Passei boa parte do tempo, no ano passado, lendo o livro A
Era dos Extremos - O Breve Século XX (1914-1991), do historiador britânico
nascido no Egito, Eric Hobsbawm.
Lia em livrarias e bibliotecas, onde houvesse um exemplar do
livro, editado pela Companhia das Letras, seguindo a sequência das páginas
lidas aos poucos.
O livro tem muitas páginas e é necessário ter muita atenção
e dedicação para lê-lo, mas vale a pena. É um bom livro de ciência política,
além de ser um excelente livro sobre história mundial, incluindo várias
citações sobre o Brasil.
Foi um importante pensador de esquerda do mundo inteiro, e
Eric faleceu aos 95 anos, no Royal Free Hospital, em Londres, hoje de manhã.
Era um pensador bastante ponderado e crítico, não sendo um esquerdista sectário
nem sonhador, mas um analista objetivo da geopolítica mundial, observando de
forma imparcial as experiências dos países tanto capitalistas quanto
socialistas, e os países do Oriente Médio e da América Latina.
Era de família judaica, cresceu na Alemanha, mas teve que
fugir para a Inglaterra, onde passou o resto de sua vida, por causa da ascensão
do nazismo. Tornou-se professor universitário e pesquisador, lançou diversos
livros como A Era das Revoluções, A Era do Capital, A Era dos Impérios, o citado
A Era dos Extremos, A História Social do Jazz, A História do Marxismo e A
Invenção das Tradições.
Membro da Academia Britânica, Hobsbawm lançou seu último
livro no ano passado, intitulado Como mudar o mundo - Marx e o marxismo
1840-2011. Hobsbawm pode não ter tido o tom contundente das análises de Noam
Chomsky, mas creio que é apenas uma forma diferente de pensar a política,
igualmente válida e coerente em muitos sentidos, enriquecedora para o debate.
Hobsbawm não abriu mão de seu esquerdismo, mas admitiu que o
comunismo do Leste Europeu se deu longe dos princípios marxistas e que o
stalinismo influiu decisivamente na decadência dos regimes comunistas,
sobretudo pelo autoritarismo do Estado. Também foi crítico das tradições, não
as tradições sócio-culturais em si, mas aquelas determinadas oficialmente pelas
elites nacionais, o que ele define como "tradições inventadas" não
pelos laços sociais, mas pelos interesses dominantes de cada nação.
Em conversa com o historiador e colega Simon Schama, Eric
Hobsbawm declarou seu desejo de ser lembrado, na posteridade, como "alguém
que não apenas manteve a bandeira tremulando, mas quem mostrou que ao
balançá-la pode alcançar alguma coisa, ao menos por meio de bons livros".
Vale a pena dedicar algumas horas para a leitura atenciosa
dos livros de Eric Hobsbawm. É o melhor legado que ele deixa para nós.
Via Mingau de Aço
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