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quinta-feira, 5 de março de 2015

Padre Francisco João de Azevedo

INVENTOR DA MÁQUINA DE ESCREVER

Padre Francisco João de Azevedo
O paraibano Francisco João de Azevedo nasceu em 4 de março de 1814. Pouco se sabe sobre a sua infância. É fato, porém, que cedo perdeu o pai, outro Francisco João de Azevedo. Desconhece-se o nome de sua mãe. Seus primeiros anos não foram nada fáceis, não só pela situação da viuvez de sua mãe, quanto pelo fato do Nordeste atravessar uma terrível seca na década de 1820. Sua meninice e suas dificuldades assim foram narradas pelo seu primeiro biógrafo, José Carlos de Ataliba Nogueira [1901 - 1983], no segundo capítulo de seu livro "Um inventor brasileiro", de 1934, intitulado Primeiros anos:

"Por essa época, fez-se sentir, acompanhada pelo tétrico cortejo de grandes males, a calamidade periódica da seca. O Nordeste ressequido, calcinado, comburido, tanto no sertão, como no litoral, e mais ali do que aqui. Foi de novo teatro de dramas pungentes, atingida rudemente, mais uma vez, através de dor lancinante, uma população sofredora, convertida em ruínas.

A ocasião era a menos propícia às grandes resoluções de uma vida. Entretanto, urgia tomar uma decisão. Azevedo não contava bem onze anos. A mãe, pobre e viúva. Sem embargo da sua tenuidade, destinava-o a prosseguir nos estudos. Passou a freqüentar a escola de primeiras letras. (...)

A escola de primeiras letras, com a escola de geometria, estava instalada ao lado das repartições da Secretaria Militar, no edifício do seminário dos extintos jesuítas.

Em casa aprendiam os meninos a ler, contar, escrever e rezar. Depois eram enviados às aulas de latim. A criação de uma cadeira de geometria e outra de francês trouxe notável melhoria de situação. Não existindo na Paraíba curso secundário, a mocidade estava sujeita à tutela literária de Olinda e do Recife, para onde se dirigiam os felizardos, em número mui escasso, pois eram poucos os que podiam arrostar com as despesas de manutenção em terra estranha.

Os senhores de engenho, esses podiam educar e instruir os filhos até em colégios estrangeiros, que os havia em Pernambuco, e ainda no de José Soares de Azevedo, notável figura de educador, que atraiu para aquela província a mocidade nordestina, cuja vida livre no engenho ameaçava endurece-la em homens demasiadamente rústicos. (...)

Azevedo, já adolescente, não podia sair da terra natal a fim de prosseguir nos estudos, cuja marcada vocação revelara no gosto com que ia à escola. Isso trazia em tristeza sua mãe, cuja viuvez, acompanhada de parcos recursos, por vezes encontrou conforto no auxílio de amigos do seu marido, como se dirá ao seu tempo.

Circunstância bastante feliz veio tirar da dificuldade a mãe zelosa e aflita.

A Regência provisória, em nome do Imperador, o Senhor Dom Pedro II, por decreto de 7 de junho de 1831 criou na cidade da Paraíba as cadeiras de ensino secundário: retórica, geografia e elementos de história, filosofia racional e moral e francês. Inauguraram-se os cursos, no ano seguinte, acrescidos de mais uma cadeira, que tanta influência teve na vida do nosso biografado: a de geometria. (...)

Corria sem novidade a vida do adolescente, quando um fato veio dar-lhe rumo diverso.

Na manhã de 17 de janeiro de 1834, chegava à Paraíba, por terra, d. João da Purificação Marques Perdigão, virtuoso bispo diocesano. Vinha em visita pastoral. Havia mais de quarenta anos a Paraíba não recebia a visita do seu prelado em pessoa. Os ordinários faziam-se representar, através do dilatado território de sua jurisdição, por visitadores, uma para cada capitania, e, depois, um para cada província. (...)

Provavelmente durante esta visita é que o jovem Francisco João de Azevedo conheceu o bispo de Olinda, ficando assentada a sua ida para o Seminário Diocesano.

Vencidas pela forma que se dirá oportunamente grandes dificuldades - que topavam todas no apoquentamento de meios de sua mãe - Azevedo partiu para Pernambuco, onde, feitos os preliminares exames com aprovação, se matriculou no histórico Seminário de Olinda, no princípio do ano de 1835."
                
Sua matrícula no seminário de Olinda pode ser comprovada, ainda de acordo com Ataliba Nogueira, no "Livro de matrícula do Seminário de Olinda", ano de 1835, seção meio-porcionistas, na página 40, na qual se lê: "Francisco João de Azevedo, de idade de 20 anos, natural da província da Paraíba, filho d'outro, residiu 270 dias...54$000". "Filho'outro", quer dizer, no estilo do livro, filho de outro de igual nome.
Tornou-se padre em 18 de dezembro de 1838, pelo Seminário de Recife, onde passou a residir. Na capital da Província do Pará (hoje João Pessoa), lecionou por vários anos, a partir de 1863, cursos técnicos geometria mecânica e desenho no "Arsenal de Guerra de Pernambuco" [1], notabilizando-se com um sistema de gravação em aço. Lá ele também desenvolveria uma invenção revolucionária: a máquina de escrever.

