A praça da Sé voltou a ser lugar de resistência democrática
em São Paulo. Nesta quinta-feira (31) um ato político e musical reuniu, no
marco zero da capital paulista, cerca de 50 mil pessoas para denunciar o golpe
contra a presidenta Dilma Rousseff. A Sé foi tomada pelo movimento social,
coletivos culturais e diversas manifestações que indicaram que o espírito de
atos, como o do movimento Diretas Já, se mantêm vivo e renovado. A organização
foi da Frente Brasil Popular.
Izabel Donatti Bracco participou da manifestação com a
Batucada da Resistência, grupo de sambistas que desde dezembro do ano passado
participa das manifestações contra o impeachment. A memória dos comícios pelas
Diretas Já, que aconteceram na Sé, e foram vivenciados por ela, agora com 68
anos, ainda a emocionam.
“Isso aqui tava entupido. E dói muito ver que aquilo tudo
que a gente batalhou tá correndo risco. Nós batalhamos para votar pra presidente,
batalhamos pela constituição, que está sendo vilipendiada. Eu não quero nada
mais do que o combate a corrupção, à toda a corrupção e uma justiça imparcial.
E é isso que eu não vejo e é por isso que eu estou aqui”, explicou.
Na opinião de Raimundo Bonfim, presidente da Central de
Movimentos Populares, que integra a Frente Brasil Popular, núcleo organizador
do ato, a Sé voltou a ser palco de resistência.
“É uma onda ocorrendo no Brasil. E a praça da Sé tem muito
peso na luta democrática e estar aqui hoje, 31 de março, resistindo, quando se
comemora o aniversário do golpe é muito simbólico”, afirmou.
O subprefeito da praça da Sé, Alcides Amazonas, que
participou do ato, lembrou que a manifestação é um recado ao congresso
nacional. “A mobilização do povo nas ruas vai barrar o impeachment”, afirmou.
Amazonas ressaltou que esse ato só poderia acontecer na praça. “A Sé recebeu
eventos memoráveis de resistência. O ato de hoje só vai fortalecer o estado
democrático”, declarou.
Povo na rua é pressão no congresso
A vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão, lembrou que a
mobilização nas ruas é fundamental para ecoar entre os deputados do congresso
nacional que vão votar o impeachment. Nádia chamou a comissão de fraudulenta e
disse que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), deveria
ter sido cassado.
“Os nossos deputados estão lutando para mostrar a fraude que
é essa comissão e o processo do impeachment. Vamos lutar nas ruas para mostrar
ao congresso, aos parlamentares, para mídia que nós nas ruas não vamos deixar
passar o golpe”, discursou Nádia.
Na opinião da presidenta do Centro Brasileiro de
Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, a população
acordou. “E está dizendo não aceitamos o golpe e quer avançar rumo à democracia
com direitos sociais garantidos”, ressaltou. “Este ato é a demonstração
daqueles que querem paz contra os que estão fomentando o ódio. Queremos paz mas
não fugimos da luta”, completou Socorro.
Governo para todos os brasileiros
O grupo do qual ele faz parte atua dentro de uma concepção
política de esquerda. Segundo ele nem todos os evangélicos estão contra Dilma.
“Eu voto Dilma, voto Lula, sou a favor do governo, a favor
da justiça, da igualdade e da liberdade”, declarou. Luciano disse ainda que em
temas como homofobia, direito ao aborto, o grupo defende que é preciso
respeitar e garantir o direito daqueles que pensam diferente.
A trabalhadora ambulante Eliade Ribeiro, que estava no ato
vendendo bebidas, elogiou a manifestação. Segundo ela “estava muito lindo e que
torce pela Dilma e que é uma injustiça o que estão fazendo com a presidente”.
Eliade trabalhava como doméstica até ser demitida quando o
patrão se recusou a assinar a carteira e pagar os direitos assegurados por lei
sancionada por Dilma em 2014. “O patrão falava na minha cara, enquanto eu
cozinhava pra ele, que empregada doméstica não tem direito a ganhar nada. O que
ela (Dilma) fez foi muito legal dando direito para as empregadas domésticos”,
elogiou Eliade.
Em todo o Brasil as universidades públicas se tornaram
símbolos de resistência ao golpe. Um grupo de alunos e professores da
Universidade de São Paulo levaram uma faixa “USP contra o golpe”.
Jader Muniz, estudante do doutorado em letras da USP,
afirmou que a disputa nas ruas pode influenciar a decisão dos parlamentares que
vão votar o impeachment. “Acho que existe uma disputa que se dá nas ruas e
influencia no congresso porque os parlamentares tem que dar satisfação as bases
deles”, avaliou.
Ele defendeu que o ato deve ser popular mas ressaltou a
importância da presença da universidade.“A universidade identificada dentro
deste ato serve para legitimar as ideias contra o impeachment diante da opinião
pública”.
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