Militares se exaltam durante exibição de documentário sobre
o Araguaia. Esbaforido e nervoso, oficial militar gritou no meio da sessão,
orientando grosseiramente que todos os seus subordinados se retirassem dali
Militares do Comando da 23ª Brigada de Infantaria
de Selva, no Pará, se exaltaram durante a reunião do Grupo de Trabalho do
Araguaia (GTA), em Marabá (PA), quando começou a exibição de um documentário
com depoimentos de camponeses vítimas dos militares durante a Guerrilha do
Araguaia. Transtornado, o coronel Celso Osório Souto Cordeiro, interrompeu a
sessão aos berros, ordenando que seus subordinados abandonassem o salão
(Foto: Guerrilha do Araguaia / Reprodução)
O oficial bateu boca com o representante da Secretaria de
Direitos Humanos (SDH) no grupo, Gilles Gomes. A discussão só não virou
agressão física graças à intervenção de integrantes do Ministério da Defesa. O
fato ocorreu no dia 23 de outubro e só agora foi divulgado.
“Militares, todos fora!”, gritou na ocasião o militar que,
em julho, fora condecorado com a Medalha do Pacificador, concedida pelo Comando
do Exército.
O GTA foi criado pelo governo para cumprir a sentença
judicial de buscar informações e tentar localizar restos mortais de
desaparecidos políticos na região. O Exército tem dado apoio logístico às ações
desde 2009.
Esse foi o primeiro atrito entre militares e civis desde
então. O grupo é formado por representantes dos ministérios da Defesa e da
Justiça e da Secretaria de Direitos Humanos.
Internamente, a atitude do coronel foi considerada grave,
mas superável. Oficialmente, o Ministério da Defesa e a Secretaria de Direitos
Humanos informaram que estão tratando do assunto. A cúpula da secretaria tem
debatido o assunto e chegou a redigir uma nota pública condenando o gesto do
coronel. O militar pode ser afastado das próximas expedições do GTA.
Marco Antônio Barbosa, presidente da Comissão de Mortos e
Desaparecidos Políticos, vinculada à SDH, criticou o coronel Cordeiro:
“Isso que ocorreu foi grave. A colaboração do Exército até
agora era de uma logística de boa qualidade. Foi surpreendente. Um gesto
violento e incompatível com os tempos de hoje. É lamentável, e o que se espera
é que seja dada uma resposta à altura”, afirmou Barbosa.
Sete parentes de desaparecidos e vítimas da ditadura que
estavam presentes ao encontro elaboraram uma carta aos ministros da Defesa, da
Justiça e dos Direitos Humanos na qual repudiam o fato. No texto, eles fazem um
protesto contra a “atitude malsã e desequilibrada do oficial militar”.
Ex-vereador pelo PCdoB, Paulo Fonteles Filho, observador do
grupo presente à reunião, escreveu no seu blog: “(O coronel) esbaforido e
nervoso gritou, no meio da sessão, orientando grosseiramente que todos os seus
subordinados se retirassem dali”.
Audiência
O Comitê Paraense pela Memória, Verdade e Justiça e a
Associação dos Torturados na Guerrilha do Araguaia (ATGA) realizam na
sexta-feira (16) e sábado (17), também em Marabá, uma audiência pública da
Comissão Nacional da Verdade. O evento busca o restabelecimento da verdade em
relação aos atos de torturas, desaparecimentos e mortes praticados por agentes
da ditadura militar na região durante a repressão à Guerrilha do Araguaia
(1972-1975).
Participam da audiência camponeses, indígenas, militantes de
direitos humanos e representantes da Comissão Nacional da Verdade, Maria Rita
Kehl, Claudio Fonteles e Paulo Sérgio Pinheiro.
No Pragmatismo Político
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