A última sexta-feira (18), marcou os 20 anos de morte do
antropólogo Darcy Ribeiro. Neste artigo, o pesquisador Fábio Pereira resgata a
vida, a obra e o pensamento deste que foi um dos maiores pensadores do Brasil.
Darcy Ribeiro nasceu em Minas (1922), no centro do Brasil.
Formou-se em Antropologia em São Paulo (1946) e dedicou seus primeiros anos de
vida profissional ao estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da
Amazônia. Neste período fundou o Museu do Índio e criou o Parque Indígena do
Xingu. Escreveu uma vasta obra etnográfica e de defesa da causa indígena.
Nos anos seguintes (1955) dedicou-se à educação primária e
superior. Criou a Universidade de Brasília e foi Ministro da Educação. Mais
tarde foi Ministro-Chefe da Casa Civil e coordenava a implantação das reformas
estruturais, quando sucedeu o golpe militar de 64, que o lançou no exílio.
Viveu em vários países da América Latina onde, conduzindo
programas de reforma universitária, com base nas idéias que defende em A
universidade necessária. Foi assessor do presidente Salvador Allende, do Chile,
e Velasco Alvarado, do Peru. Escreveu neste período os cinco volumes de seus
Estudos de Antropologia da Civilização (O processo civilizatório, As Américas e
a Civilização, O dilema da América Latina, Os Brasileiros: 1. Teoria do Brasil,
e Os índios e a Civilização), que têm 96 edições em diversas línguas. Neles
propõe uma teoria explicativa das causas do desenvolvimento desigual dos povos
americanos.
Ainda no exílio, começou a escrever os romances Maíra e O
mulo, e já no Brasil escreveu dois outros: Utopia selvagem e Migo. Publicou Aos
trancos e barrancos, que é um balanço crítico da história brasileira de 1900 a
1980. Publicou também uma coletânea de ensaios insólitos: (Sobre o óbvio), e um
balanço de sua vida intelectual: Testemunho. Edita juntamente com Berta G.
Ribeiro a Suma Teológica brasileira. Seu último livro, publicado pela
Biblioteca Ayacucho, em espanhol, e pela Editora Vozes, em Português, é A
fundação do Brasil, um compêncio de textos históricos dos séculos 16 e 17,
comentados por Carlos Moreira, e precedidos de um longo ensaio analítico sobre
os primórdios do Brasil.
Retornando ao Brasil em 1976, voltou a dedicar-se à educação
e à política. Elegeu-se vice-governador do estado do Rio de Janeiro, foi
secretário da Cultura e Coordenador do Programa de Educação, com o encargo de
implantar 500 CIEPs que são grandes escolas de turno completo para 1000
crianças e adolescentes. Criou, então, a Biblioteca Pública Estadual, a Casa
França-Brasil, a Casa Laura Alvin, o Centro Infantil de Cultura de Ipanema. E o
Sambódromo, em que colocou 200 salas de aula para fazê-lo funcionar também como
uma enorme escola primária.
Elegeu-se senador da República, função que exerce defendendo
vários projetos, entre eles, uma lei de trânsito para defender os pedestres
contra a selvageria dos motoristas; uma lei dos transplantes que, invertendo as
regras vigentes, torna possível usar órgãos dos mortos para salvar os vivos;
uma lei contra o uso vicioso da cola de sapateiro que envenena e mata milhares
de crianças. Combate energicamente no Congresso para que a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação seja mais democrática e mais eficaz. Publica pelo Senado a
revista Carta, onde os principais problemas do Brasil e do mundo são analisados
e discutidos. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.
Conta entre suas façanhas maiores haver contribuído para o
tombamento de 98 quilômetros de belíssimas praias e encostas, além de mais de
mil casas do Rio antigo. Colaborou na criação do Memorial da América Latina,
edificado em São Paulo com projeto de Oscar Niemeyer. Gravou um disco na série
mexicana "Vozes da América". E mereceu títulos de Doutor Honoris
Causa da Sorbonne e das Universidades de Montevidéu, Copenhague e da Venezuela
Central.
