O cantor e compositor se apresentou na noite deste sábado
(31) durante a 18ª Jornada de Agroecologia, em Curitiba.
Para Odair, em momentos de retrocesso a arte não pode
permanecer omissa / Foto: Wellington Lenon.
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Lu Sudré
“Sou a favor da reforma agrária, da agroecologia, da
agricultura familiar e de tudo que se faz aqui”, disse Odair José minutos antes
de entrar no palco e se apresentar para centenas de participantes da 18ª
Jornada de Agroecologia. O evento acontece em Curitiba entre os dias 29 de
agosto e 1º de setembro e reúne agricultores de todo país em defesa de outro
modelo de agricultura.
Durante o show na Praça Santos Andrade, no centro da capital
paranaense, o cantor e compositor apresentou suas músicas mais conhecidas e as
faixas de seu novo disco “'Hibernar na casa das moças ouvindo rádio”, lançado
este ano. Ao longo da apresentação, Odair se manifestou em defesa da democracia
e da diversidade.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o cantor afirmou que o país
está enfrentando um de seus piores momentos.
“A democracia está mutilada no Brasil. Ela vinha tão bem…
começamos a ter governos democráticos. Mas veja o que aconteceu com o
presidente Lula. Isso é uma injustiça, um golpe, um preconceito. No momento não
existe democracia no Brasil”, ressaltou.
Para Odair, em momentos de retrocesso a arte não pode
permanecer omissa. “Não se pode fazer perseguições políticas, usar julgamentos
parciais para chegar ao poder. Para mim foi o que aconteceu”, disse, em
referência à prisão do ex-presidente.
“Se depender de mim, que é pouca coisa, vou falar isso por
aí. Quero ser o despertador na mente dessas pessoas que estão sendo manipuladas
por alguns setores da mídia e da sociedade”.
Odair José fez show durante a 18ª Jornada de Agroecologia e
se posicionou a favor da liberdade de Lula (Foto: Ton Cabano).
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Confira a entrevista na íntegra.
Brasil de Fato - O que te motiva a estar aqui nesta noite,
participando da 18ª Jornada da Agroecologia? Para o senhor, qual a relevância
desse espaço?
Odair José - Esse evento é de maior importância. Estou feliz
em participar. É a primeira vez que participo cantando mas sempre acompanho. Eu
acompanho a reforma agrária no Brasil desde a época do João Goulart, sou a
favor da reforma agrária, da agroecologia, da agricultura familiar e de tudo
que se faz aqui. Sou a favor do produto limpo, isso é o melhor para a
humanidade. Acho uma sacanagem tentarem brecar isso. Eu venho na esperança de
estar ajudando um pouco.
O Brasil passa por um cenário político conturbado, com a
retirada de muitos direitos sociais, e, inclusive com a paralisação da reforma
agrária. Qual o papel da arte em um contexto como esse?
Evidentemente cada pessoa tem o direito de não fazer nada ou
de fazer aquilo que acha que tem que fazer. Mas eu vejo que a arte não pode ser
omissa. Não podemos ficar em uma zona de conforto achando que está em um
arco-íris.
Se quem faz arte não sabe, tem que saber. A arte tem que
participar das coisas do seu tempo. Eu sou um compositor e não posso, nesse
momento, escrever algo como se estivesse tudo bem. Eu não me sinto bem fazendo
isso. Eu procuro fazer música, subir no palco, de uma forma que o meu trabalho
tenha relevância para o momento pelo qual meu país passa. E esse momento é
péssimo. A arte tem obrigação de saber fazer essa leitura.
Quais são os principais problemas que enxerga nessa
conjuntura, com o governo Bolsonaro?
Olha, tenho 71 anos de idade. Vi o que aconteceu em 1964.
Morei no Rio de Janeiro em 1968, participei de muita coisa ligada à resistência
naquele momento.
Acho que estamos vivendo uma época muito difícil, muito
triste. Na minha opinião, sem querer ser pessimista, talvez seja uma das piore
épocas que já vi.
A democracia está mutilada no Brasil. Ela vinha tão bem…
começamos a ter governos democráticos. Mas veja o que aconteceu com o
presidente Lula. Isso é uma injustiça, um golpe, um preconceito. No momento não
existe democracia no Brasil.
A alternância de poder é necessária. O que não se pode é
existir perseguição política, usar julgamentos parciais para chegar ao poder.
Para mim foi o que aconteceu. Se depender de mim, que é pouca coisa, vou falar
isso por aí. Quero ser o despertador na mente dessas pessoas que estão sendo
manipuladas por alguns setores da mídia e da sociedade.
Qual a perspectiva para os próximo período, tanto para a
arte quanto para a política?
Estamos vivendo um grande retrocesso no mundo… Por conta de
Donald Trump, Boris Johnson. Não sei porque o Brasil resolveu seguir isso. Não
vai ser bom.
As pessoas têm que entender o seguinte: Se o povo estiver
bem, não tem como a elite estar. A elite só vai ser uma classe privilegiada se
a outra ponta estiver mal.
Durante a Jornada, houve a apresentação de muitos artistas
populares. Eles identificam que o lugar da arte é no front da resistência. Além
dos agricultores, quilombolas e indígenas, outro grupo que esse governo odeia
muito são os artistas. É um momento de se aproximar aos movimentos populares?
Eu estou aqui hoje com o MST, na Jornada de Agroecologia,
porque acredito que temos que nos misturar com esse tipo de comunidade. Você
citou que o governo atual também é contra arte… ainda bem! Tudo que eles metem
a mão, atrapalham mais ainda.
Edição: Daniela Stefano
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