Diversas organizações aderem à luta da minoria muçulmana do
sul da Califórnia contra Trump. A principal organização islâmica dos EUA inicia
ação contra o presidente.
A organização muçulmana Conselho de Relações Islâmico-Americanas (CAIR, na sigla em inglês), anunciou, nesta segunda-feira, a abertura de um novo processo contra o Governo de Donald Trump por causa da ordem executiva que veta a entrada nos Estados Unidos de imigrantes e refugiados de sete países com maioria muçulmana. A denúncia de inconstitucionalidade, apresentada em um tribunal federal da Virgínia em nome de 20 imigrantes legais dos países afetados pelo veto, se soma à que foi apresentada pela União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês), que conseguiu a suspensão temporária das deportações desde sábado, e a outra apresentada pelo Estado de Washington.
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Ao mesmo tempo que anunciavam o processo, os muçulmanos do
sul da Califórnia, onde vive a maior comunidade iraniana do mundo fora do Irã,
receberam o apoio de organizações de defesa dos imigrantes latinos, sindicatos
e vários rabinos judeus. Trata-se de um exemplo da quantidade de grupos e
sensibilidades que se juntaram nos protestos em todo o país contra a ordem de
Trump.
“Hoje somos todos muçulmanos”, disse Ana Briceno, do
sindicato de serviços Local 11 e membro de uma rede de colaboração entre
latinos e muçulmanos formada assim que Trump assumiu a presidência. Briceno
participava de um ato conjunto com os líderes do CAIR, em sua sede, em Anaheim.
“Trump envergonhou a herança dos Estados Unidos”, afirmou.
“Estamos juntos com nossos irmãos muçulmanos”, declarou
Angélica Salas, diretora da CHIRLA, a organização de defesa de imigrantes mais
ativa do sul da Califórnia. “Nós sabemos o que é ser perseguido pela imigração
e o que é não te deixarem entrar no país. Defenderemos os direitos de nossos
irmãos muçulmanos com a mesma ferocidade que os nossos”, disse Salas, que fez
uma advertência sobre as futuras medidas de Trump: “Se isso está acontecendo
com as pessoas que têm visto, podem imaginar o que vai acontecer com quem está
ilegal?”.
O rabino Steve Einstein disse que “este país deveria ser um
lugar seguro para aqueles que fogem”. “Sou neto de imigrantes que vieram para
cá porque o Governo do país deles não os queria por causa de sua religião”,
afirmou Einstein, para quem “a oposição ao fanatismo é um ato sagrado”. A cena
na sede do CAIR, onde também estavam a ACLU e o sindicato de serviços SEIU,
resumia a enorme oposição que a ordem de Trump gerou na Califórnia, das instituições
mais altas a todo tipo de organizações de base.
Essa oposição foi traduzida em manifestações espontâneas durante todo o fim de semana. Milhares de pessoas tomaram o terminal internacional do aeroporto de Los Angeles desde a noite da sexta-feira, quando se conheceram os primeiros casos de pessoas retidas ao tentar entrar nos Estados Unidos apesar de contar com vistos ou com carteiras de residência permanente em dia. Dezenas de advogados voluntários passavam pelo terminal perguntando às pessoas se estavam esperando por alguém dos sete países afetados pela ordem executiva de Trump: Irã, Iraque, Somália, Sudão, Iêmen, Síria e Líbia.
A advogada da ACLU, Caitlin Sanderson, que passou todo o fim
de semana no aeroporto, afirmou que de sete pessoas retidas, seis foram
liberadas antes da noite de domingo. Uma delas foi deportada, mas uma ação da
ACLU obrigou o Departamento de Segurança Nacional a devolver o deportado aos Estados
Unidos. Sanderson disse ao EL PAÍS que não se sabe qual era a situação no
terminal internacional do aeroporto na segunda-feira, já que a polícia de
fronteiras se negou a dar informações. Segundo as conversas que voluntários da
organização tiveram com familiares que esperam alguém vindo dos países
proibidos, a ACLU acredita que os agentes de fronteiras estão usando ameaças
para obrigar alguns passageiros a renunciar a seus vistos ou permissões de
residência, para assim poder deportá-los.
O caso dos iranianos é especialmente preocupante no sul da
Califórnia, já que é onde está a maior comunidade dessa nacionalidade fora do
Irã, estimada em 500.000 pessoas. Em Los Angeles vivem cerca de 70.000, a
maioria de judeus iranianos que se estabeleceram em Beverly Hills há décadas
fugindo da perseguição da Revolução Islâmica. Entre a comunidade iraniana
muçulmana, especialmente os que chegaram mais recentemente, é normal ir e
voltar do Irã ou ter familiares de visita.
Fonte; El Pais
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