Estudos de Antropologia da Civilização
Com livro O Processo Civilizatório, publicado em 1972, Darcy
Ribeiro trouxe para o âmbito de nossas discussões, os grandes problemas da
evolução das sociedades humanas. Ele dá início aos estudos sobre antropologia
das civilizações. Sua motivação é de tornar compreensível a formação dos povos
americanos. Com argumentos novos e críticos busca compor um esquema coerente e
lógico da história da humanidade. Segundo Darcy, esta tarefa foi requisito
prévio indispensável ao estudo da formação dos povos americanos.
Ele analisa o surgimento das formações sócio-culturais que
se impuseram desde 10.000 anos, com o objetivo de entender as causas do
desenvolvimento sócio-econômico desigual e quais as perspectivas para os povos
ditos atrasados.
Segundo Darcy, tornava-se necessário a formulação de um
esquema das etapas evolutivas para, assim, ser possível uma tipologia para
poder classificar os diversos agrupamentos que se uniram para formar as
sociedades nacionais americanas de hoje. Pergunta-nos:
Como classificar, uns em relação aos outros, os povos
indígenas que variavam desde altas civilizações até hordas pré-agrícolas e que
reagiram à conquista segundo o grau de desenvolvimento que haviam alcançado?
Como situar em relação àqueles povos e aos europeus, os africanos desgarrados
de grupos em distintos graus de desenvolvimento para serem transladados à
América como mão-de-obra escrava? Como classificar os europeus que regeram a
conquista? Os ibérios que chegaram primeiro e os nórdicos que vieram depois -
sucedendo-os no domínio de extensas áreas - configuravam o mesmo tipo de
formação sociocultural? Finalmente, como classificar e relacionar as sociedades
nacionais americanas por seu grau de incorporação aos moldes de vida da
civilização agrária-mercantil e, já agora, da civilização industrial? (1972,
p.02)
Nesta perspectiva, Darcy Ribeiro surge ganhando uma projeção
mundial, atuando intensamente nas discussões dos grandes problemas da evolução
da humanidade.
Como vimos, em sua teoria evolucionista, Darcy busca compor
um discurso que nos explique e nos ajude a perceber para onde estamos
caminhando, que futuro podemos ter. Uma coisa ele deixa claro: não somos
iguais; nisto parece comungar com o idéia de Simón Bolívar de que, nós,
latino-americanos, constituímos um pequeno gênero humano.
Posterior ao seu trabalho O Processo Civilizatório, Darcy
Ribeiro escreveu As Américas e a civilização, publicado primeiro na Espanha em
1969, pois Darcy, neste período, se encontrava no exílio.
Tentar descrever a significação desta obra na verdade nos
parece uma missão nada simples. Com o objetivo central de classificação dos
povos americanos ele realiza um trabalho de proporções inigualáveis. Justifica:
Nosso estudo é uma tentativa de integração das abordagens
antropológica, sociológica, econômica, histórica e política em um esforço conjunto
para compreender a realidade americana de nossos dias. Cada uma dessas
abordagens ganharia em unidade se isolada das demais, mas perderia em
capacidade explicativa. Acresce, ainda, que existem demasiados estudos parciais
desse tipo, quando não agrupados em obras de conjunto, ao menos dispersos em
artigos, abordando os diversos problemas de que tratamos aqui. O que nos falta
são esforços por integrá-los orgânicamente, a fim de verificar que
contribuições podem oferecer às ciências sociais para o conhecimento da
realidade que vivemos e para determinar as perspectivas de desenvolvimento que
temos pela frente. (1970, pp. 03-04)
Encontramos aqui uma investigação combatente, questionadora
dos fatores culturais, sociais e econômicos que precederam a formação das
etnias nacionais americanas. Com este estudo Darcy Ribeiro buscava compreender
