Não precisa ser analista político para perceber que político
– e ponderado nas decisões tomadas – foi o Procurador Geral da República,
Rodrigo Janot. Estava em suas mãos uma bomba relógio que poderia desarticular o
cenário político estabelecido pelo próprio judiciário e pela imprensa
brasileira. Sobre este cenário, não preciso reafirmar minha posição; os fatos
são a pura representação das forças existentes que se repelem, do antagonismo,
das ideologias contrárias e da guerra midiática que deflagra um mal aqui e
acoberta outro ali. A presença de Antônio Anastasia (PSDB-MG) nesta lista e o
rechaço das investigações sobre Aécio Neves e a famosa lista de Furnas é um
rastilho tênue do envolvimento dos partidos de oposição nos escândalos de
corrupção. Como eu disse, um rastilho tênue, apagado quase sempre pela mídia e,
sobretudo pela própria justiça.
A justiça brasileira poderia se interessar sobre este
esquema de Furnas que nem mesmo Alberto Youssef soube decifrar. Ou não quis
decifrar. Naturalmente esta história poderia ser melhor esmiuçada pela justiça,
mas parece que vai de encontro aos interesses nunca esclarecidos dos grupos
hegemônicos. Os artigos das últimas semanas, refutados por alguns leitores,
ampliavam a discussão sobre os dois pesos e as duas medidas da justiça e da
imprensa brasileira. Evidente que a maioria dos nomes da lista é de políticos
que fazem parte da base governista. E não podia ser diferente porque estamos
falando de uma esquema originado numa estatal. Mas talvez o problema não esteja
na lista e sim nas delações de Youssef ou Paulo Roberto Costa. No quartel
general de Moro é onde habita o cerne incomentável desta epopeia.
A revista Veja antecipou o conteúdo da lista. Fala-se em
furo jornalístico. A verdade é que os métodos desta publicação fogem ao
entendimento de qualquer bom profissional de jornalismo. Como se infiltra? Como
chegaram até essas informações? Ou simplesmente arriscaram numa improvável
loteria de nomes? Acontece que neste país e, especialmente no Paraná, existe
uma estrutura mobilizada contra o governo.
Pretendem chegar às vias da
derrubada presidencial utilizando os subterfúgios da lei; assim, jamais poderão
ser considerados golpistas. Não se discute a corrupção, o financiamento privado
de campanha, a estrutura mantenedora dos esquemas de corrupção que sobrevive a
todos os governos. O que se pretende agora é derrubar o governo que aí está.
Para os profetas de desventura basta.
Todos os problemas do Brasil serão resolvidos.
A lista divulgada pelo STF poderia abrir espaço para um
debate profundo da sociedade brasileira sobre a corrupção. Continuamos com os
vícios de antes: um lado que se mostra imaculado – e é pútrido por dentro – e
outro que, marcado pela corrupção instalada no sistema, luta para se manter no
poder. É difícil estabelecer os prognósticos para esta história.
A falsa castidade de alguns partidos, cantada e decantada em
versos pela imprensa e protegida do fluxo das notícias, pode, no fim, ser a
antecipação de um arrependimento amargo e pernicioso para o Brasil. O país que
devemos construir não é aquele que acoberta as mentiras seculares, mas aquele
que expõe, em carne viva, os vícios de uma sociedade recheada de esquemas,
grandes e pequenos, de corrupção. A verdade sempre prevalecerá.
*Mailson Ramos é escritor, profissional de
Relações Públicas e autor do blog Nossa Política. Escreve semanalmente para
Pragmatismo Político
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