A denúncia do jornal “Folha de S.Paulo” contra o ministro Aldo Rebelo se adéqua ao perfil da velha piada: ''Deus sabe tudo, mas a mídia crê que sabe ainda mais''. Aldo Rebelo é uma figura de postura pública respeitada até por setores da oposição. O objetivo explícito é atingir uma referência do governo Dilma, com ampla respeitabilidade política e densa capacidade de articulação. Tal atitude reflete bem a conduta moral das famílias que controlam a mídia brasileira.
Por Osvaldo Bertolino*, no Portal Grabois
Estamos em crise outra vez? A julgar pelo que se lê, ouve e vê na mídia, a resposta inevitável é sim, sim e sim. Considere a matéria da Folha de S. Paulo contra o ministro Aldo Rebelo (Esporte), publicada nesta quarta-feira (24).
Segundo o jornal, ele usou um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para ir a Cuba no Carnaval com a mulher, o filho e assessores. Aldo Rebelo esteve em Havana em missão oficial e explicou, em nota, que a mulher e o filho foram convidados pelo governo cubano. A Folha revira o caso, desce a minúcias, vitupera e acusa, mas não consegue ocultar uma questão essencial: a intenção do jornal.
Desde que a irrefreável denunciamania foi deflagrada tão logo Luis Inácio Lula da Silva chegou à Presidência da República, ela chegou a um paroxismo histérico que nunca mais se desprendeu do noticiário. Um batalhão de jornalistas foi escalado pela mídia para explorar casos como esse envolvendo o ministro Aldo Rebelo. E, a partir daí, o que se viu foram jornalistas que no fundo amam os "escândalos" que parecem odiar. É que "escândalos" movem carreiras. Quem cobre "escândalos" conquista a notoriedade proporcionada pelas manchetes, tem a chance de transformar essa notoriedade em promoções dentro da redação e costuma arrebatar os mais importantes prêmios do jornalismo brasileiro.
Depois disso, vieram "escândalos" em série e muitos se revelaram capazes apenas de degradar a palavra "escândalo", dada sua miserável insignificância. Em um cenário assim, é fácil falar em crise. Tudo é crise, tudo parece o fim dos tempos. Mas se, a julgar pelo noticiário, vivemos uma sucessão infernal de crises — configurando uma profunda e estrondosa catástrofe política, moral, ética e econômica nacional — então por que será que elas, mal começam a pipocar, em pouco tempo desaparecem? A resposta: as crises não têm o tamanho que lhes estão atribuindo. O noticiário da Folha de S. Paulo, por exemplo, serviria bem como roteiro para um filme ao estilo Twister, com aquela sucessão de tufões. Crise para valer é aquela que tem começo, meio e um fim contundente e definitivo.
Onda denuncista
O episódio de Watergate, nos Estados Unidos da década de 1970, não parecia uma crise quando começou, mas ganhou corpo e terminou com o afastamento do ex-presidente Richard Nixon. Essa foi uma crise de verdade, como a desatada no Brasil pelas denúncias de Pedro Collor de Mello contra o irmão presidente: ela não arrefeceu de uma semana para a outra, e só terminou com o impeachment de Fernando Collor. Eis o problema: como tudo é tratado em tons apocalípticos, o cidadão fica diante de um mistério. Como reconhecer uma crise de verdade? Como distinguir o apocalipse de verdade do apocalipse fajuto? O que ontem parecia nitroglicerina pura, simplesmente some das conversas e do noticiário como se fosse um assunto secundário.
O fato de o atual governo produzir poucas surpresas também colabora para conduzir a um dilema "jornalístico": como encontrar fatos que, levados ao alto das primeiras páginas, motivem o cidadão e a cidadã a acreditar na velha e hipócrita "moralidade" udenista? É preciso distinguir o que são crises de fato ou apenas marola. Desde que Lula tomou posse, tivemos várias marolas e nenhuma crise real. O problema é que a aproximação da eleição de 2014 antecipou a campanha eleitoral. E daqui para a frente será preciso manter a calma para não confundir crises com episódios politiqueiros.
