Diretora da Central Globo de Jornalismo determinou a todos os chefes de núcleo que "tirem trecho que menciona FHC nos VTs sobre a corrupção na Lava Jato. Revisem os VTs com atenção! Não vamos deixar ir ao ar nenhum com citação ao Fernando Henrique". Recado ocorreu depois de reportagem ter procurado FHC para repercutir as declarações de Pedro Barusco, de que recebia propinas na Petrobras desde 1997
O direcionamento no noticiário do maior veículo de
comunicação do Brasil com o objetivo de desestabilizar o atual governo, e
apoiando, assim, a campanha pelo impeachment, está mais do que comprovado.
Neste fim de semana, a diretora da Central Globo de Jornalismo, Silvia Faria,
enviou um e-mail a todos os chefes de núcleo ordenando a blindagem do
ex-presidente FHC com relação à corrupção na Petrobras.
O recado foi enviado após a veiculação de uma reportagem que
procurou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para repercutir as
declarações do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco – de que recebia propinas
na estatal desde 1997, antes do governo Lula. Barusco prometeu devolver aos
cofres públicos uma fortuna de US$ 97 milhões em dinheiro desviado. No Jornal
Nacional, a acusação de Barusco sequer foi divulgada, mas deu-se todo destaque ao
comentário de FHC sobre o caso.
O e-mail de Silvia Faria foi divulgado pelo jornalista Luis
Nassif, no Jornal GGN. Leia abaixo a íntegra do texto do jornalista:
A estratégia de Dilma para a guerra da comunicação:
“virem-se”
São curiosos esses tempos de crise e de vácuos de poder.
Recentemente foi divulgada uma entrevista de Jango com John
Foster Dulles, o brasilianista, em 15 de novembro de 1967.
Na entrevista, um mea culpa: “Goulart disse que em seus
esforços para promover reformas estruturais, ele fez concessões demais a grupos
políticos no Brasil”.
O objetivo era aprovar as reformas estruturais: “Foram
reformas em prol da independência, do desenvolvimento, do bem-estar do povo e
da justiça social. A justiça social não era algo no sentido marxista ou comunista”.
Mostrou como a ampliação dos meios de comunicação aumentou
as demandas da população: “Hoje, com o uso amplo de rádios e televisores, o
povo pobre vê as condições melhores que existem em outros lugares. O grande
problema é a justiça social. Não é um problema de comunismo. Mas a insatisfação
pode se converter em revolta se as condições não melhorarem. 92% da América
Latina se encontra na condição mais precária possível”.
Finalmente, mencionou a campanha da imprensa contra seu
governo: “Houve uma campanha para envenenar a opinião pública contra “meu
governo”. Goulart disse que a imprensa estava contra seu governo. Ele
acrescentou que a imprensa tem problemas financeiros e é influenciada por
grandes grupos empresariais”.
Na raiz de todo acirramento da mídia estão problemas
financeiros provocados por épocas de transição tecnológica. Foi assim nos anos
20, com o advento do rádio; nos anos 50, com o início da TV; nos anos 60, com a
crise financeira dos jornais. E agora.
Do ponto de vista financeiro, tem-se a seguinte situação:
1. No ano passado, pela primeira vez a Rede Globo fechou no
vermelho. A empresa está revisando todo seu modo de produção, acabando com os
contratos permanentes com artistas, que eram mantidos no cast, muitas vezes sem
aproveitamento, apenas para não serem contratados por competidores. O quadro
está tão complicado, que a ABERT (Associação Brasileira das Empresas de Rádio e
Televisão) levantou o veto que tinha em relação à TV digital, vista agora como
uma forma de faturamento suplementar
2. A Editora Abril está se esvaindo em sangue. O valor do
vale refeição caiu para R$ 15,00, que só cobre o preço do refeitório instalado
no prédio. Há informações de que até o refeitório será desativado nos próximos
dias. As redações estão abrindo mão de jornalistas experientes, sendo trocados
por novatos sem grande experiência.
3. O Estadão está há tempos à venda.
4. A Folha caminha para ser, cada vez mais, uma editoria da
UOL.
É uma questão de vida ou de morte: ou empalmam o poder ou
tornam-se irrelevantes.
O jogo da informação
É por aí que se entende a campanha da mídia em busca do
impeachment.