o motivo do atraso das sociedades americanas; ele está convencido de que as
teorias da história não nos explicam. Analisa ainda, as causas do
desenvolvimento desigual das sociedades americanas. Dirá:
¿Por qué Haiti, que era la región más rica, más valioso del
mundo, fue la madre de Norteamérica, que vivía de vender trigo? Para Haiti los
negros producían su alimento, el más valioso del mundo, la mercancía más
valiosa del mundo que era el azúcar. Entonces cuando visiten Francia y anden
por los valles del Loira con aquellos grandes castillos bellíssimos, verán el
oro divino de aquí, de Haiti. (1996. p. 22)
Neste livro, Darcy faz uma extensa análise antropológica dos
fatores sociais, culturais e econômicos do período de formação das etnias
nacionais. Desde a expansão européia, passando por uma profunda análise dos
"Povos-Testemunhas" (os meso-americanos e andinos), ele segue
delineando as transformações que deram origem aos "Povos Novos"
(Brasil, Cuba, Venezuela). Estes povos, segundo Darcy:
Son nuevos en el sentido de que fueron hechos por haberse
deshecho sus matrices. Sus indígenas fueron desindianizados, sus negros
desafricanizados, sus europeos deseuropeizados, todo lo cual hace una cosa
nueva que no tiene pasado glorioso y está volcado hacia el futuro. Son pueblos
construídos con proletariado externo y parten de la inmensa dificultad de
componer con gente desenraizada un gente nueva, un ser nuevo en la história.
(1996, p. 23)
Os povos que migraram para as terras do Novo Mundo, Darcy os
denominou Povos-Transplantados. Constituíram um número elevado de europeus que,
juntamente com suas famílias, vieram parar aqui a fim de reconstruir suas
vidas. Buscavam uma vida melhor, conquistar aqui o que em suas terras estavam
impedidos de ter e ser. Darcy os caracteriza como:
Os Povos-Transplantados contrastam com as demais
configurações sócio-culturais das Américas por seu perfil caracteristicamente
europeu, expresso na paisagem que plasmaram, no tipo racial predominantemente
caucasóide, na configuração cultural e, ainda, no caráter mais maduramente capitalista
de sua economia, fundada principalmente na tecnologia industrial moderna e
nacapacidade integradora de sua população no sistema produtivo e a maioria dela
na vida social, política e cultural da nação. Por isto mesmo, êles se defrontam
com problemas nacionais e sociais diferentes e têm uma visão do mundo também
distinta dos povos americanos das outras categorias. (1970, p.456)
Outro ponto importante são as profundas diferenças que
existiam entre os povos. Segundo Darcy não só são decorrentes das matrizes
culturais predominantemente latina e católica, num caso, anglo-saxônica e
protestante, no outro, como também decorrem do grau de desenvolvimento
sócio-econômico.
Darcy segue mostrando os fatores de diferenciação
consequentes do processo de formação étnico-nacional dos Povos-Transplantados.
Dirá:
Na verdade, só historicamente e pelo exame acurado do
processo civilizatório global no qual todos êstes povos se viram envolvidos e
dos vários fatôres intervenientes na formação de cada uma dêles é que poderemos
explicar sua forma e sua performance. Isto é o que nos propomos fazer com
respeito aos Povos-Transplantados pelo exame, tanto da composição racial e
cultural dos seus contingentes formadores, quanto do seu modo de aliciamento,
de associação e de fusão em novas entidades étnico-nacionais. (1970, p.457)
O terceiro volume dos Estudos de Antropologia da
Civilização, O dilema latino-americano, é um estudo sobre as diferentes
situações entre as Américas. Darcy focaliza os contrastes existentes entre as
Américas, ou seja, a convivência da riqueza e da pobreza. Neste sentido ele
propõe novas tipologias para as classes sociais e para as estruturas de poder
na América Latina.