A origem da corrupção certamente não está onde essa onda denuncista tenta apontar. Sociedades inteiras podem viver ao lado do crime por muito tempo, fingindo tranquilidade enquanto a sujeira supostamente mora longe — neste caso brasileiro, em Brasília. Na Itália contemporânea, por exemplo, a máfia vivia na ante-sala dos melhores endereços. No Brasil, temos cadeias lotadas, polícia treinada para bater em vez de investigar, legislação desatualizada que torna as multas ridículas e uma condescendência reverencial diante de interesses poderosos. Tudo isso pode ser chamado de corrupção clássica.
Patacoadas "jornalísticas"
O problema é estrutural. É só ver as práticas de empresas que pagam viagens a jornalistas, oferecem coquetéis a analistas do mercado financeiro, entregam brindes vultosos a profissionais de compras. Tudo tratado como ações simpáticas destinadas a enaltecer a imagem junto a públicos-chave. Nenhuma contravenção. Tudo pode também, num piscar de olhos, constituir-se em uma sugestão safada da linha "é dando que se recebe". Ou, em outras palavras, constituir-se em corrupção.
A equação que sustenta esse teorema parece ser a de que os deslizes éticos, por sua proliferação ou institucionalização, têm origem na estrutura de classes do país — que se reflete na composição do poder político. Se as previsões estiveram corretas, veremos mais escândalos pipocando na mídia. E não porque ela tenha se tornado mais investigativa e comprometida com o cidadão da noite para o dia. Nem porque as somas arroladas nos casos denunciados sejam extravagantes. A proliferação de denúncias ocorrerá pelo simples e fundamental fato de que o Brasil entrou num cenário de reacomodação dos interesses de classes. A armadilha é imaginar que uma onda de moralidade despontou no horizonte.
Essas patacoadas "jornalísticas" envergonham os jornalistas autênticos. É que, segundo as sempre bem informadas autoridades em abobrinhas desses veículos, o que importa é criar ondas de boatos de toda ordem. E, para além da eclética e deletéria boataria, dissemina-se pelo país um sentimento de Armagedon. As "investigações" da mídia vão assim se transformando num dos episódios mais patéticos da história política moderna brasileira, com sua mistura de bravatas, foguetórios e pouquíssima substância.
Falso ético
Procurar imparcialidade nessa contenda é advogar a falsa ética de hoje, do falso bem, do mercado dos bons sentimentos. Caricaturalmente apontado como um lugar onde a ética nunca foi artigo de primeira linha — o país do "jeitinho" e da malandragem, onde impera a "lei de Gerson" —, o Brasil tem presenciado, nos dias atuais, uma espécie de fortalecimento da falsa ética. A ética é um dos maiores valores sociais. Mas a ética sofrida, conquistada em meio à coragem de assumir totalmente o que é humano. Não essa vigarice que existe por aí, amplamente acolhida pelos meios de comunicação da mídia.
Em defesa dessa hipocrisia, o falso ético usa o disfarce da ética como pele de cordeiro para potencializar sua ação perniciosa. Para ele, como suas teses são acompanhadas da verdade absoluta, não parece haver mais nada que a sociedade, o Estado, Deus, você ou eu possamos ou devamos fazer. É uma questão "objetiva" e acabou a história. A Folha de S. Paulo mesmo tem dados exemplos de sobra a respeito. Um dos mais significativos foi o apoio logístico, material e ideológico ao golpe de Estado em 1964 — em 27 de março de 1964, entes do golpe, ela publicou um editorial intitulado “Até quando?”, pedindo que o presidente da República, João Goulart, fosse deposto.
