Por Jair de Souza
Os defensores do capitalismo neoliberal (e, logicamente,
seus meios de comunicação) são ostensivamente contrários a qualquer programa de
assistência social por parte do Estado. Para eles, nenhum recurso público
deveria ser empregado para mitigar as penúrias dos mais necessitados. É
populismo, bradam eles em voz alta! Só serve para acostumar o povo com a
vagabundagem, a não querer trabalhar para ganhar a vida, e outras tantas
argumentações de caráter semelhante.
As campanhas feitas contra este tipo de ajuda e contra os
governantes que decidem implementá-las costumam ser arrasadoras. Os ideólogos
das oligarquias se encarregam de ditar a linha através dos grandes meios de
comunicação e seus serviçais tratarão de disseminá-la por meio das redes
sociais. Quem nunca recebeu um e-mail condenando os governos Lula-Dilma por
sustentar malandros com o bolsa-família, bolsa-escola, etc?
Porém, e sempre há um porém, nos períodos de campanha
eleitoral os candidatos da oligarquia costumam receber licença para também
prometer que vão manter e até mesmo ampliar todas as ajudas sociais em vigor. O
próprio Serra não vacilou em prometer que manteria o bolsa-família e que iria
até conceder o 13º do mesmo. Nestes momentos, compreensivamente, as máfias
midiáticas sabem entender as propostas e evitam tecer críticas contra elas.
Afinal, para eles, campanha é campanha, já governo é outra coisa!
Bem, este não é um privilégio nosso. Todos os governos de
cunho popular da América Latina vêm passando por problemas semelhantes: são
bombardeados impiedosamente durante quase todo o período de sua gestão por
causa dos subsídios aos pobres, mas, nos períodos eleitorais, os candidatos
oligarcas se dizem conformes com os mesmos e as máfias midiáticas se mantêm
silenciosas a respeito. Com relação a isso, acaba de ocorrer um fato muito interessante
e bastante educativo por parte de Rafael Correa. Numa didática muito clara e
objetiva, o atual presidente do Equador nos mostra como se deve agir em tais
situações. Vejamos o caso em detalhes.
No Equador, o governo de Rafael Correa introduziu um bônus
de ajuda aos pobres no valor de US$ 35,00 por mês. É uma espécie de
bolsa-família, chamado de Bônus de Desenvolvimento Humano (BDH) que atende a
cerca de 1,9 milhões de pessoas. Nem é preciso dizer que esta pequena ajuda aos
mais pobres foi alvo constante de todo tipo de condenações por parte dos
banqueiros, dos demais integrantes das oligarquias e de seus meios de
comunicação.
Um dos mais violentos adversários deste subsídio (e de todos
os outros destinados aos pobres) foi o grande banqueiro Guillermo Lasso, que
não perdeu nenhuma oportunidade de aparecer em todos os meios de comunicação
privados para tratar de convencer à sociedade equatoriana do quão malignos são
esses subsídios. Chegou mesmo a escrever um livro onde explica com muita
clareza teórica porquê essas medidas “populistas” deveriam ser extirpadas da
sociedade.
Mas, no começo do próximo ano vai haver eleição para
Presidente no Equador. E Guillermo Lasso decidiu ser candidato.
Consequentemente, na semana passada, Guillermo Lasso apareceu em todos os meios
de comunicação expondo seu programa de governo. E, surpresa, ele agora defende
a manutenção do BDH. E não apenas isso. Ele considera que o bônus tem um valor
muito baixo e se compromete a elevá-lo a US$ 50,00. O dinheiro para cobrir esse
aumento, disse ele, viria da redução das verbas governamentais destinadas à
publicidade. Naturalmente, as corporações midiáticas não se manifestaram contra
a proposta de Guillermo Lasso. Ou seja, agora, parece que há um consenso geral
sobre a importância do BDH.
No entanto, a verba total que o governo emprega para sua
publicidade durante todo um ano não ultrapassa US$ 12 milhões, e o acréscimo
proposto exigiria US$ 340 milhões. Diante deste panorama, Rafael Correa tomou
uma sábia decisão em uma transmissão ao vivo para todo o país. Como todo mundo
agora está de acordo com o BDH e não há nenhuma crítica a que o mesmo seja
elevado a US$ 50,00, Correa declarou que ele também está de acordo e, portanto,
decidiu que o mesmo passará a estar em vigor a partir de janeiro de 2013. E de
onde virão os recursos para cobri-lo? Tudo muito simples! Virão de uma taxação
adicional sobre os lucros dos bancos. Os bancos que não estiverem de acordo com
esta taxação poderão negociar a transferência de seus ativos ao governo.
Para mim, esta me pareceu uma maneira genial de lidar com as
promessas de campanha feitas pelos agentes das oligarquias. Tomara que a moda
pegue!
Via BURGOS (Cãogrino)
Nenhum comentário:
Postar um comentário