Apesar da declaração otimista, especialistas ainda buscam
meios de contornar os problemas decorrentes das viagens espaciais de longa
duração.
Por Andrêi Kisliakov, na Gazeta Russa
“Nos próximos 50 anos, o principal objetivo da humanidade no
espaço será Marte”, declarou presidente e construtor-geral da corporação
espacial russa Enérguia, Vitáli Lopota, durante uma palestra no 7º Congresso
Aeroespacial, realizado recentemente em Moscou.
Segundo Lopota, Vênus está fora de questão pois a pressão no
planeta é duas vezes maior do que na Terra, além da temperatura de superfície
atingir cerca de 500º C.
“Resta apenas Marte, cuja pressão atmosférica não chega a 1%
da pressão da Terra”, continuou. “Também é o único planeta a possuir água em
quantidade suficiente.”
Enquanto isso, os cientistas russos já estabeleceram os
critérios de seleção para a tripulação de uma missão a Marte. “São fatores
genéticos, clínicos e psicológicos”, conta Anatóli Potapov, cientista do
Instituto de Problemas Biomédicos da Academia de Ciências da Rússia (ACR).
“Temos todas as possibilidades para elaborar um sistema de
apoio biomédico a uma missão marciana”, acrescenta o cientista.
Os especialistas sugerem a criação de uma unidade médica
especial no segmento russo da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em
inglês), utilizando a experiência do projeto Mars-500 realizado entre junho de
2010 e novembro de 2011.
“Temos 20 anos para criar a estrutura de apoio biomédico às
missões orbitais e interplanetárias de longa duração”, afirma Potapov. A ideia
é realizar experimentos com veículos espaciais automáticos e satélites
biológicos em ambientes isolados, bem como simular a ausência de gravidade e
estudar as condições extremas do Ártico, Antártida e desertos, por exemplo.
Pedras no caminho
De acordo com os cientistas do Instituto de Problemas
Biomédicos da ACR, o principal desafio na preparação de missões
interplanetárias é criar um sistema de suporte à vida, como produção
ininterrupta de oxigênio, água, alimentos e remoção de resíduos. Os especialistas
estimam um período de, pelo menos, 10 anos para a conclusão desses trabalhos.
O projeto Mars-500 forneceu informações sobre as missões
espaciais tripuladas de longa duração, mas nem todas as condições foram
simuladas durante o experimento.
Para ampliar o conhecimento, o primeiro diretor-adjunto do
Instituto de Problemas Biomédicos, Víktor Baránov, conta que uma experiência
semelhante será realizada em símios. “Testaremos os níveis de radiação nos
animais”, explica o acadêmico.
Mesmo assim, os problemas decorrentes da estadia de longa
duração do homem no espaço não acabam por aí. A microgravidade (ausência de
peso), não simulada no Mars-500, também representa grande perigo para o
organismo humano.
Pesquisas feitas nos EUA revelam que as pessoas mantidas
durante longo tempo no espaço sofrem de perda de massa óssea. Um estudo com 13
astronautas que passaram seis meses a bordo da ISS mostrou que a resistência de
seus esqueletos diminuiu, em média, 14% em relação aos valores anteriores ao
voo espacial.
Apoio limitado
Além da questões relacionadas à saúde física, é preciso
também considerar os efeitos psicológicos da viagem.
O afastamento da Terra, a longa permanência em um espaço
apertado em condições de microgravidade, os problemas interpessoais, as
situações imprevisíveis, o alto risco e o senso de responsabilidade pelo êxito
da expedição podem afetar seriamente o estado mental e a capacidade de trabalho
dos tripulantes.
Somado a tudo isso, aqueles que permanecem na Terra não
conseguem ajudar muito na solução desses problemas. Apesar de o apoio
psicológico aos astronautas ser ininterrupto, o sinal emitido do planeta chega
com 40 minutos de atraso. Cabe lembrar, contudo.
Fonte: Portal Vermelho
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