A informação da coluna Radar, da
Veja, de que a Odebrecht teria feito pagamentos milionários ao senador José
Serra na conta de “uma parente” e através do lobista José Amaro Pinto, é a pá
de cal na carreira do senador. Desvenda-se o maior segredo de Polichinelo da
história da república: o processo de enriquecimento de Serra na política.
A parente de Serra obviamente é a filha Verônica.
Completando a delação do executivo da Odebrecht, há a famosa tarja preta que a
Polícia Federal colocou na agenda telefônica de Marcelo Odebrecht, antes de
vazar a agenda para a mídia. Amadores, chamaram imediatamente a atenção de
todos e não se deram conta de que um bom editor de imagens eliminaria as tarjas
revelando os nomes. O compromisso tarjado era de Marcelo Odebrecht, com uma
reunião com José Serra justamente no escritório de Verônica.
Com a possibilidade aberta, agora, de quebrar o sigilo das
contas de Verônica Serra, especialmente dos seus fundos de investimentos, será
bastante simples desvendar todo o sistema de lavagem de dinheiro de Serra, que
o transformou em um dos políticos mais ricos do país.
Os dois caminhos de Serra para a lavagem de dinheiro foram o
mercado de tecnologia e o de obras de arte – ambos propícios à lavagem devido
às precificações bastante voláteis e subjetivas.
Pessoas que visitaram Serra em sua casa, aliás, se
espantaram com a quantidade de obras de arte espalhadas pelas paredes. Na
denúncia que a PGR encaminhará ao STF (Supremo Tribunal Federal), se saberá
qual o estágio atual de Rodrigo Janot em relação à blindagem de Serra. Se não
incluir abertura de contas de Verônica e arresto de obras de arte, não será uma
investigação séria.
Aqui está um roteiro simples e algumas pistas para destrinchar os métodos de lavagem de dinheiro
de Serra:
1. O caso
Santander-Banespa
Desde os idos de 2.000, Serra já se valia das incursões de
Verônica no mercado de tecnologia para lavar dinheiro. Quem a conheceu na época
sabia ser uma moça limitada, sem noção clara sobre empresas startups. Mesmo
assim, conseguia feitos extraordinários.
O primeiro deles foi sua aproximação com argentinos da
Patagon – um sistema de banking eletrônico. Verônica conseguiu vender para o
Santander por US$ 700 milhões, uma soma impossível. O próprio presidente do
banco participou das negociações.
Anos depois, procurei mapear os interesses do Santander na
época. O maior deles era relacionado com a compra do Banespa. Para conseguir
viabilizá-lo economicamente necessitava que fossem mantidas no banco as contas
dos funcionários públicos e do Estado. A lei impedia.
De alguma forma, o Santander obteve a autorização. Embora o
tempo transcorrido seja grande, provavelmente o rastro do dinheiro mostraria os
beneficiários desse jogo e a maneira como conseguiu atropelar as leis e
preservar as contas públicas, mesmo após a privatização do banco.
Pouco tempo depois, o Santander pagou US$ 5 milhões para os
argentinos receberem o software de volta. Hoje em dia, ele repousa em um
computador desligado, em um banco médio paulista.
2. O caso
Experian-Virid
O grupo britânico Experian adquiriu a Serasa e avançou como
um leão faminto sobre o mercado de avaliação de devedores e de bancos de dados.
Nessa ocasião houve a entrega para Experian do banco de dados do Tribunal Superior
Eleitoral pela presidente Carmen Lúcia. A operação voltou atrás depois do
protesto de Marco Aurélio de Mello. Carmen Lúcia provavelmente não sabia dos
valores envolvidos no mercado de banco de dados. Mas seria interessante saber
dela quem a convenceu a oferecer o banco de dados do TSE.
A operação mais suspeita da Experian foi com os Cadins
(Cadastro dos Devedores) estaduais. No final do seu governo, Serra entregou à
Experian o Cadin do estado. Além do mais valioso, abriu as portas da Experian
para os demais Cadins estaduais.
Pouco tempo depois, Verônica adquiriu participação em uma
empresa de e-mail marketing, a Virid – que, na opinião de analistas de mercado
não deveria valer mais de R$ 30 milhões. Em seguida revendeu-a para a
Experiência por R$ 104 milhões. Na época, consultei o setor de relações com o
mercado da Experian, em Londres, e me informaram que o valor da operação era
sigiloso.
3. Os negócios
com Daniel Dantas
No livro 'A Privataria Tucana', o repórter Amaury Junior
esmiuça os jogos de offshores de Verônica.
Há dois episódios pouco analisados e escandalosos. Um deles,
o site de comércio exterior que Verônica montou com a irmã de Dantas e que
conseguiu o acesso a informações sigilosas do Banco Central e do Banco do
Brasil. Se não fosse denunciado, valeria dezenas de milhões de dólares.
Na campanha de 2002, Serra esquentou a casa onde morava,
perto da Praça Pan-americana, com recursos supostamente enviados por Verônica
dos Estados Unidos. Foi um esquentamento feito às pressas, depois que o PT
levantou suspeitas sobre a casa.
Aliás, a história da casa é relevante. Serra a adquiriu
quando Secretário do Planejamento de Montoro e quando corriam rumores da
montagem de uma indústria de precatórios no Estado: mediante propinas,
conseguia-se furar a fila de anos. Serra sempre dizia que alugara a casa –
enorme – porque conseguira um aluguel especial com o proprietário.
4. Os fundos de
investimento
O fundo de investimento de Verônica Serra possui 10% do
Mercado Libre, portal cotado até pouco tempo na Nasdaq em US$ 2 bilhões.
Quebrando o sigilo de Verônica, será fácil rastrear a maneira como em tão pouco
tempo ela acumulou um capital de US$ 200 milhões em apenas um investimento.
5. O fator José
Amaro Pinto
O lobista José Amaro Pinto sempre teve ligações estreitas
com o lado FHC do PSDB. Foi colega de Sérgio Motta e FHC na Sociologia e
Política. É um senhor já de idade, culto, cortês e que, até esta última
informação, era conhecido como lobista dos grupos franceses junto ao Brasil.
Dentre seus clientes estava a Dassault, que fabrica os Mirage, a Tales, de radares,
e a notória Asltom.
Com a informação de que foi o intermediário entre a
Odebrecht e Serra, surge a verdadeira face de Ramos: em vez de lobista da
França no Brasil, era lobista do PSDB junto a interesses franceses.
No Carcará
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