A rainha Ana Stuart [1665 - 1714], da Inglaterra, havia concedido a primeira patente de uma máquina de escrever em 1714. Eis a descrição da patente: "An artificial machine or method for the impressing or transcribing of letters singly or progressively one after another, as in writing, whereby all writing whatever may be engrossed in paper or parchment so neat and exact as not to be distinguished from print."
O idealizador do protótipo e autor do pedido, o inglês Henry Mill, nunca industrializou seu invento. Em 1829 o norte-americano William Austin Burt patenteou um modelo de máquina de escrever, mas o escritório onde foi feita a patente incendiou-se em 1836, queimando-se toda a descrição de seu invento.
Vários outros inventores desenvolveram protótipos (como Xavier Progin, em 1833), mas foi o Padre Azevedo quem conseguiu construir o primeiro modelo que funcionava. Tendo herdado as aptidões mecânicas de seu pai, concebeu seu projeto nas oficinas da fábrica de armamentos do Exército onde lecionava.
A mecânica atraía muito Francisco João de Azevedo. Recolhia-se às oficinas e laboratórios horas a fio, pela madrugada adentro, a planejar e resolver problemas das invenções que idealizava. Naquela época (e isso hoje causa espanto a qualquer um) existia no Brasil um organismo tecnológico excelentemente aparelhado para o fabrico de aparelhos, armamentos, equipamentos, fardamentos, máquinas, bem como tudo quanto necessário ao abastecimento do exército. Havia oficinas dotadas do melhor naqueles tempos, com pessoal qualificado (alfaiates, coronheiros, ferreiros, funileiros, serralheiros, etc.). Era, como se percebe, um templo de trabalho, com a vantagem de ter a tranqüilidade que todo inventor precisa.
Dois inventos já o preocupavam: um veículo para o mar e outro para a terra. O primeiro acionado pela força motriz das ondas e o segundo pelas correntes aéreas, sem qualquer motor. Restam sobre esses inventos apenas algumas poucas palavras que Azevedo dirigiu ao "Jornal do Recife" numa carta publicada em 6 de setembro de 1875. Ei-la:

"A despeito da coincidência de ocorrer a mesma idéia a mais de uma pessoa em tempo e lugar diferentes, direi somente que mais de uma vez ela se tem verificado, até mesmo nas edições poéticas. Mas como o jornal de Pelotas perguntou a quem pertencerá a palma, eu quero responder a essa pergunta: 'ao mais feliz'. Digo assim, porque no artigo 'invenções' eu sou tão infeliz, que, tendo publicado uma meia dúzia deles e guardado comigo alguns outros, ainda não pude conseguir que um só vingasse; nem mesmo aquele que mereceu na Exposição do Rio de Janeiro de 1864 a medalha de ouro! [2] Falo da minha máquina taquigráfica. Como, porém, carros movidos por outro força que não a de animais, ou do vapor, sejam uma velha invenção minha, vou pedir-lhe o favor de dar publicidade ao seguinte: há mais de vinte anos eu me ocupei com duas idéia que nas minhas tão inúteis elucubrações me haviam ocorrido; uma era para criar um motor, uma força que servisse à navegação marítima, substituindo a do vapor e a do vento. Achei-a no próprio movimento das ondas. Esbocei o projeto, dei-lhe grande desenvolvimento, mas não o concluí de todo, porque passei então a ocupar-me com outra idéia - a de descobrir um meio econômico para estabelecer-se veículos entre esta cidade e Olinda. Isto ficou para mim resolvido, o que naquele tempo eu comuniquei a alguns amigos, que hoje poderão dar testemunho da exatidão do meu acerto. Esta, como todas as minhas descobertas, ficou inútil, porque me faltou o dote, muito necessário e muito legítimo de saber recomendar a acreditar minha idéia. O acanhamento e a timidez de minha índole, a falta de meios, e o retiro em que vivo, não me facilitam o acesso aos gabinetes onde se fabricam reputações, e se dá diploma de suficiência. Daí vem que as minhas pobres invenções definhem, morrem crestadas pela indiferença e pela falta de jeito. Uma vez, porém, que os meus inventos não utilizam a mim, desejo que utilizem ao meu país, se tanta honra lhes puder caber. O motor a empregar era o vento e os carros deviam mover-se em todos os sentidos, ainda mesmo em direção oposta ao vento, podendo mover-se em sentido circular, sem que, em nenhum dos casos, diminuísse a velocidade primitiva."

Azevedo teve a idéia de construir uma máquina de escrever quando, em 1854, a primeira linha telegráfica construída do mundo transmitiu a mensagem entre Washington e Baltimore. O aparelho de David Edward Hugues [1831 - 1900] permitia escrever a máquina as mensagens telegráficas transmitidas a distância.

Azevedo teve que construir primeiramente, porém, a máquina taquigráfica, por razões econômicas. Precisava construir um aparelho que prestasse à imediata aplicação, possibilitando-lhe auferir lucros e, nesse sentido, nada melhor do que a taquigráfica, já que tanto o Conselho de Estado como a Câmara Legislativa e o Tribunal de Justiça precisavam de um processo prático para colher discursos, diálogos e debates orais dos seus membros, durante as sessões.

