Pessoalmente, não gosto de “fulanizar” as questões políticas
e sociais, mas é impossível deixar de comentar os incidentes no casamento da
neta de um dos maiores empresários de ônibus do Rio, Jacob Barata, e o filho de
um dos maiores empresário de ônibus do Ceará, Francisco Feitosa.
É certo que qualquer um tem o direito de casar com quem bem
lhe aprouver. Mas quando dois grupos empresariais se unem para patrocinar uma
festa suntuosa para 1.200 pessoas no hotel mais suntuoso do Rio, o Copacabana
Palace, menos de um mês depois de a cidade se insurgir contra o preço das
passagens de ônibus, convenhamos, isso tem um quê – um imenso quê – de afronta.
Se os dois pombinhos, na pureza singela do seu amor,
tivessem o casamento como foco, poderiam ter feito uma cerimônia simples,
juntando amigos e famílias, em qualquer lugar digno e adequado.
Já fizeram a opção que fizeram, de esbanjar fausto e
riqueza, tinham, no mínimo, de saber que haveria reação pública.
A jornalista de celebridades Hildegard Angel já imortalizou
o evento numa crônica antológica, em seu Blog, chamando aquilo de uma bastilha
carioca, pelo fato de, além de tudo, ter se passado na madrugada do 14 de julho.
“Não têm pão? Comam bem-casados! Da varanda, convidados
rebatiam as provocações verbais atirando bem-casados na “plebe” (bem à la Maria
Antonieta, que ofereceu bolinhos, lembram?) e remetiam aviõezinhos de notas de
R$ 20 (aí, a inspiração já era mais próxima, à la Silvio Santos).”
O rapaz da foto, que se diz também neto de Barata, é um dos
que arremessava os ricos aviõezinhos contra a “turba”. Jogou também um cinzero,
que abriu um corte de seis pontos em um dos que protestavam.
À parte o fato de ser aquela uma festa de “parvenus”, ao
ponto de ser animada pelo “bundalelê” de Latino – sem falar no padrinho Gilmar
Mendes – aquilo foi um exemplo chocante da insensibilidade dos ricos.
Não lhes basta ter e poder. É preciso encantar e ofender com
tudo o que têm e podem.
E o pior é que seu exemplo contamina parte da classe média.
A mídia, por sua vez, amplifica e endeusa este modo de vida,
onde vale tudo pela riqueza e a ostentação passa a ser chamada de “objeto do
desejo”.
Constrói-se a falsa legitimidade do “sucesso” para sustentar
o direito ao privilégio socialmente cruel.
A vida passa a ser um imenso “Big Brother”, onde vale tudo
para ser o vencedor, muito embora o seu caminho fique juncado de “eliminados”,
fuzilados no “paredão” da selvageria das relações humanas.
Aliás, a palavra austeridade parece ter sido definitivamente
abolida da língua portuguesa.
E aí acaba acontecendo isso.
Isso e, um dia, uma maria antonieta ao revés:
Se não têm limites e respeito, que tomem tomates.
Por: Fernando Brito no Tojolaço.
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