com esses bandidos
nazistas em Nuremberg poderá significar, para o futuro, a morte de milhões de
homens livres.”
O líder da bancada comunista também denunciou a proibição da
entrada de judeus no Brasil pelo governo do general Dutra. “Ainda ressoa o eco
das bombas da última conflagração e os mesmos preconceitos, as mesmas
perseguições, ainda persistem no cenário mundial”, disse Grabois. “Hoje, após a
derrota do nazi-fascismo, vemos se levantar as tentativas dos imperialistas
norte-americanos e seus aliados para reacender a fogueira ateada por Hitler”,
afirmou.
Nascimento da “Guerra Fria”
A guerra mostrou ser um negócio lucrativo. Durante os anos
da Primeira Guerra Mundial, estima-se que os monopólios americanos obtiveram um
lucro líquido de US$ 38 bilhões. Durante a Segunda Guerra Mundial, o lucro
líquido foi de US$ 53 bilhões. Logo, uma violenta tempestade se formaria
debaixo da calma aparente do pós-Segunda Guerra Mundial. Enormes áreas coloniais
e semicoloniais do globo, agitadas com as novas esperanças de liberdade pelo
exemplo da vigorosa vitória das forças democráticas, estavam despertando e
ameaçando subverter a pesada estrutura do imperialismo. A revolução socialista
cintilaria na China e começava a irromper na Coreia.
Eram acontecimentos anunciados como o fim dos tempos, obras
de uma “conspiração moscovita”. O mundo capitalista, que se debatia nas garras
da crise antes do início da Segunda Guerra Mundial enquanto a União Soviética
embarcava em uma era de progresso, armava-se febrilmente para impedir o avanço
do socialismo. O mito-propaganda da “ameaça comunista” trazia de volta o
rame-rame dos velhos chavões que inundaram o mundo pelas ações do nazi-fascismo
no entreguerras. Era o surgimento da nova face do anticomunismo, a “Guerra
Fria”.
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