Azevedo empenhou-se obstinadamente nesta tarefa, conforme relata um dos seus contemporâneos e amigo íntimo, o médico Dr. Félix da Cunha Menezes, testemunha ocular do invento:

"Conheci muito de perto esse grande homem, sendo eu um dos maiores admiradores e devotando ao respeitável ancião verdadeira veneração... era então médico clínico na cidade do Recife, em 1872 ou 1873. Quantas vezes passava horas e horas, esquecido de tudo, a ouvir aquele sábio, alquebrado pelos desgostos e moléstias, com os seus óculos de aros de ferro, amarrados a um cordão sebento, sentado em sua tripeça de madeira tosca, de canivete e lixa, a regularizar pauzinhos, recortar letras de jornais para indicar teclas e limar tipos e embutir em martelos de madeira, para transmitir letras de papel, a enrolar arames finos e arranjar molas? Mostrava-me todas as peças, explicava-me sua engrenagem, sua maneira de aplicar e produzir a escrita, enfim, de tudo me fazia conhecedor..." [3]

É importante esclarecer que Azevedo fez duas invenções distintas: a primeira, apresentada na Exposição Nacional do Rio de Janeiro, foi a máquina taquigráfica; e a segunda, a máquina de escrever. Para Ataliba Nogueira, o melhor e mais profundo biógrafo do Padre Azevedo, não há dúvida quanto à realização de dois inventos. Escreveu ele na página 71 de sua obra "A máquina de escrever, invento brasileiro":

"A própria gravura da máquina taquigráfica exibida na Exposição de 1861 mostra a simplicidade de transformação da máquina taquigráfica em máquina de escrever. A gravura deixa ver nada menos de vinte e quatro teclas, das quais tão somente dezesseis funcionavam. Que o Padre Azevedo inventou e fez funcionar as duas máquinas, uma para escrever e outra para taquigrafar,(...) não cabe discussão".

Aproximava-se o ano de 1862, quando devia realizar-se em Londres uma Exposição Internacional, para o qual o Brasil fora oficialmente convidado.

A Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional tomou a iniciativa das providências. Nesse sentido, propôs e o governo aceitou que, como medida preliminar, fossem primeiramente organizadas pequenas exposições regionais nas Províncias, para facilitar a seleção dos produtos que deveriam figurar na Exposição Nacional do Rio de Janeiro, a partir da qual realizar-se-ia nova seleção, para a escolha definitiva dos mostruários destinados aos conclaves de Londres.

O Padre João de Azevedo decidiu expor sua máquina na Exposição Industrial e Agrícola da Província de Pernambuco. A imprensa da época proclamou o valor da sua invenção. De fato, a máquina taquigráfica era o centro das atenções da Exposição. O "Jornal do Recife", na edição de 16 de novembro de 1861 (data da inauguração da exposição), publicou:

"Em frente, do outro lado da sala, está um pequeno e elegante móvel, a máquina taquigráfica do Sr. Padre Azevedo; é um dos objetos que, sem dúvida, o Brasil enviará à Exposição de Londres no futuro ano de 1862, e que chamará sobre si a atenção e o exame das classes industriais da Europa."

A exposição durou sete dias, durante os quais passaram 12.356 pessoas. Do "Catálogo da Exposição dos produtos naturais, agrícolas e industriais da província de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará", apresentado ao presidente da Província de Pernambuco, Sr. Dr. Marcelino Nunes Gonçalves, pelo Sr. José de Vasconcelos, a 18 de novembro de 1861, consta a seguinte notícia:

"Expositor: O Padre Francisco João de Azevedo.

Número 67- Uma máquina de escrever

Foi o mais procurado objeto da exposição e certamente o mereceu pelo engenho com que está organizada. Eis aqui sua descrição:

"Representa e tem a configuração de uma espécie de piano pequenino... As letras que compõem uma sílaba saem impressas no papel em uma mesma linha horizontal, ora juntas ora apartadas umas das outras, e o decifrador não tem outro trabalho mais do que ajuntar as diferentes sílabas para formar as palavras.'"
O "Diário de Pernambuco", na edição de 25 de novembro de 1861, comentou elogiosamente a máquina:

"O piano taquigráfico do Sr. Padre Azevedo, que há de figurar na Exposição de Londres e que ali dará uma cópia brilhante do Brasil, tem uma importância no domínio da arte e nas exigências da prática, tal qual a do vapor sobre a força individual."
Concluída a Exposição Regional de Pernambuco, os produtos ali selecionados deveriam ser remetidos ao Rio de Janeiro, a fim de figurarem, como já foi dito, na Exposição Nacional.

O Padre Azevedo, porém, era um homem pobre e não podia, sozinho, arcar com as responsabilidades de uma viagem ao Rio de Janeiro, onde a sua presença era essencial, para que ele próprio explicasse o funcionamento da máquina e fornecesse esclarecimentos para um público certamente mais numeroso e exigente.

Em Pernambuco a referida máquina de tal maneira empolgou os que a viram, que nos centros culturais e sociais não se falava de outra coisa. Criou-se, mesmo, em torno dela, um clima de exaltação patriótica, isto porque o pernambucano não aceitava e não compreendia a idéia da máquina de Azevedo não figurar na Exposição Nacional, onde - todos tinham certeza - provocaria um êxito retumbante, revelando a capacidade criativa de um autêntico e iluminado filho do Nordeste. Sim, Pernambuco era (e talvez ainda seja) uma terra muito vaidosa.

Havia, porém, dificuldades econômicas. A máquina de Azevedo, como ele próprio disse, não estava completa. Necessitava de acabamentos e retoques finais, e isso custava muito dinheiro.

