No momento em que retorna aos palanques, Lula é alvo de uma
tentativa de golpe preventivo. O recado que os opositores transmitem é: “se
voltar levará chumbo”. Diante do ataque organizado, o ex-presidente só tem uma
alternativa, que é lutar para não ser devorado pelos adversários
Personagem central da vida política brasileira nos últimos
quarenta anos, Luiz Inácio Lula da Silva construiu sua trajetória na base da
superação. Retirante, venceu a pobreza extrema. Sindicalista, desafiou a
ditadura militar e organizou as greves do ABC. Candidato à presidência da
República desde 1989, ele enfrentou a desconfiança generalizada das elites até
finalmente chegar ao poder, em 2002. Na presidência, consagrou-se ao deixar o
Palácio do Planalto com 70% de aprovação popular – inclusive da classe
empresarial que, com Lula, enriqueceu. Depois disso, Lula passou a ser
convidado a dar palestras em vários cantos do mundo, recebendo cachês jamais inferiores
a U$S 100 mil. Lula estava, portanto, com a vida ganha. Continuava sendo o
principal ator político do País e um homem, a cada dia, mais rico – e que,
segundo muitos, poderia escolher se voltaria ao poder em 2014 ou 2018.
Neste fim de semana, no entanto, Lula teve um choque de
realidade. E foi despertado para o fato de que nada, em sua trajetória, veio de
graça. Com a reportagem de capa de Veja, o ex-presidente foi alvejado por um
típico golpe preventivo. Como a oposição sabe que não poderá derrotá-lo nas
urnas em 2014, 2018 ou mesmo depois, o campo de batalha passou ser outro: o
tribunal sumário dos meios de comunicação. Como se sabe, Lula passou a ser
acusado de ser o chefe supremo do mensalão, no momento em que alguns de seus
companheiros estão prestes a ser condenados. Ainda que a consistência da
acusação seja questionável (uma “entrevista” sem fita negada pelo
entrevistado), o que os opositores dizem a Lula é bem simples: “se voltar
levará chumbo”. E isso significa ser alvo de um processo judicial que o
colocaria numa espécie de impedimento político. Assim, no Brasil, tal como
começa a acontecer em outros países latino-americanos, a disputa política
passaria a ser decidida no tapetão, à la paraguaia.
O jogo dos adversários já está claro. O ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso rege a orquestra sem perder a elegância, suas teses
(como a da “herança pesada”) se espalham pelos meios de comunicação de corte
mais conservador e José Serra range os dentes. De prontidão, talvez existam
alguns procuradores dispostos a apresentar uma denúncia contra o ex-presidente
Lula, ancorados na mais recente denúncia de Veja ou na delação de Roberto
Jefferson – que passou a acusar Lula de ser o “mandante” do mensalão.
O que ainda não se sabe é como Lula irá reagir. Neste
momento, ele começa a voltar aos palanques. Já esteve em Belo Horizonte e
Salvador. Pediu aos militantes petistas que voltassem a vestir a camisa. Mas
qual será sua estratégia de guerra – se é que há uma? Diante da ameaça de um
processo, como Merval Pereira anunciou hoje em sua coluna no Globo, Lula pode
decidir se apequenar e recolher-se à aposentadoria em São Bernardo do Campo. Em
seguida, o alvo passaria a ser a presidente Dilma Rousseff.
Lula tem ainda a alternativa de sair da zona de conforto e voltar
a ser o Luiz Inácio Lula da Silva da década de 80, que não apenas encantava
multidões, mas também sabia confrontar seus adversários. Hoje, os personagens
que querem destruir o lulismo são cada vez mais claros, como também foram
aqueles que combateram outros governos trabalhistas na história do Brasil e da
América Latina.
A luta levou Lula ao poder – e, depois, à glória. A covardia
não reserva um bom futuro nem a ele, nem ao PT.
No Brasil 247 Via TERRA BRASILIS
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