Hoje, com outro tom, o conteúdo é o mesmo. E não só no jornal dos Frias. O leitor, ou telespectador, ou ouvinte — sempre a grande vítima — se vê às voltas com um retrato desfigurado da realidade. O jornalismo de persuasão, feito à base de ideias, é suplantado pelo jornalismo de insultos, feito à base de gritaria e denúncias vazias. É o confronto entre o raciocínio e o berro. O mérito maior do primeiro tipo é o de levar as pessoas a refletir. Reexaminar certas questões. Já o segundo tipo é uma contribuição vital para fixar nos corações e mentes tolices e malignidades — de tanto ser repetidas elas acabam ganhando ares de fato estabelecido.
Cabra vadia
Quantas vezes, desde 2005, quando estourou a farsa do “mensalão”, não se ouviu a seguinte frase: o governo acabou? A mídia afirmou reiteradamente, no auge da histeria, que o governo Lula acabara. Acabara? Acabou? Um jornalista norte-americano certa vez disse que a falta de memória dos leitores era, muitas vezes, uma bênção. Por isso, o espetáculo não pode parar. "A tese de que as denúncias de corrupção envolvendo o governo e o PT seriam peças de uma conspiração golpista já havia surgido no início da crise", escreveu a Folha de S. Paulo em um editorial.
Segundo o texto, essa tese era tão fantasiosa quanto atraente para os que preferiam "explicar" os fatos de maneira esquemática e desconectada da realidade. "Hoje seria preciso um grau de alheamento descomunal para não perceber que a crise foi gerada pelo próprio governo, pelo PT e por seus aliados, que se enredaram numa trama de corrupção cujas características e dimensões poderiam perfeitamente estimular a oposição a se empenhar na abertura de um processo de impeachment do presidente", afirmou o editorial. Logo... Como diria Nelson Rodrigues, "um paralelepípedo analfabeto, uma cabra vadia ou um bode de charrete" saberia que Lula só não caiu porque seus adversários políticos preferiram “tratá-lo com benevolência".
Nelson Rodrigues usou essas palavras para ironizar, em 1968, um debate que se estabeleceu na imprensa sobre o seguinte tema: era melhor ou pior a introdução da TV em cores no Brasil? Como se vê, há toda uma tradição brasileira quanto a esse gênero de coisas. Ou seja: questões cujas respostas são óbvias, por interesses recônditos ganham dimensões universais. Agora, a ladainha é reanimada contra o governo da presidenta Dilma Roussef. Ela está ferida de morte, como disse a Folha de S. Paulo? Tiquetaqueia em solo nacional, como há pouco tanto se escreveu, uma "bomba-relógio"?
Má-fé cínica
Outro assunto que vem sendo discutido de forma oblíqua é a questão do baixo crescimento da economia. Primeira pergunta: esse é um problema? É. Segunda pergunta: é um problema só do governo? Não, não é. Mas agora: há sentido em reverberar à exaustão, como se fez há poucos dias, a palavra "bomba-relógio" para se referir ao país? Eis um caso em que se aplica a grande frase de Eça de Queiroz: ou é má-fé cínica ou obtusidade córnea.
No caso do ataque da Folha de S. Paulo ao ministro Aldo Rebelo trata-se de má-fé cínica, está claro. Ele é uma figura de postura pública respeitada até por setores da oposição. O objetivo explícito é atingir uma referência do governo Dilma, com ampla respeitabilidade política e densa capacidade de articulação. Logo que assumiu a presidência da Câmara dos Deputados, em 2005, Aldo Rebelo escreveu um artigo, publicado na própria Folha de S. Paulo em 2 de outubro daquele ano, afirmando que o Brasil tinha na mão “a chave certa para não só abrir novas portas como fechar de vez as velhas que ainda escancaram impenitentes percalços da representação política”.