A Comissão Pernambucana compreendeu o problema do inventor. Dispôs-se, então, a ajudá-lo, contanto que a máquina chegasse ao Rio de Janeiro em companhia do autor.

A Comissão auxiliou Azevedo a concluir o invento e custeou sua viagem. Foi assim que ele, afinal, chegou ao Rio de Janeiro e expôs a máquina na "Primeira Exposição Nacional", de 1861, no Rio de Janeiro.
A Exposição Nacional, inaugurada não por acaso no dia 2 de dezembro (aniversário do Imperador Pedro II), realizou-se no Edifício da Escola Central, hoje
Escola Politécnica do Largo de São Francisco. Durante os quarenta e quatro dias que esteve aberta ao público (2 de dezembro de 1861 a 16 de janeiro de 1862) 50.739 pessoas (mais de um quarto da população) visitaram a exposição. Os prêmios foram entregues no dia 14 de março de 1862. Dos 1136 expositores somente nove foram distinguidos com a medalha de ouro... e Padre Azevedo foi um desses nove!

O próprio imperador Pedro II chegou a ver a máquina! Aparentando um piano, o invento era um móvel de jacarandá equipado com teclado de dezesseis tipos e pedal. Cada tecla da máquina de Francisco acionava uma haste comprida com uma letra na ponta. Eis como Padre Azevedo a descreveu:

"Se tocarmos uma só tecla de um piano para produzir um som, é inegável que o podemos fazer, ao mesmo tempo que pronunciamos um A ou um B ou mesmo uma sílaba qualquer; se tocarmos uma, duas, três, quatro teclas & Co., não sucessiva, mas simultaneamente, levaremos o mesmo tempo que gastamos em tocar uma só. Se esse piano constasse somente de dezesseis teclas, teríamos dezesseis sons diferentes; se tomássemos duas a duas, teríamos em combinações binárias pouco mais ou menos cento e vinte acordes; em combinação trinária aumentaríamos esse número, e se continuássemos por combinações quaternárias e seguintes, o número de acordes seria mais suficiente para exceder o número de sílabas em qualquer idioma.

A máquina taquigráfica, pois, assemelha-se nisso ao piano; ela tem dezesseis teclas, cada uma das quais, em vez de produzir um som como no piano, imprime sobre uma tira de papel uma letra do alfabeto; e da mesma sorte que no piano temos somente dezesseis sons, temos na máquina dezesseis letras diferentes; mas, combinando duas a duas, pode-se por uma convenção obter um número de sinais diferentes, não só para representar as demais letras, como também sinais ortográficos, abreviaturas & Co.

Mostraremos como com estes elementos se podem formar todas as sílabas, de sorte que, seja qual for o número de letras de que conste, sempre será possível formas todas elas de uma vez, com uma só posição instantânea, do mesmo modo que no piano se reproduz um acorde, particularmente esta que ministra o meio de escrever todas as palavras com tempo igual a àquele com que são pronunciadas, o que se consegue ainda em todo rigor ortográfico; mas, como em taquigrafia nada mais se exige do que uma indicação bem caracterizada de palavras, pode-se, para mais facilmente adaptar-se na taquigrafia por máquinas abreviaturas que a disposição e condições do seu alfabeto o teclado vantajosamente fornece.

Não daremos aqui uma descrição do mecanismo desta peça, porque na ausência dela ou do seu desenho não seria facilmente compreendida; limitar-nos-emos a dizer que consta ela, como já vimos, de um teclado com dezesseis teclas, sendo oito à direita e oito à esquerda. Logo que se comprime uma dessas teclas que representam pequenas alavancas, ergue-se na extremidade desta uma delgada haste, que tem na ponta superior uma letra esculpida em metal, em alto-relevo, a qual vai encaixar-se em uma outra letra igual, esculpida em baixo relevo, em uma chapa metálica fixa em cima dessas hastes.

Uma tira de papel da largura de três dedos, pouco mais ou menos, e de um comprimento indefinido, passando por movimento contínuo entre esta chapa e as hastes das letras, é por elas comprimida e recebe a impressão destas últimas, que conserva inalterável.

As letras que compõem uma sílaba saem impressas no papel em uma mesma linha horizontal, ora juntas, ora apartadas umas das outras, e o decifrador não tem outro trabalho mais do que ajuntar as diferentes sílabas para formar as palavras.

Trabalha-se na máquina como se toca num piano, com ambas as mãos, comprimindo levemente com os dedos as diferentes teclas de que ela se compõe, e aqueles que conhecem a ligeireza com que os mestres executam nesse instrumento as mais complicadas peças, compreenderão prontamente que nenhuma impossibilidade há de que com tempo e exercício se adquira nesta máquina uma destreza e agilidade tais, que permitam tomar as palavras, à medida que forem sendo proferidas, pois que para cada sílaba bastará apenas um pequeno toque com os dedos nas teclas convenientes, o que, sem dúvida, se poderá fazer em menos tempo do que o preciso para, na taquigrafia, escrever-se o sinal competente.
                
