Faltam apenas dez dias para o primeiro turno das eleições
presidenciais do Equador. Às vésperas da votação, cinco institutos de pesquisa
locais apontam vitória do candidato Lenín Moreno, ex-vice-presidente e sucessor
de Rafael Correa. Se a população escolher a continuidade da Revolução Cidadã,
pode ser um marco de renovação do ciclo progressista em toda a América Latina.
O Centro de Investigações e Estudos Especializados mostra
Lenín Moreno (Aliança País) com 43% das intenções de voto; em segundo lugar o
banqueiro, defensor de um programa neoliberal, Guillermo Lasso (Creo) com 21%;
em terceiro está Cynthia Viteri, do Partido Social Cristão, com 12,6%; Paco
Mocayo, do Acordo Nacional, tem apenas 4%, Washington Pesántez (União
Equatoriana) e Patricio Zuquilanda (Sociedade Patriótica) figuram no quadro com
1%.
Esta será a última pesquisa divulgada no país porque, de
acordo com o regulamento eleitoral, as estimativas de votação só podem ser
feitas até dez dias antes da eleição.
Analistas e especialistas em política internacional encaram
a disputa no Equador como um termômetro para o quadro político na América
Latina. Isso porque é a primeira vez, em dez anos, que Rafael Correa não será
candidato, mas tenta eleger seu sucessor, Lenín Moreno.
A vitória de Moreno representaria uma continuidade do ciclo
progressista no continente, que atualmente está ameaçado, depois da vitória de
Mauricio Macri na Argentina em 2015 e o golpe de Estado no Brasil, em 2016.
Já a vitória de um dos candidatos neoliberais que lideram o
segundo e o terceiro lugar nas pesquisas, Guillermo Lasso e Cynthia Viteri, poderia
indicar um avanço da política voltada ao mercado, como tem acontecido na
Argentina e no Brasil.
Para o economista espanhol Alfrendo Serrano Mancilla, “a
disputa no Equador está além das eleições entre dois modelos completamente
distintos para o país. Desta vez, diante da ausência de Rafael Correa como
candidato presidencial, também está em jogo a capacidade da esquerda de
construir sucessores e [novas] lideranças”.
Ao longo de um ano de governo neoliberal na Argentina, o
país enfrenta a maior onda de desemprego da década, reajustes e medidas
antipopulares afetaram diretamente a vida dos trabalhadores, que perderam mais
de 30% do poder de compra do salário mínimo. O governo Macri é alvo de críticas
diariamente.
No Brasil, a gestão de Michel Temer ameaça a população mais
pobre com medidas que significam retrocessos em questões vencidas há décadas,
como é o caso da reforma da Previdência, apresentada pelo presidente, a
flexibilização de direitos trabalhistas e enfraquecimento do Estado.
Estas mudanças drásticas em dois países que obtiveram
avanços importantes nos últimos anos com governos progressistas podem refletir
na escolha dos cidadãos equatorianos, visto que o projeto apresentado pelo
principal concorrente, Lasso, segue nesta mesma linha.
Vale lembrar que, desde o início do “ciclo progressista” no
continente, com a vitória de Hugo Chávez em 1996, na Venezuela, a direita teve
apenas duas vitórias relevantes: Mauricio Macri na Argentina e maioria
parlamentar durante a gestão de Nicolás Maduro.
No entanto, a ofensiva da direita é crescente. Em 2016 houve
dezenas de tentativas de desestabilização do governo eleito na Venezuela, na
Bolívia e no próprio Equador. A mais grave de todas, obviamente, foi consumada
com o golpe no Brasil.
Diante deste cenário, a disputa no Equador pode ser um marco
da continuidade do ciclo progressista, ou do fortalecimento da direita. Se as
pesquisas estiverem certas, a primeira opção será a escolhida, mas só quem pode
confirmar esta hipótese são os equatorianos que irão às urnas no próximo dia
19.
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