A democracia representativa, ainda o mais adequado sistema político, estava sob fogo cerrado no mundo inteiro, escreveu ele. "Num ambiente em que florescem a manipulação e a avidez pelo controle da agenda pública, cresce a força dos derrotistas, que, a pretexto de apontar desvios, terminam por induzir à execração da política", disse. Aldo Rebelo também defendeu a construção de uma unidade nacional "colada por valores democráticos a cada dia mais aprofundados, para elevar o padrão de vida material e espiritual do povo brasileiro".
Ideias afônicas
A mídia, evidentemente, jamais aceitaria entrar nessa “unidade nacional” — ela está no polo ideologicamente oposto ao que aglutina as forças políticas interessadas no progresso do país. E exerce o poder que acumulou por vias escusas ditatorialmente. Na Folha de S. Paulo, por exemplo, que gosta de se vangloriar do seu "pluralismo", raramente alguém consegue emplacar algo que conteste sua posição ideológica. O jornalismo enquadrado por essa lógica vedada às ideias progressistas serve mais, como já foi dito, à liberdade de empresa do que à liberdade imprensa.
Ou seja: em primeiro lugar está a defesa do status quo e do poder político que se coaduna com sua ideologia. Há, evidentemente, jornalistas com poder de mando que são exceções a essa regra. Mas não passam disso: exceções. Nos anos 1980, em várias redações e assessorias de imprensa brasileiras havia um pôster com a imagem de Cláudio Abramo, com sua frase: "O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter". Hoje em dia, essa frase desapereceu.
O mundo do jornalismo agora é outro. Ignácio Ramonet, do Le Monde Diplomatique, chamou a atenção para uma evidência ao afirmar que nunca a humanidade esteve tão desinformada como hoje, apesar do torrencial fluxo de informação disponível. É que para esse modelo de imprensa, as ideias progressistas podem até existir, mas elas têm de permanecer afônicas.
Leia a íntegra na nota do ministro Aldo Rebelo:
"Viagem a Cuba foi a trabalho
A viagem do ministro Aldo Rebelo a Cuba foi amplamente divulgada pelos meios do próprio Ministério do Esporte e veículos da imprensa nacional e estrangeira.
Foi uma missão oficial. “Não fui passear em Cuba. Fui trabalhar, como mostra a agenda”, afirma Aldo. Durante os dias em que permaneceram em Cuba, os dirigentes do Ministério do Esporte cumpriram vários compromissos.
O ministro foi recebido pelo vice-presidente do Conselho de Ministros da República de Cuba, Miguel Díaz, e pelo vice-ministro das Relações Exteriores de Cuba, Rogerio Sierra e se reuniu duas vezes com o presidente e diretores do Instituto Nacional de Esportes, Educação Física e Recreação (INDER) e com a direção da empresa Cubadeportes. Além disso, o ministro do Esporte visitou a Universidade das Ciências, Cultura Física e Deporte Manuel Fajardo.
Nesses encontros, foi concretizada a criação de grupos de trabalho e intercâmbio entre Brasil e Cuba neste período de preparação dos atletas brasileiros e da infraestrutura esportiva do Brasil para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. O ministério do Esporte e o INDER assinaram o acordo que cria o Grupo de Trabalho de Acompanhamento do Programa de Atividades para o triênio 2013/2016.
O secretário Nacional de Esportes de Alto Rendimento, Ricardo Leyser, e o diretor executivo da Agência Brasileira de Controle de Dopagem, Marco Aurelio Klein, também concretizaram acordos de cooperação em Havana.
Cuba vai colaborar com o Brasil na formação de fiscais de controle de dopagem. No futebol, o Ministério do Esporte, em parceria com a Federação de Futebol do Rio de Janeiro, vai oferecer um curso de árbitros para os cubanos. Os três melhores classificados farão estágio na federação carioca. Além disso, estão sendo acertadas as condições para que jogadores de futebol da categoria sub 20 também sejam recebidos para treinamentos em clubes brasileiros".
*Editor do Portal Grabois - Via Portal Vermelho - http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=219537&id_secao=6
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