                A descrição se faz, dando às letras isoladas o valor que elas têm, e substituindo as combinações delas pelas que devem representar. (...)
O pedal servia para o taquígrafo mudar de linha no papel. Note-se que a descrição refere-se à máquina taquigráfica e não à de escrever. A máquina de escrever foi feita, com toda a certeza, a partir de modificações posteriores feitas por Azevedo. O "Jornal do Comércio", no dia seguinte à entrega dos prêmios (15 de março de 1862), publicou longo editorial narrando o acontecimento. Nele citava-se o padre:

"Ninguém deixará de louvar e de ter na maior consideração o estudo, a paciência e mesmo o trabalho manual que o Sr. Padre Azevedo teve de empregar para levar a cabo a sua invenção, que, como ele mesmo declarou, é suscetível de muitos aperfeiçoamentos, e teremos viva satisfação se ainda chegarmos a ver nos recintos dos nossos Corpos Deliberativos, ou mesmo junto das cátedras dos nossos oradores sagrados, a máquina taquigráfica de S. Rev.ma, funcionando de modo que não se perca uma só palavra dos Cíceros e Bossuets brasileiros. Concluiremos, dizendo que a máquina do Sr. Padre Azevedo foi julgada, e com razão, digna de ser representada na 'Exposição de Londres'".

Quem imaginaria que um provinciano do longínquo Nordeste viria conquistar na capital do Império a Medalha de Ouro, vencendo 1136 expositores e nada menos que 9962 objetos expostos! Embora constituísse o invento de maior sucesso dessa exposição, ao contrário de todas as expectativas, a máquina de Azevedo não foi enviada para a Exposição de Londres. O motivo dado pela Comissão foi "falta de espaço" no pavilhão reservado ao Brasil, o qual mal dava para colocar as amostras dos produtos naturais (minerais, madeiras, frutos, etc.) e os de transformação (café, cacau, borracha, fumo, algodão, mate, etc.), que, no entender da Comissão, tinham prioridade, partindo do pressuposto de que envolviam estes maiores atrativos comerciais do que os inventos. Vê-se, portanto, que não é de hoje que o governo brasileiro deixa de incentivar a Ciência.
Qual não deve ter sido a decepção do Padre quando, depois de ter recebido a Medalha de Ouro, lhe comunicaram que o modelo da sua máquina, por ele próprio tão caprichosamente executado, não mais seria levado à Exposição de Londres, pela inacreditável razão de "falta de espaço suficiente" para acomodá-la!

Padre Azevedo, a despeito desse fato, não renunciou à sua capacidade inventiva. Em 14 de outubro de 1866 ganhou medalha de prata pela invenção de um elipsígrafo na Segunda Exposição Provincial. Assim ele o descreve, na página 352 do "Relatório da II Exposição Nacional de 1886", organizada pelo Dr. Antônio José de Sousa Rego, 1o Secretário da Comissão Diretora:

"Este instrumento compõe-se de duas réguas de metal, colocadas em posição horizontal, tendo as suas extremidades firmadas em pequenas colunas de madeira, fixas a um arco também de madeira. Ainda que horizontais, as réguas estão postas em ângulo reto, e em cada uma há uma corrediça, tendo no centro um pequeno cilindro, vertical móvel sobre o eixo. Na régua superior está fixa uma manivela na parte superior do eixo do seu cilindro, e no eixo inferior deste está fixo uma haste de metal que passa por um anel fixo à parte superior do eixo do cilindro inferior, tendo o mesmo anel uma pequena chave que prende a dita haste em maior ou menor distância do eixo. Na parte inferior do eixo do respectivo cilindro há outra haste que passa por outro anel também com chave, e este por meio de uma terceira chave se prende a uma terceira peça, em que se coloca uma pena-tira-linhas, lipes ou diamantes, seguros por uma quarta chave. Variando a posição dos anéis ou da ponta da pena, depois de ter colocado o instrumento sobre o papel, chapa metálica ou pedra litográfica, e dando volta à manivela, obtêm-se elipses de diversos tamanhos, variando indefinidamente a relação dos seus diâmetros, fundado na diferença dos mesmos, a qual, se for nula, o instrumento descreverá o ponto e círculos, e retas, se o menor dos diâmetros for igual a zero, o que se obtém, fazendo que o ponto da pena fique na linha do eixo do cilindro inferior. Pode-se assim obter elipses concêntricas e em posições simétricas. Este instrumento aplica-se a vários usos em que se trata de obter elipses traçadas com precisão, e o sistema é adaptável à torneação."

Dois anos depois tornou-se professor de aritmética e geometria no Colégio das Artes, anexo à Faculdade de Direito do Recife.
A história da máquina de escrever do Padre Azevedo, porém, ainda não estava acabada. Ataliba Nogueira, biógrafo do padre Azevedo, disse que o padre foi convidado por um agente de negócios estrangeiro a ir aos Estados Unidos da América do Norte. Segundo depôs o Dr. João Félix da Cunha Menezes [5] isso teria ocorrido em 1872 ou 1873. O estrangeiro comprometeu-se a custear tudo, desde a viagem até a fundição das peças da máquina, que seria, em seguida, fabricada em série, cabendo a ele, o padre, como inventor, uma parte da cota dos lucros obtidos. Opunha, apenas, uma condição: Azevedo teria, preliminarmente, de mostrar-lhe a máquina, de explicar-lhe o funcionamento, detalhes e engrenagens, e o modo de trabalhar.
Nem em sonhos o padre imaginava as maldades e traições que o estrangeiro lhe faria.