Os vícios do modelo político brasileiro afetam todos os
partidos. Mais ainda o governo FHC com a compra de votos e as operações ligadas
ao câmbio e à privatização. A gestão Joel Rennó foi das mais controvertidas da
história da empresa.
Ao tornar o noticiário seletivo, os grupos de mídia
conspiram contra o direito à informação, centrando todo o fogo em uma das
partes e blindando todos os malfeitos dos aliados.
Ontem, a diretora da Central Globo de Jornalismo, Silvia
Faria, enviou um e-mail a todos os chefes de núcleo com o seguinte conteúdo:
“Assunto: Tirar trecho que menciona FHC nos VTs sobre Lava a
Jato
Atenção para a orientação
Sergio e Mazza: revisem os vts com atenção! Não vamos deixar
ir ao ar nenhum com citação ao Fernando Henrique”.
O recado se deveu ao fato da reportagem ter procurado FHC
para repercutir as declarações de Pedro Barusco – de que recebia propinas antes
do governo Lula.
No Jornal Nacional, o realismo foi maior. Não se divulgou a
acusação de Barusco, mas deu-se todo destaque à resposta de FHC assegurando
que, no seu governo, as propinas eram fruto de negociação individual de Barusco
com seus fornecedores; e no governo Lula, de acertos políticos.
Proibiu-se também a divulgação da denúncia da revista Época
(do próprio grupo) contra Gilmar Mendes.
No Estadão, a perspectiva de um racionamento inédito de
água, assim como as repercussões na saúde e na economia, é tratado da seguinte
maneira.
Se não vierem chuvas até março, a SABESP finalmente adotará
o racionamento. Era essa a posição da empresa desde o ano passado e foi
impedida pelo governador Geraldo Alckmin.
Só após a posse do novo presidente, Jerson Kelman, a SABESP
conseguiu romper com os vetos de Alckmin ao racionamento. Respeitado
internacionalmente, Kelman assumiu declarando que crises de água precisam ser
tratadas com coragem e racionamento.
Segundo a matéria do Estadão, “A pedido do governador
Geraldo Alckmin (PSDB), o presidente da SABESP Jerson Kelman definirá até o fim
da semana um nível mínimo de segurança do Sistema Cantareira”.
A total falta de atitudes de Alckmin é convertida em
“monitoramento diário”. Algumas reportagens relataram o fato da única atitude
de Alckmin consistir em consultar um aplicativo de tempo no seu celular, para
torcer pela chegada das chuvas.
Na reportagem do Estadão, essa demonstração de amadorismo,
de um governador sem nenhum conhecimento de questões hídricas monitorar
“pessoalmente” as chuvas, converte-se em uma prova de responsabilidade: ”O
quadro hídrico vem sendo monitorado pessoalmente pelo governador e sua equipe
diariamente e debatido em reuniões que acontecem a cada dois dias no Palácio
Bandeirantes”.
Na home do Estadão, uma reportagem especial sugere que a
responsabilidade pela crise é do prefeito Fernando Haddad que deixou de aplicar
um programa de despoluição da Billings. O título na home é “Governo Haddad
deixou de investir R$ 1,6 bi em represas”.
Na matéria interna, esclarece-se que os problemas são a não
liberação de recursos pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o fato
dos valores de licitação do programa – feitos na gestão Kassab – incluírem
insumos (como asfalto e cimento) em valores acima do teto estabelecido pela
Caixa Econômica Federal.
Os fatos e a campanha
Mesmo com todo o poder de fogo, sozinhos os grupos de mídia
não conseguem criar um mundo virtual. Ainda mais nesses tempos de redes
sociais, o enfrentamento precisa ser dado através de uma estratégia de
comunicação – que também não é algo feito no ar. Ela precisa estar subordinada
a uma estratégia política, à identificação dos pontos nevrálgicos do
noticiário, ao tratamento antecipado de todo tema sensível, à criação da agenda
positivo.
De qualquer modo, na primeira reunião com seu Ministério,
Dilma já definiu sua estratégia de comunicação. Juntou os Ministros e ordenou a
eles mais ou menos o seguinte:
– Vocês precisam entrar na batalha de comunicação.
Eles:
– Como?
E ela, mais ou menos assim:
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