Quase oito em cada dez brasileiros ouvidos pelo Ibope e pelo
Instituto Patrícia Galvão (78% dos entrevistados) para uma pesquisa sobre a
presença de mulheres na política defenderam a obrigatoriedade de uma divisão
com o mesmo número de candidatos e candidatas nas listas partidárias para
eleições.
Para 1,6 mil entrevistados, essa composição meio a meio da
lista de candidatos deveria ser obrigatória nas eleições para os legislativos
municipais, estaduais e federal. Os dados fazem parte do estudo Mais Mulheres
na Política, divulgado nesta terça-feira (9) em Brasília.
“O Brasil ocupa o 121º lugar com relação à participação das
mulheres na política em um ranking de 189 países”, destacou a socióloga Fátima
Pacheco Jordão, diretora do Instituto Patrícia Galvão e integrante da
Articulação de Mulheres Brasileiras. A lista revela que países como o Iraque e
o Afeganistão têm mais mulheres no poder do que no Brasil.
“Não estamos acostumados, nem no futebol, nem na economia, a
ter uma posição tão vergonhosa quanto esta. Se continuar neste ritmo, levaremos
150 anos para atingir a paridade [entre homens e mulheres em cargos políticos].
São 15 gerações”, alertou a socióloga.
O levantamento foi feito com base na resposta de mais de
duas mil pessoas com mais de 16 anos, entrevistadas entre 11 e 15 de abril
deste ano, em todas as regiões do país. Deste total, a maioria (mais de 1,4
mil) considerou fundamental a alteração nas leis eleitorais para garantir que
as mulheres representem a metade dos candidatos a cargos eletivos. Atualmente,
a legislação eleitoral brasileira reserva 30% das candidaturas para as mulheres
e apenas 10% do tempo de propaganda eleitoral para cotas de sexo.
No Senado Federal, entre 81 vagas, apenas 13 são ocupados
por mulheres, sendo que, atualmente, oito senadoras exercem ativamente a
atividade. Apenas uma das 11 comissões da Casa é presidida por uma senadora. Na
Câmara dos Deputados, das 513 vagas, 44 são ocupadas por mulheres e apenas uma
das 21 comissões permanentes é liderada por uma deputada. As mulheres ocupam
apenas 10% das prefeituras e representam 12% dos membros das câmaras
municipais.
A ministra Helena Chagas, que chefia a Secretaria de
Comunicação Social da Presidência da República, destacou que a pesquisa foi
feita meses antes das manifestações que tomaram, recentemente, as ruas do país.
“É espantoso o quanto as mulheres têm baixa representação nas instituições
polícas do país. O resultado da pesquisa mostra que todos reconhecem isso e que
a representação política do país não reflete a sociedade”, afirmou a ministra.
Helena Chagas lembrou que a população brasileira é formada
por mais de 52% de mulheres. “Se a mulher, hoje, tem participação expressiva no
mercado de trabalho, na política não institucional [em movimentos sociais e
empresas, por exemplo], essa presença não se reflete, ao menos numericamente,
no Parlamento”, completou.
A ministra de Políticas para as Mulheres, Eleonora
Menicucci, ressaltou o fato de a maioria dos entrevistados associar a
democracia a uma divisão mais equilibrada entre a participação de homens e
mulheres nas listas partidárias. “A pesquisa evidencia que não existe processo
democrático sem democracia de gênero e sem participação das mulheres.”
Os números divulgados mostraram que, para 74% dos
entrevistados, a garantia da democracia depende da presença de mais mulheres
nos espaços de poder e tomada de decisões e que quase 1,5 mil entrevistados
defendem punição aos partidos que não apresentarem uma lista com 50% de
candidatos e 50% de candidatas.
Para Eleonora Minecucci, o estudo mostra que a proposta do
Executivo de um plebiscito sobre a reforma política pode alterar a atual
situação. “Pretendemos que a sociedade brasileira dê o salto qualitativo da
democracia representativa para a democracia participativa.”
A maior parte das pessoas entrevistadas informou ter renda
familiar entre um e cinco salários mínimos, sendo que 55% declararam condições
equivalentes às da chamada classe econômica C. Mais de 40% foram ouvidos na
Região Sudeste.
Agência Brasil
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