Padre Azevedo agradeceu o convite, mas recusou-se a empreender a viagem, em virtude de sua saúde e da idade avançada. Além desses dois fatores, temia o clima rigoroso da América do Norte.

Diante da resposta, o forasteiro retirou-se; passados alguns dias, voltou à casa de Azevedo, desta vez para pedir-lhe que confiasse a ele a máquina, pois em troca lhe oferecia garantias e prometia grandes vantagens. O padre pediu tempo para pensar.

O restante da história não está bem explicado. Não se sabe como, o estrangeiro apoderou-se da máquina. Todos os historiadores culpam esse anônimo estrangeiro de ter roubado o invento, para ir apresentá-lo em seu país, como se fosse de sua autoria. O roubo desestimulou Azevedo a continuar no desenvolvimento da invenção.

Ataliba Nogueira sustentou intransigente a seguinte versão:

"... o que se conclui como certo é ter ido a máquina para o estrangeiro (...) servindo-se algum estrangeiro de qualquer embuste para ilaquear a boa fé do modesto provinciano, cuja qualidade intelectual de vasta cultura não constituía couraça para defesa eficaz contra a astúcia e o enredo de cobiçosos."
Note-se que o segundo encontro de Azevedo com o estrangeiro ocorreu em 1872 ou 1873.
Seis anos após a invenção do Padre Azevedo (em 1867, portanto) o norte-americano Christopher Latham Sholes [14 de fevereiro de1819 - 17 de fevereiro de 1890], com Samuel Soule e Carlos Glidden, pediu patente para uma máquina de escrever.

(...)

O encontro do Padre Azevedo com o estrangeiro ladrão ocorreu em 1872 ou 1873. Será mera coincidência? Daí a suspeita, bastante aceitável, de que o estrangeiro tivesse furtivamente revelado o modelo a Sholes, o único interessado e dedicado ao assunto, e este, o revelado a Remington. Leve-se em consideração também o fato de que a primeira máquina de escrever de Sholes, de 1867, é completamente diferente da lançada em 1874, e nota-se, entre a primeira e a última, um enorme avanço técnico.

Como divulgaram os jornais, a máquina taquigráfica seria imediatamente utilizada para registrar os discursos nas sessões do Conselho de Estado, do Superior Tribunal de Justiça, da Câmara dos Deputados e Senado e das Assembléias Legislativas. No Brasil não havia mercado para a máquina de escrever. O comércio e as repartições públicas brasileiras eram de moldes acanhadíssimos, empregando os mais rudimentares métodos, de acordo com o ínfimo volume dos negócios e papéis.

Como não seria incompreendida a vantagem da utilização da máquina de escrever naquela época, se dezesseis anos depois uma revista especializada em assuntos de arte e indústria, editada no Rio de Janeiro, a "Imprensa Industrial", recebia com estas palavras o aparecimento, na América do Norte, das máquinas Remington, no dia 10 de maio de 1877, página 528: "Incontestavelmente é uma bela invenção, principalmente para os que escrevem mal, ou sofrem das mãos e ainda acrescentado, para os cegos, que, nos Estados Unidos, já dela se servem sem dificuldade."

Ataliba Nogueira, embora sem levar em conta os detalhes funcionais (como seria desejável) mas louvando-se no exame superficial de fotografias, encontrou grande semelhança entre a máquina de Azevedo e a Remington no 1, "a ponto de verificar" - disse ele - "diante da simples aproximação da fotografia de uma ou de outra, que esta é a reprodução em aço daquela outra, fabricada em madeira, tamanha é a semelhança dessas duas máquinas, que podemos aceitar de todo a tradição oral relativa ao furto da máquina, apropriação do objeto e não da idéia".

A semelhança entre a máquina de Azevedo e a de Remington mostra que se trata do mesmo invento, pois uma máquina de escrever em essência constitui-se de quatro partes fundamentais: as teclas, ou meio impulsor; as letras (ou meio impressor), o carro (ou sustentador e condutor do papel sobre o que se escreve); e finalmente, o aparelho para tinta ou fita.
Infelizmente, esse não foi o primeiro invento brasileiro roubado, e não seria o último.
Escreveu Ernani Macedo de Carvalho:

"Uma investigação rigorosamente científica nos Anais e Relatórios da 'I Exposição Nacional', realizada em 1861, no RJ, traria, certamente, muita luz sobre esta invenção, e conseqüentemente, reivindicaria para o Brasil a glória dessa descoberta, como também promoveria a reparação de uma injustiça ao Padre Francisco João de Azevedo, cujo nome, por este e muitos títulos ilustres, por Direito e por Justiça, há muito já deveria estar colocado na Galeria dos Homens Célebres da Humanidade."

Ainda assim, os primeiros cursos de datilografia no Brasil exibiam na parede retratos do padre para homenagear o patrono da máquina de escrever. As escolas financiadas pela Remington faziam o mesmo, só que com o retrato de Sholes.
Em 16 de novembro de 1871, Padre Azevedo tornou-se sócio honorário do Instituto Histórico e Filosófico de Pernambuco. Em 31 de janeiro de 1872 tornou-se professor da Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais.
Quatro anos antes de morrer, ainda pôde ver a defesa de sua prioridade feita por um dos mais importantes periódicos daqueles tempos, a "Revista Ilustrada". Eis a transcrição integral do artigo, escrito pelo cronista Beltrano e publicado no número 23, no I, de 17 de junho de 1876:

"Não pode restar-nos a menor dúvida nesta terra que por uma casualidade Cabral descobriu, existe enterrada a grande caveira dum animal antediluviano talvez, mas com certeza de burro; enorme, descomunal é possível, mas de burro propriamente dito.

