Socialista e reencarnacionista, tenho todos os motivos do
mundo para não alimentar preconceitos, sejam eles quais forem, o que me deixa
muito a vontade para os comentários que farei.
De tanto falarem na novela que se encerrou na semana
passada, Império, e por causa da polêmica, principalmente entre os
fundamentalistas cristãos, que já provoca a nova novela da Globo, Babilônia,
resolvi consultar alguma coisa a respeito.
Na novela anterior, tivemos homicídios, muitos; irmão
querendo comer a mulher do irmão, filho querendo comer a mulher do pai;
homossexuais estereotipados e para todos os gostos, desde o que levava vida
dupla, hetero em casa e homo na rua, até o repórter escrachado, internauta;
mulher corneando marido; culminando por um parricídio, com o filho matando o
pai, tudo naturalmente, como forma de entretenimento.
O fio condutor da história é o mais banal de todos: alguém
encontra uma mina de pedras preciosas e constrói um império econômico.
Esta é a parte visível do iceberg, a que chega aos nossos
olhos e ouvidos, para ser interpretada e absorvida pelo cérebro.
Longe da Sociologia e da Psicologia que pouco sei, estão
nesta novela todos os ingredientes de um curso intensivo de neoliberalismo, da
cultura euro-norte americana que a Globo trabalha, reproduz e nos impõe.
Vejamos: se a nível de consciente o personagem principal é o
dono da empresa (Império), ele não basta para ligar todos os núcleos da novela,
o que nos remete mais além, e agora inconscientemente: o que liga e motiva tudo
é o dinheiro, eixo e sujeito de tudo, como preconiza o capitalismo.
E passemos aos valores estampados:
1) a meritocracia - enquanto a doutrina socialista preconiza
que a sociedade deve criar as condições de vida digna para todos os homens,
pelo colaboracionismo, a união, a divisão do trabalho e dos seus frutos, o
capitalismo entende que é pela competição, onde a vitória é mérito pessoal, que
se chega à realização.
Ora o todo poderoso da trama global encontrou uma mina de
gemas e enriqueceu, "trabalhando duro", um recado aos milhões de
garimpeiros (e a todos os trabalhadores) brasileiros "você também
pode", transformando a exceção em regra;
2) mata-se por dinheiro; detona-se, impiedosamente,
reputações (o gay do face) por dinheiro; trai-se a família por dinheiro;
reduz-se as relações afetivas a trocas de oportunidade para ganhar dinheiro...
Nos induzindo a crer que o dinheiro é o valor maior, razão da existência em
sociedade, um deus pagão acima da vontade dos homens, exatamente como Marx
mostrou que seria na etapa seguinte do capitalismo que ele não vivenciou
(morreu antes);
3) a liberação dos costumes, onde a beleza física e a
sensualidade são transformadas em instrumentos de ascensão social, ferramentas
para ganhar dinheiro...
E mais valores neoliberais eu poderia continuar apontando,
até que o meu ocasional leitor me perguntasse: é porque tanto homossexual no
universo da Globo?
E aqui saímos da Sociologia, da Psicologia e da Política
para cairmos no estritamente econômico: por se sentirem diferentes (sim, há
muitos preconceitos entre os homossexuais) e como forma de defesa contra uma
civilização cruel, homofóbica e violenta, fecham-se em grupos, criando uma
economia paralela (boates gay, lojas de roupas e grifes gay, restaurantes gay,
clubes gay...), forte e rentável, onde a Globo resolveu investir.
A Globo agora investe em dois nichos econômicos que não investia:
o gospel e o gay, com os seus muitos bilhões de dólares disponíveis para quem
quiser investir.
Esta aparente simpatia pelos LGBTs (Lésbicas, gays,
bissexuados e transexuados) nada têm de humanística, é comercial mesmo.
E o meu eventual leitor me fará outra pergunta:
"tá", você já falou da Globo e do dinheiro mas... Onde está o
paradoxo do título?
E respondo: diariamente a Globo nos dá aulas de
neoliberalismo, de como ficar norte americano, de como nos despirmos dos
valores morais, para substituí-los pelos valores de mercado, e caímos de pau,
seja nas redes sociais, seja na imprensa alternativa, nas igrejas e até nas
nossas conversas informais, cotidianas.
Mas quando a Globo complementa as aulas teóricas de todos os
dias com aulas práticas, convocando para passeatas e micaretas, justamente para
defender esses valores, junto com a classes rica e média alta, já cooptadas,
com os pés em solo brasileiro mas as cabeças em Miami, os pobres, vítimas e
críticos da imoralidade Global, muitos deles fundamentalistas cristãos,
comparecem, e pior, ajudam a organizar.
Não é um paradoxo?
Rio, 20/03/2015.
Obs: paradoxo é uma afirmação ou situação aparentemente
verdadeira que não se sustenta como verdade, por negar a razão, uma mentira ou
erro embutido no que supomos verdade.
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