Representantes de movimentos sociais acreditam que tese do
impeachment cairá neste domingo, dia de "festa da democracia". Mas
reafirmam que rejeitarão um governo não eleito nas urnas
As entidades que organizam o ato contra o impeachment em São
Paulo esperam que o próximo domingo (17) represente o fim desse movimento da
oposição e o início de uma "repactuação" entre Executivo e
Legislativo em torno da retomada do crescimento. Organizadas pela frentes
Brasil Popular e Povo sem Medo, a manifestação está prevista para começar às
10h, no Vale do Anhangabaú, na região central, e só termina depois da votação
no plenário da Câmara, o que deve ocorrer apenas à noite. Ao mesmo tempo em que
esperam derrotar o impeachment, as frentes pedem uma nova postura do governo.
"Vamos enterrar essa tese do impeachment. Mas vamos
continuar na rua para a presidenta Dilma implementar outra política",
afirmou o coordenador estadual, em São Paulo, da Central de Movimentos
Populares, Raimundo Bonfim. "Também não estamos satisfeitos (com o
governo), mas isso não justifica o impeachment." Ele espera a presença de
até 200 mil pessoas no Anhangabaú, onde serão instalados três telões para que
os manifestantes possam acompanhar a votação na Câmara.
"Encerrado esse processo, o governo tem de buscar uma
repactuação com o Congresso, chamar os movimentos populares", acrescentou
o presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, afirmando que, passado quase um
ano e meio, a presidenta não conseguiu governar efetivamente, devido ao clima político.
"Não há governança. Precisamos retomar o crescimento. Isso só será
possível chamando as forças políticas." Ele também destacou pesquisa
CUT/Vox Populi, divulgada ontem (14), mostrando que a maioria das pessoas não
acredita que o impeachment resolverá os problemas do país.
Os representantes dos movimentos mostraram otimismo quanto
ao resultado da votação, mas afirmam que estão preparados para um cenário
desfavorável, com aprovação do impeachment e estabelecimento de um novo
governo. "Não vamos reconhecer um governo não eleito democraticamente pelo
povo", disse o presidente da CTB São Paulo, Onofre Gonçalves.
"Esperamos que a democracia derrote o retrocesso."
Golpe
O coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem
Teto (MTST), Josué Rocha, observou que as manifestações contra o impeachment
cresceram nas últimas semanas. "Isso porque está mais claro o caráter de
um golpe, com um processo conduzido por um presidente da Câmara envolvido em
inúmeras denúncias", afirmou. Ele lembrou que a mobilização envolve
inclusive pessoas que não necessariamente apoiam o governo, "mas enxergam
nesse processo de impeachment um golpe claro". Vencido o golpe,
acrescentou Josué, a expectativa é de derrotar também o ajuste fiscal e suas
consequências para os trabalhadores.
Ele lembrou ainda que os movimentos vão acompanhar
atentamente a posição de cada deputado no domingo. "O povo se lembrará
deles. A atuação deles não será esquecida tão cedo", afirmou,
identificando no programa oposicionista, simbolizado pela Ponte para o Futuro,
do PMDB, ataques a direitos trabalhistas, à Petrobras e a programas sociais.
Organizadores do ato no Anhangabaú se reuniram ontem (13)
com o comando da Polícia Militar para pedir segurança, especialmente no
transporte coletivo, como estações de trens metropolitanos e de metrô. Existe
preocupação com confrontos entre manifestantes contrários e favoráveis ao
impeachment, que também se reunirão no domingo. "Queremos cuidado
redobrado, principalmente na chegada e na saída", disse Raimundo. "O
Metrô nos informou que vai dobrar o efetivo para controlar a segurança",
emendou Onofre, que já presidiu o Sindicato dos Metroviários de São Paulo.
Diversas movimentos sairão de pontos diferentes rumo ao
Anhangabaú, onde haverá intervenções políticas e apresentações artísticas. Do
centro, são esperadas marchas vindas das praças da República e da Sé, da
estação da Luz e da Praça Roosevelt. Os movimentos têm acampamentos fixos
instalados na Praça do Patriarca, na região central, e no Largo da Batata, na
zona oeste, além do Mapa da Democracia na internet, que já teve 12 milhões de
acessos.
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