Segundo Darcy:
Faltava ainda uma teoria da cultura, capaz de dar conta da
nossa realidade, em que o saber erudito é tantas vezes espúrio e o não-saber
popular alcança, contrastantemente, atitudes críticas, mobilizando consciências
para movimentos profundos de reordenação social. Como estabelecer a forma e o
papel da nossa cultura erudita, feita à criatividade popular, que mescla as
tradições mais díspares para compreender essa nossa nova versão do mundo e de
nós mesmos? Para dar conta dessa necessidade é que escrevi O dilema da América
Latina. Ali, proponho novos esquemas das classes sociais, dos desempenhos
políticos, situando-os debaixo da pressão hegemônica norte-americana em que
existimos, sem nos ser, para sermos o que lhes convém a eles. (1996, p. 16)
No seu livro Os brasileiros: Teoria do Brasil publicado em
1965, Darcy inicia uma etapa, onde ele passa a aplicar à realidade brasileira
as categorias e conceitos novos construídos nas obras anteriores. Começa
explicar concretamente a complexa situação brasileira. Ao que nos parece,
ocorre uma ruptura bastante clara com o cientificismo que marcava as obras
daquele período.
Outro livro dos estudos Os índios e a civilização publicado
em 1970, segundo Darcy Ribeiro, foi o resultado dos dados colhidos durante os
dez anos em que passou no convívio com os índios nas diversas aldeias em que
viveu. Para Darcy foi importante a troca de experiências com indigenistas,
etnólogos e também com missionários. Outra ajuda de grande importância foi o
acesso aos arquivos valiosos do Serviço de Proteção aos Índios, órgão no qual
trabalhou como etnólogo.
No prefácio da obra explica:
O tema deste livro é o estudo do processo de transfiguração
étnica, tal como êle pode ser reconstituído com os dados da experiência
brasileira; e a apreciação crítica dos ingentes esforços para salvar povos que
não foram salvos. Como alguns dêsses povos conseguiram sobreviver às compulsões
a que estiveram sujeitos - e alguns outros ainda não experimentaram o contato
com a civilização - confiamos que tanto as análises como as denúncias aqui
contidas ajudem a definir formas mais justas e adequadas de relações com os
índios, capazes de abrir-lhes pespectivas de sobrevivência e um destino melhor.
(1970, p. 03)
Darcy define claramente a temática e os objetivos deste
livro. Segundo ele é um estudo do processo de transfiguração étnica. Numa
perspectiva crítica busca interpretar as pesquisas de forma sempre elevadas
reconstituindo assim, os dados da experiência brasileira.
Após uma visão geral da situação das populações indígenas no
final do século 19 e início do século 20, ele passa a refletir criticamente os
ingentes esforços para atender os povos desprotegidos da América Latina. Daí
passa a focalizar globalmente o que chama "o processo de transfiguração étnica".
De maneira nova e original reconstitui a história natural das relações dos
índios e os civilizados.
Com este livro, os "Estudos de Antropologia da
Civilização", um conjunto de quase 2 mil páginas, Darcy Ribeiro encerra os
escritos "preliminares" de seu grande projeto: tornar o Brasil
explicável. Responder a pergunta: Por que o Brasil não deu certo?. Temos assim,
um conjunto dos fundamentos teóricos que tornaram possível, o que segundo ele,
foi o desafio maior que já se propôs, o livro: O povo brasileiro: A formação e
o sentido do Brasil.
O Povo Brasileiro
Entender o sentido do que hoje somos mais que simples
desafio parece se constituir num longo e minucioso trabalho. A reflexão sobre
nossa formação nos envia às nossas origens, à história que como brasileiros
fomos construindo. A realidade com a qual nos deparamos traz reflexões e pontos
de vista oriundos de outros contextos que, para a nossa formação histórica, não
são suficientes para nos explicar como povo.
Dentro desse desafio de nos tornar explicáveis Darcy Ribeiro
propõe um conjunto teórico a partir da nossa contexto histórico. Ribeiro reune
um conjunto de pesquisas que culminam em uma teoria do Brasil até então
inédita. Subjacente à descrição desta teoria, está sua preocupação em entender
por que caminhos passamos que nos levaram a distâncias sociais tão profundas no
processo de formação nacional.
