As baixas temperaturas que recaíram sobre Washington neste
fim de semana fizeram a cidade se parecer com aquela de exatos quatro anos
atrás.
Obama, nos retratos oficias do primeiro e do segundo
mandatos
Foto: Casa Branca/Pete Souza / Divulgação
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Mas à parte o capricho do tempo, que interrompeu um inverno
até agora ameno, há poucas semelhanças entre a primeira ocasião em que Barack
Obama foi juramentado como presidente dos Estados Unidos, em 2009, e esta.
Não há déjà-vu comparável às emoções da primeira vez.
Nenhum comentarista está esperando a mesma multidão de quase
2 milhões de pessoas que se espalhou pela grama do principal boulevard da
cidade, o Mall, em 2009, abarrotando-se do prédio do Capitólio até o monumento
ao presidente Abraham Lincoln.
Nem as celebrações e bailes para festejar a posse são tão
numerosos ou disputados como antes.
A rigor, a própria celebração pública é tradição e
formalidade. Obama foi empossado oficialmente em privado no domingo, no dia 20
de janeiro conforme manda a Constituição.
Mas a maior diferença está no Obama de agora, comparado com
o de quatro anos atrás.
O novo retrato oficial do presidente, divulgado pela Casa
Branca, comprova que às vezes uma imagem vale mais que mil palavras: o cabelo
do fotografado passou de preto para grisalho; as feições parecem ter corrido
mais depressa que o tempo cronológico.
Porém o olhar sério da primeira fotografia, tirada em uma
locação neutra com a bandeira americana por trás, deu lugar a um sorriso franco
e aberto, a um posicionamento espontâneo bem ali no despacho que o presidente
hoje conhece bem.
É como se sugerisse que Obama, quatro anos depois, se sente
em casa - em sentido literal e simbólico.
Transição
O "novo Obama" não esperou até o segundo mandato
para surgir: despontou logo em seguida à sua reeleição, no dia 6 de novembro do
ano passado.
Diante de cerca de 15 mil simpatizantes reunidos em um
centro de convenções em Chicago - onde quatro anos antes 200 mil pessoas se
apinharam a céu aberto para comemorar sua eleição -, ele indicou ter
compreendido o alcance da "segunda chance" recebida do eleitorado.
No primeiro mandato, Obama olhou para dentro e para fora.
Preocupou-se ao mesmo tempo com a frágil economia americana e com refundar a
relação dos EUA com o mundo, arranhada pelas guerras simultâneas da era George
W. Bush.
No segundo, o foco será inequivocamente doméstico, apostam
os analistas, conforme o recado das urnas.
Estas ecoaram reivindicações por uma reforma migratória
abrangente, a preocupação por salvaguardar os mais vulneráveis dos ataques da
ortodoxia fiscal, e o desejo de manter os avanços conquistados por grupos como
a comunidade LGBT.
A coincidência é que os EUA comemoram no dia 21 de janeiro a
figura do ativista negro e símbolo maior da luta pelos direitos civis no país,
Martin Luther King.
A ironia seria se Obama houvesse fracassado em obter um novo
aval do eleitorado. Nesta segunda-feira, o primeiro presidente negro da
história americana deixaria Washington derrotado.
A história foi diferente, mas nem por isso significou uma
carta branca do eleitor.
Em um artigo para o jornal Washington Post, a intelectual e
ativista negra Marita Golden defendeu que mesmo esse setor da população - onde
Obama teve 95% dos votos - deve abandonar a leniência com o presidente e
cobrá-lo mais no segundo mandato.
"Duas vezes votei por ele, não para que ele fosse um
símbolo, mas para que fosse meu presidente", escreveu a ativista. Agora,
disse, é hora de Obama deixar de ser apenas presidente para se tornar "um
verdadeiro líder".
Novo estilo e conteúdo
Das eleições para cá, Obama parece ter compreendido o
recado. Ele surfou na onda de sua própria relegitimização durante negociações
difíceis com o Congresso em questões fiscais, no fim do ano passado. O toma lá
dá cá terminou por permitir a elevação dos impostos para os americanos mais
ricos, preservando os programas sociais mais caros aos democratas.
Na semana passada, ele apresentou um conjunto de leis de
restrição às armas que visa a tirar vantagem de um momento único na história
americana, quando a maioria da opinião pública favorece um controle sobre
armamentos pesados, na esteira do massacre de Newtown, Connecticut, em
dezembro.
Agora se especula que o próximo empurrão do governo Obama
venha no campo da reforma migratória. O presidente poderia usar o seu discurso
sobre o estado da União, no dia 12 de fevereiro, para oferecer mais detalhes do
seu plano.
Espera-se que ele coloque o peso de seu cargo também a
serviço da consolidação da recuperação econômica e de energias mais limpas para
combater a mudança climática.
O "novo Obama" tem mais pressa, porque o eleitor
tem menos paciência. Ele aprendeu da maneira mais custosa.
Em 2010 utilizou grande parte do seu imenso capital político
para empreender uma histórica reformulação da saúde. A legislação passou sem
receber sequer um voto da oposição no Congresso. Nas eleições seguintes, os
democratas perderam o controle da Câmara baixa.
Fonte Terra
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