O brasileiro não tem o direito de inventar, de descobrir, de empreender uma idéia engenhosa, profícua, útil, realizar um melhoramento do qual se aproveite o país ou o mundo.

Crie a sua imaginação um invento, gaste seus dias em estudá-lo, coordená-lo, realizá-lo e apresente-o, porque encontrará três antagonistas desapiedados: a indiferença, a incredulidade e a inveja, que o aniquilam, o nulificam e estraçalham-lhe as suas esperanças mais bem fundadas, fazendo-lhe perder o fruto de longas vigílias e, quem sabe, se enormes dispêndios.

Desde que o mal-aventurado não faça uso do almíscar, da pomada, da luva de pelica, das cortesias e dos discursos, com que os Dulcamaras embalam os parvos nas praças públicas, não merece crédito, sofre todas as contrariedades, até que, exausto, desanimado, descrente, ou morre com o seu invento, ou vai leva-lo ao estrangeiro, que é quem lhe frui as vantagens.

Um padre em Pernambuco, Azevedo creio que se chama, inventou um engenhoso maquinismo para escrever, apresentou-o na exposição de 1867 [7]; foi examinado esse útil e bem combinado artefato e reconhecido como invento superior.

Como o padre não era abastado em fortuna, pediu auxílio à assembléia provincial para o fabrico e venda das suas máquinas. A assembléia exigiu tantas coisas, impôs tais condições que o homem desanimou e viu-se forçado a desistir da proteção que lhe ofereciam.

Vendo, porém, que seu país era muito rico para prescindir de uma invenção importante e utilíssima, mandou-a para a Inglaterra, que a recebeu com duas mãos gigantes. [8]

Atualmente a Grã Bretanha espalha por todo o mundo conhecido as suas utilíssimas máquinas de escrever. Ainda não me consta que viesse a esmola de alguma para o Brasil; mais tarde é provável que tenhamos de extasiar-nos diante de alguma e admirarmos o engenho destes industriais, que têm a habilidade de inventar coisas semelhantes!

Portugal já as importa e rende o preito devido ao engenhoso maquinismo.

Vejam os leitores o que a este respeito escreve uma folha portuguesa - o 'Comércio do Porto'.

"A convite da digna direção da companhia Aliança de Crédito e Auxílio das Artes Portuguesas, assistimos ontem a diversas provas produzidas por uma máquina de escrever, que a direção referida mandou vir de Inglaterra, a fim de estender, entre nós a sua propagação.

O aparelho referido, que apresenta um pequeno volume, é de mecanismo relativamente simples. O sistema geral dele é quase idêntico ao dos pianos, isto é, por meio de um teclado convenientemente adatado, consegue-se transmitir ao papel os caracteres correspondentes, formando palavras, linhas, parágrafos, enfim, a escrita regular de uma ou mais páginas. (...)

Como se acaba de ver, o artigo não diz uma palavra sobre o inventor. Se um dia, como já disse, vier ao Brasil uma destas máquinas, ao vê-la é possível que encareçamos suas vantagens e utilidade, mas, quem haverá que se lembre então que o seu inventor foi um brasileiro?

A não ser a fatal ossada de que acima falei, é muito provável que os nossos homens de Estado não se enganassem tão freqüentemente apadrinhando os charlatães que especulam com o dinheiro da nação e tratando de resto os homens prestantes, o saber e o mérito.

D. Beltrano"
Padre Azevedo morreu na segunda-feira de 26 de julho de 1880, sendo sepultado no dia seguinte, no cemitério da Boa Sentença. Seu nome jazia esquecido quando, em 1906, pelas colunas de um modesto periódico (o jornal do Comércio de Manaus) o paraibano Quintela Júnior publicou um artigo narrando que o inventor da máquina de escrever havia sido aquele provinciano. Foi uma revelação, apesar de conter poucos dados e esses mesmos repletos de erros quanto a fatos, nomes e datas. O artigo era desacompanhado de qualquer documentação. A notícia, porém, foi jubilosamente recebida por todo o Brasil. O artigo foi transcrito por vários jornais de todo o país.

Do brado inicial por diante, várias vezes a imprensa passou a ocupar-se do inventor brasileiro e da sua máquina.

O eminente escritor Sílvio Romero [9] escreveu uma carta ao vice-presidente do Instituto Histórico Paraibano e reafirmou a construção de duas máquinas:

"Icaraí, 27 de dezembro de 1911.

Ilmo. Sr. Coroliano de Medeiros,

Acuso recebida a carta de v. ex., de 15 do corrente, ao qual me encheu de grande satisfação por ver o interesse que ali, nesse pedaço do nosso querido Norte, se toma pelas glórias intelectuais do nosso grandioso Brasil. Agradecendo as amáveis expressões que teve a bondade de dirigir-me, obedeço ao seu apelo.

