O verme que está no ovo da serpente mexeu-se no último
domingo (15). O fascismo larvar que existe na sociedade brasileira deu um forte
sinal de vida.
Por José Carlos Ruy
Ato na Avenida Paulista: urro animalesco |
Mas nem todos os que foram às ruas no domingo são fascistas
ou simpartizantes do fascismo, como mostra a pesquisa do Datafolha, divulgada
nesta terça-feira (17).
Quem saiu às ruas no domingo, ou acompanhou a manifestação
pela televisão (em São Paulo há notícias de que ela despertou mais interesse do
que a Copa do Mundo) pode assistir cenas chocantes de falta de educação,
grosseria e intolerância. Um canal de televisão exibiu, por bom espaço de
tempo, um grupo de baderneiros do Rio de Janeiro berrando para as câmaras:
“Dilma, vai tomar no...”.
A expressão chula repetida em vários lugares (como a avenida
Paulista, em São Paulo) e mesmo exibida despudoradamente em camisetas substituiu
os black-blocs nesta manifestação. Foi expressão de despolitização e do ódio
que a as mudanças democráticas que ocorrem no Brasil desde 2003 despertam na
direita.
“Vai tomar no ...” não é bandeira política nem palavra de
ordem. É o urro animalesco da direita que quer de volta o Brasil antigo de seus
privilégios, como foi dito em faixas e cartazes, muitas vezes em inglês...
A midia hegemônica e conservadora fez de tudo para inflar o
traço golpista da manifestação. Extasiou-se com o número lendário criado pela
PM do governador tucano Geraldo Alckmin, mesmo depois de desmentido pelo
próprio Datafolha (a PM falou em um milhão, o Datafolha em 210 mil pessoas).
Essa disputa de números não é o mais importante. O relevante
é que eles registram a indignação de muitos brasileiros com as noticias de
corrupção amplamente divulgadas por aquela mesma mídia conservadora.
A pesquisa do Datafolha ajuda a entender a disposição
popular nesta conjuntura política contratória em que a luta de classes se
aprofunda.
A direita levou às ruas, no domingo. boa parte de seus
simpatizantes. Mas a pesquisa mostra que ela conseguiu mobilizar também setores
da classe média que, incomodados com as denúncias da Operação Lava Jato, podem
ser atraidos outra vez para o projeto de mudanças iniciado em 2003. São setores
que querem mais, e mais profundas, mudanças. Setores que, nesse sentido, podem
ir adiante do projeto direitista de retorno ao passado anterior a 2003.
Esse projeto que assanha – e é patrocinado – por empresas
imperialistas, como sempre ocorreu no Brasil. Uma reportagem publicada na
revista Fórum mostra que o Movimento Brasil Livre, um dos organizadores do
protesto, é financiado pela família Koch, dona da segunda maior empresa privada
dos EUA, com faturamento anual de US$ 115 bilhões. Entre seus inúmeros
interesses está o petróleo e eles se envolveram em várias partes do mundo em
escândalos ligados ao setor.
A pesquisa divulgada nesta terça-feira (17) pelo Datafolha
foi feita em São Paulo durante as manifestações nos dias 13 e 15 de março.
Na sexta-feira (13) – por coindência a data em que, há 51
anos, houve no Rio de Janeiro o famoso Comício da Central do Brasil pelas
reformas de base – ocorreu em São Paulo a manifestação convocada por centrais
sindicais e movimentos populares contra o impeachment, o golpismo e em defesa
do governo, da Petrobras e da reforma política.
No centro financeiro de São Pauolo, e sede do capitalismo
brasileiro, 71% das pessoas que lá estavam votaram em Dilma Rousseff no segundo
turno da eleição no ano passado, e 39% preferem o PT como partido político; 18%
defendem a Petrobras, 20% querem a reforma política e 25% não aceitam a redução
dos direitos dos trabalhadores.
A presença do proletariado foi forte; entre eles, o maior
número (38%), ganha até três salários mínimos, enquanto 24% ganham até cinco
mínimos; na outra ponta, 2% tem renda igual ou superior a 20 mínimos.
Isto é, entre eles predominam as pessoas com renda mais
baixa – 62% ganham até cinco mínimos mensais.
No domingo, dia 15, quem protestou na Avenida Paulista tinha
perfil diferente. Predominaram os eleitores do tucano Aécio Neves no segundo
turno da eleição: 82% dos manifestantes. Mas menos da metade (37%) indicou
preferência pelo PSDB. O principal contingente, quase metade do total (47%),
foi às ruas contra a corrupção; pouco mais de um quarto (27%) quer o
impeachment da presidenta, um quinto (20%) declaram-se contra o PT e menos
ainda (14%) são contra os políticos.
O dado interessante é o predomínio, na manifestação de
domingo, de pessoas com renda mais alta, indicando a provável presença da
classe média. A minoria tem renda inferior a três salários mínimos (14%); a
maior parte (27%) está entre cinco a dez mínimos, seguidos por quem ganha entre
10 a 20 mínimos (22%) ou mais de 20 mínimos (19%). Isto é, 68% tem renda
superior a cinco salários mínimos mensais.
Se estes dados mostram forte diferença entre os dois grupos
de manifestantes, há entre eles semelhanças que não podem ser desconsideradas.
A primeira delas é a alta escolaridade: os manifestantes com curso superior
eram 68% no dia 13, a favor do governo, e 76% no dia 15, contra a corrupção.
Outra identidade entre eles é muito significativa. São amplamente favoráveis á
democracia: 86% na sexta-feira e 85% no domingo.
Os dados do Datafolha sobre a manifestação do dia 15 indicam
que um enorme contingente de pessoas de classe média revela forte
descontentamento mas eles podem ser reconquistados para o projeto de mudanças
em curso no Brasil.
O ódio fascista contra o povo e as mudanças democráticas
contamina uma minoria que, embora expressiva, talvez chegue a um terço dos
manifestantes. A grande, imensa, maioria, é formada pelos que defendem a
democracia. É uma parte muito grande da população, que esteve nas duas
manifestações.
Os números do Datafolha indicam a urgência em se aprofundar,
no país, a aliança de todos os setores populares, progressistas e democrático
da sociedade brasileira. Aliança para criar a base social sólida que permita a
realização das mudanças que o país exige para consolidar e aprofundar a
democracia. É preciso ouvir atentamente a voz das ruas.
O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo chamou a
atenção para isso ao pregar a formação de uma “frente ampla, agora e já”, como
“tarefa das lideranças do conjunto dos partidos da base aliada, e mesmo de
personalidades da sociedade civil que apoiem ou não o governo, mas que tenham
afinidade com as bandeiras acima assinaladas, dentre outras. A esquerda, sem
abdicar de sua pauta, deve se empenhar ao máximo por esse empreendimento mais
candente.”
A luta de classes ocupa os cenários, mas ela não
opõe brasileiros contra brasileiros: ela opõe brasileiros do setor produtivo,
do emprego e do trabalho, contra a extrema minoria dos que tem ganhos
parasitários na especulação financeira e são aliados do imperialismo. Aliança
que, até recentemente, infelicitou o país e os brasileiros.
Via Portal Vermelho
Nenhum comentário:
Postar um comentário