Empresa é contratada para espionar postagens políticas
O governo golpista de Michel Temer tem um novo passatempo:
monitorar e categorizar tudo o que envolve os principais assuntos políticos nas
ferramentas públicas das redes sociais.
Quem dá cabo dessa tarefa é uma agência publicitária da
cidade de São Paulo, a Isobar Brasil, que antigamente atuava sob o nome de
Agência Click. Este tipo de serviço é conhecido como "big data" e tem
como objetivo coletar, analisar e processar grandes volumes de dados
registrados na rede. A empresa teria como seu principal objetivo vasculhar a
internet em busca de focos de manifestações, pra identificar quem são os principais
"influenciadores" e quais demandas políticas estão sendo exigidas.
Depois, essas informações iriam para o Planalto e órgãos públicos, além de
enviadas diretamente a agentes de segurança.
Esse tipo de serviço é o mesmo impulsionado pela consultoria
americana Geofeedia, que foi acusada de colaborar com a polícia durante a
repressão do movimento Black Lives Matter em outubro de 2016, e foi proibido
pelos termos de uso do site Facebook desde então. Inclusive, no Brasil, desde o
Marco Civil da Internet de 2014, é proibido o uso por terceiros de qualquer
postagem, informação publicada ou dado pessoal sem o "consentimento livre,
expresso e informado" do autor ou responsável.
Além de achar uma ótima ideia atropelar esses direitos, o
governo também acha que é um ótimo destino para o dinheiro público. Em 2015, a
Isobar Brasil recebeu R$ 13,8 milhões do governo pela prestação de serviços
denominados como "comunicação digital". De acordo com o contrato
assinado com a Secretaria de Comunicação, uma parcela de R$ 113 mil desse total
seria destinada ao "monitoramento on-line". Já em 2016, o ano do
golpe de Temer, a empresa teria recebido a quantia de R$ 17,6 milhões, o 5º
maior pagamento já realizado pelo órgão público.
Tanto a empresa quanto o próprio governo e seus cães
farejadores se escondem detrás de um discurso de que, se algo já está publicado
em uma rede social, é aberto aos olhos de qualquer um e, portanto, dar atenção
a isso não seria uma atitude criminosa. Inclusive dizem que pode ser um método
importante para pensar novas maneiras de atender às demandas da população.
Oras, mas existe uma grande diferença entre dar atenção para
as grandes exigências da rede e o monitoramento privado, organizado, vinculado
aos órgãos repressores do Estado com uma atenção específica voltada para os
focos de grandes manifestações e para o levantamento de principais figuras dos
movimentos. O uso das redes sociais para fins de organização e discussão
política é uma expressão direta dos sentimentos que se criaram desde Junho de
2013, com uma juventude querendo romper com os métodos e lógicas tradicionais
para buscar alternativas de mobilização.
No último dia 15 de Março, também vimos a internet e as
redes sociais cumprindo um papel fundamental na construção de uma resistência
que aglutinou centenas de milhares pelas ruas de cidades importantes como São
Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte para lutarem contra as reformas impostas
por Michel Temer. Agora com a perspectiva de uma forte greve geral que conta
com uma série de forças (como o próprio Esquerda Diário) empenhadas na
construção da luta no dia 28 de Abril que não dependam inteiramente da
iniciativa de centrais sindicais como a CUT e a CTB, podemos entender o porquê
de uma empresa de monitoramento receber o quinto maior salário na folha de
pagamento do Planalto.
Devemos tomar como nossa tarefa o uso de todas as
ferramentas, desde as organizações de base nos locais de trabalho e de estudo
até as nossas conexões nas redes sociais e de informação pública para mostrar
nossa força e provar que atitudes como essas tomadas pelo governo golpista não
são capazes de colocar amarras na necessidade e urgência de mobilização durante
esse momento de crise.
Via – Dag Vulpi
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