A estampa da máquina de escrever de Padre Azevedo, que ocorre na revista do Instituto Histórico Paraibano, dá bem a idéia da que eu vi. Mas me parece que o nosso grande inventor fez duas máquinas: uma em 1860 ou 61 para tomar debates taquigráficos, outra de escrever, esta mais tarde, que penso ser a que eu vi..." [10]

Em 20 de agosto de 1912, Sílvio Romero escreveu nova carta, desta vez dirigida ao redator da "Gazeta de Notícias":
            "Na Gazeta de hoje vejo que volta a tratar da invenção do Padre Azevedo, e noto que alguém contesta tal invenção. Venho dar-lhe o meu testemunho. Conheci o Padre Azevedo, durante os anos em que residi em Pernambuco, de 1868 a 1876. Falei com ele inúmeras vezes; vi a cansar a máquina de escrever, admiravelmente feita de madeira, capaz de reproduzir qualquer trecho falado ou escrito. Não sei se fez alguma outra para traçar elipses. Vi a máquina de escrever em casa do padre e vi-a exposta em público. O chamá-la taquigráfica não lhe tira o cunho de máquina de escrever. Vi-a funcionar, dando trechos de jornal para serem transcritos e ditando estrofes de poesias, ou trechos orais quaisquer. Isso afirmo eu, sob palavra de honra. Se o Padre deu o invento a algum estrangeiro para leva-lo aos Estados Unidos, ignoro." [11]
O Dr. Olindo Vitor, que ocupou o cargo de professor da Escola Normal do Recife e Diretor da Instituição Pública de Pernambuco, escreveu a José Cisne de Azevedo Júnior, então comerciante naquela cidade, e que fora educado e criado pelo seu tio, o padre Azevedo:
"Recife, 28 de outubro de 1924

Ilustre amigo Azevedo Júnior,

A respeito da máquina de escrever, invenção do padre paraibano, Francisco José de Azevedo, posso garantir-lhe o seguinte: mantive, por intermédio de um de meus tios, o Padre Joaquim Victor Pereira, relações de grande amizade com o referido padre, cuja casa, quer no antigo cais do Ramos, quer na atual praça Tiradentes, quer na rua da Ponte Velha, freqüentei com muito prazer para apreciar o talento e a sabedoria do ilustre sacerdote.

Ali tive ocasião de ver a célebre máquina, construída em madeira, com um teclado semelhante aos dos pianos e martelos em cujas extremidades se achavam caracteres tipográficos e trabalhado admiravelmente.

Fui testemunha da rapidez com que era apanhado qualquer trecho oral ou escrito e recordo-me perfeitamente que, depois da leitura, feita por meu pai, de alguns períodos do livrinho escolar, então em uso, 'Ornamentos da memória', de Roquette, o pe. Azevedo retirou o impresso e mostrou-nos acabado e nítido.

Informo-lhe também que vi a máquina para traçar elipses, quaisquer que fossem os seus eixos, o carro destinado às nossas praias, acionado pela força do vento e cujo modelo apanhei tão bem que mais tarde construí um quase semelhante para brinquedo de meus filhos.

O que aqui afirmo se passou entre os anos de 1873 a 1878, se a memória não me falha. Do Padre Azevedo possuo uma coleção de lindos modelos para desenho, que me foi oferecida e depois da sua morte adquiri as tábuas de logaritmos (edição de 1864) de Callet e as obras do matemático Bourdon, todas conservadas por mim como lembranças do grande talento artístico da minha terra.

Sempre ao seu dispor,

Am. e Patrício, Olintho Victor.

Esse depoimento foi publicado na revista Era Nova em 30 de setembro de 1925 por Coroliano de Medeiros.

[1] O Arsenal de Guerra de Pernambuco foi extinto em 1899.
[2] Lapso de Azevedo: a exposição ocorreu em 1861.
[3] "Revista do Instituto Histórico Paraibano", Vol. V
[4] Esta descrição consta do Relatório da Exposição, feito por Mário Mello e publicado na "Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco", vol. 28, página 250.
[5] Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco, Vol V, página 133.
[6] A primeira máquina de escrever com tecla de maiúsculas e minúsculas apareceu apenas em 1878.
[7] Erro do cronista: a exposição foi em 1861.
[8] Erro do cronista: o país para o qual a máquina foi enviada foram os Estados Unidos.
[9] Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos nasceu em Lagarto, cidade do Sergipe, em 1851. Foi pensador, crítico, ensaísta e primeiro historiador sistemático da literatura brasileira. Em 1880, com a tese "Interpretação filosófica dos fatos históricos", obteve a cátedra de Filosofia do Colégio Pedro II. Já publicara então quatro volumes: "Poesia contemporânea"(1869), "A filosofia no Brasil" (1878), Cantos do fim do século (poesia, 1878) e "A literatura brasileira e a crítica moderna" (1880). Membro fundador da Academia Brasileira de Letras, ocupou a cadeira no17. Foi notável a sua contribuição no campo da historiografia literária, que, a partir dele, passou a utilizar novos métodos de análise crítica com base sobretudo no levantamento sociológico. Além dos títulos citados, sua obra inclui: "Introdução à história da literatura brasileira" (1882), "Contos populares do Brasil" (1883), "Últimos arpejos"(poesia, 1883), "Valentim Magalhães" (1884), "Estudos de literatura contemporânea" (1885), entre outros. Morreu no Rio de Janeiro, em 1914.
[10] Esta carta consta da "Revista do Instituto Histórico Paraibano", Vol. V, pág. 155.
[11] Esta outra carta consta da "Revista do Instituto Histórico Paraibano", Vol. V, pág. 150.

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