Retomando nossa história, Darcy começa a descrever como foi
acontecendo a gestação do Brasil e dos brasileiros como povo. Nessa
reconstituição ele enfatiza a confluência, ou seja, fala da união ocorrida
entre portugueses, índios e negros, matrizes étnicas do brasileiro.
Um povo novo que, no dizer de Darcy, se enfrentam e se
fundem, fazendo surgir, "num novo modelo de estruturação societária".
Para ele, essa mestiçagem fez nascer um novo gênero humano. Nova gente, mestiça
na carne e no espírito.
Segundo Darcy essa gente fez-se diferente:
Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada
culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiça, dinamizada por
uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais
delas oriundos. Também novo porque se vê a si mesmo e é visto como uma gente
nova, um novo gênero humano diferente de quantos existam. Povo novo ainda, porque
é um novo modelo de estruturação societária, que inaugura uma forma singular de
organização sócio-econômico, fundada num tipo renovado de escravismo e numa
servidão continuada ao mercado mundial. Novo, inclusive, pela inverossímil
alegria e espantosa vontade de felicidade, num povo tão sacrificado, que alenta
e comove a todos os brasileiros. (1996, p. 19)
Ao contrário do que se podia imaginar, um conjunto tão
variado de matrizes formadoras não resultou num conjunto multiétnico. Diz:
... apesar de sobreviverem na fisionomia somática e no
espírito dos brasileiros os signos de sua múltipla ancestralidade, não se
diferenciaram em antagônicas minorias raciais, culturais ou regionais,
vinculadas a lealdades étnicas próprias e disputantes de autonomia frente à
nação. (1996, p. 20)
Com pequena exceção a grupos que sobrevivem de maneira
isolada, que mantendo seus costumes, mas que, segundo Darcy, não podem afetar a
macroetnia em que se encontram.
Dessa unidade étnica básica, ele não quer propor uma
uniformidade entre os brasileiros, ele esclarece está questão distinguindo três
forças diversificadoras: a ecológica, a econômica e a imigração. Estas formam
os fatores que tornaram presente os diferentes modos de ser dos brasileiros,
espalhados nas diversas regiões do território brasileiro.
Comenta:
A urbanização, apesar de criar muitos modos citadinos de
ser, contribuiu para ainda mais uniformizar os brasileiros no plano cultural,
sem, contudo, borrar suas diferenças. A industrialização, enquanto gênero de
vida que cria suas próprias paisagens humanas, plasmou ilhas fabris em suas
regiões. As novas formas de comunicação de massa estão funcionando ativamente
como difusoras e uniformizadoras de novas formas e estilos culturais. (1996, p.
21)
Propõe assim que, apesar das diferentes matrizes racionais
nas quais se formaram os brasileiros, também por questões culturais e por
situações regionais, "os brasileiros se sabem, se sentem e se comportam
como uma só gente, pertencente a uma mesma etnia". Formamos uma etnia
nacional única, um só "povo incorporado".
Ressalta que este mesmo processo ocorreu consolidar os
antagonismos sociais de caráter traumático. Diz:
A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre
conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na
brutalidade racista e classista. Ela é que incandesce, ainda hoje, em tanta
autoridade brasileira predisposta a torturar, seviciar e machucar os pobres que
lhes caem às mãos. (1996, p.120)
Para Darcy formamos a maior presença neo-latina no mundo.
Somos uma "nova Roma". Segundo ele, melhor, porque racialmente lavada
em sangue índio, em sangue negro. Esta nossa singularidade nos condena a nos
inventarmos a nós mesmos e desafiados a construir uma sociedade inspirada na
propensão indígena para o convívio cordial e para a reciprocidade e a alegria
saudável do negro extremamente alterativo.
Será nesta perspectiva que nas linhas a seguir buscaremos
esboçar, segundo os termos de Darcy Ribeiro, as principais articulações de como
os brasileiros se vieram fazendo a si mesmos chegando a ser o que hoje somos.
Via - Portal Vermelho
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