Por Alexandre Figueiredo
A grande mídia está em polvorosa e, por isso, ela faz tudo
para neutralizar os efeitos das transformações sociais do Brasil.
Evidentemente, ela não o faz apenas através do mau-humor dos
comentaristas políticos dos telejornais. Seria muita ingenuidade achar que o
trabalho se limita e se encerra num Arnaldo Jabor bufando diante da TV ou numa
Miriam Leitão com ar sombrio condenando os movimentos sociais.
O resto do "pacote" está justamente naquele
"alegre" entretenimento "popular", que, em todos os
aspectos, trabalha uma visão ao mesmo tempo caricata e glamourizada das classes
populares, sob o intuito de torná-las mais dóceis e conformistas para o
"sistema".
Mas o que este blogue chama muito a atenção é que os
ideólogos desse entretenimento "popular" tentam jogar no campo
adversário, evitando que sejam confundidos com os comentaristas políticos mais
reacionários. E evitam essa confusão também adotando um discurso mais
"positivo".
No fundo, porém, são dois lados de uma mesma moeda. Reinaldo
Azevedo criticando os movimentos sociais de verdade. Pedro Alexandre Sanches
exaltando os "movimentos sociais" de proveta. Os
"militantes" do Coletivo Fora do Eixo criando uma tal de Pós-TV,
enquanto, em contrapartida, difundem seus ideais na Rede Globo, na revista
Caras e até na Folha de São Paulo.
E no "couvert artístico" desse cardápio ideológico
que busca, no caso de São Paulo, garantir a eleição de José Serra - embora
saibamos que o rival Fernando Haddad conta com o apoio fisiológico de Paulo Maluf,
a grande mídia está toda com Serra - , está a pseudo-MPB de ídolos
brega-popularescos "emancipados", com popularidade e fama suficiente
para se passarem por "artistas renomados".
VISÃO ELITISTA DA MPB
Enquanto a intelectualidade associada comemora quando ídolos
brega-popularescos, na medida em que se tornam bem-sucedidos e, de certa forma,
veteranos, passam a fazer um simulacro de MPB, o resultado apresentado nem de
longe contribui para a verdadeira renovação da música brasileira.
A própria visão que eles têm da MPB é de algo distante que
só é tardiamente atingido. E, quando é atingido, é de acordo com os mesmos
valores elitistas que se tornaram o estigma da chamada Música Popular
Brasileira.
Ou seja, eles mantém aqueles mesmos aspectos de luxo e de
pompa e de uma produção musical "não muito brasileira", baseado mais
nos referenciais radiofônicos. É uma "MPB de mentirinha", uma
pseudo-MPB que nada acrescenta de novo ou de relevante, apenas é algo
cosmético, superproduzido para parecer "decente".
A experiência é feita desde o final dos anos 1998, quando a
Rede Globo passou a patrocinar a geração neo-brega surgida no final da década
anterior: Chitãozinho & Xororó, Alexandre Pires, Leonardo, Daniel, Ivete
Sangalo, Belo, Latino, Zezé di Camargo & Luciano, entre outros.
A partir daí, são nomes gravando covers de sucessos da MPB -
manjados e, de preferência, sem uma temática contundente, quando muito a
linguagem metafórica de "Disparada", de Geraldo Vandré, ou os
lamentos sentimentais de "Nervos de Aço", de Lupicínio Rodrigues - ,
num cenário com muita iluminação, muitos músicos, cantores de apoio e
dançarinos, vestuário de luxo, pompa, luxo e tecnologia de ponta.
Isso tem por objetivo ludibriar a opinião pública. Afinal,
as regras tão criticadas na pasteurização da MPB pela indústria fonográfica não
foram rompidas. O jogo não acabou, o problema acabou sendo com os
"jogadores", que foram substituídos.
Afinal, nomes como Guilherme Arantes, Zizi Possi, Dalto,
Byafra e Ritchie acabaram se tornando bodes expiatórios de uma decadência da
qual eles só contribuíram a contragosto, por imposição de produtores e gerentes
de gravadoras.
A "MPB burguesa" continua, mas seus
"jogadores" hoje possuem "maior apelo popular" e são mais
maleáveis aos ditames da mídia. Até para regravar sucessos do Rock Brasil e da
MPB, os "artistas" atuais são mais marqueteiros. Vide Alexandre Pires
pegando carona em tributos diversos a antigos sambistas ou a sua aventura
oportunista na carona tardia na redescoberta de Wilson Simonal.
Tudo tendencioso, postiço, cosmético. Mas até o discurso
"anti-MPB" da crítica mudou de foco, não mais contra a pasteurização
fonográfica, mas contra a sofisticação daqueles que cometeram o êxodo
contratual das grandes gravadoras, migrando para a Biscoito Fino.
Afinal, a MPB autêntica é que sai culpada de tudo. Enquanto
isso, a pseudo-MPB que "consagrou" os neo-bregas já possui uma nova
safra com Cláudia Leitte, Péricles, Thiaguinho, Michel Teló, Gusttavo Lima,
Buchecha, Banda Calypso, entre outros.
Tudo isso é feito para alimentar os sucessos comerciais da
grande mídia. Não é cultura brasileira de verdade, por mais que a intelectualidade
tente dizer o contrário com todo o seu arsenal discursivo. É apenas o
hit-parade brasileiro, mais próximo dos escritórios do que das periferias, e
que favorece, sim, os interesses dos barões da grande mídia, mantendo o povo
pobre domesticado e socialmente conformado.
Nossa muito interessante, gostei muito da sua perspectiva. Parabéns
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