Por PAULO NOGUEIRA
Ao repetir chavões arquiconservadores como o da democracia
em “risco”, ele vai se tornando um Serra com topete.
FHC é vaidoso, está desatualizado, sofre ao se ver tão cedo
relegado a uma nota de rodapé na história dos presidentes brasileiros.
Ele seguiu a receita de Thatcher e hoje se vê no que ela deu
nos países em que não houve uma drástica mudança de rota.
Bem, FHC tem muitos defeitos – mas bobo, definitivamente,
não é.
Não é possível que ele esteja por trás das tolices em série
proferidas por Aécio.
Num espaço de poucos dias Aécio conseguiu se pronunciar
contra a reeleição – foi FHC quem a trouxe de volta, sabemos todos a que preço
– , levantou alarme sobre a inflação e agora repete a ladainha dos dias de
Lacerda segundo a qual a democracia está em “perigo”.
Não faltariam bons argumentos para Aécio criticar Dilma e o
PT. Exemplo: um levantamento divulgado esta semana mostrou que o Brasil, entre
40 países, ficou em penúltimo em educação. (A Finlândia estava no topo, para
confirmar a admirável supremacia da sociedade escandinava.)
Aécio poderia falar nisso. Dez anos de PT e é isso que temos
a mostrar ao mundo em educação? Poderia também citar outro estudo segundo o
qual o Brasil é o quarto país mais desigual da América Latina. Se você é quarto
na Europa, é uma coisa desagradável, mas dá para engolir. Mas ser quarto numa
região já em si tão desigual como a América Latina é vexatório.
Haveria, sim, muita coisa relevante a falar.
Mas para isso Aécio teria que ler. Ou melhor, que ler as
coisas certas.
Aécio parece estar repetindo coisas que são faladas por
Jabor, escritas por Merval, repetidas por Reinaldo Azevedo – enfim, todos
aqueles clichês arquiconservadores por
trás dos quais se esconde apenas o desejo de manter privilégios indefensáveis.
E repete o mesmo erro incrível de Serra nestes anos todos:
deixou o PT sozinho para falar do tema mais importante não apenas do Brasil mas
do mundo contemporâneo: justiça social.
Rapidamente, se transforma num Serra com topete.
Não pelo que tem feito, que sem dúvida poderia e deveria ser
mais, mas pelas besteiras que os adversários vão cometendo em série, Dilma
tende a ter em 2014 uma das vitórias mais fáceis da história das eleições
presidenciais.
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