Prédio municipal foi destruído no dia da posse de James
Clark
Antiga prefeitura foi consumida pelas chamas no dia 4 de dezembro de 1959 (Foto: Reprodução) |
Após a eleição municipal de 1955, a população também soube
que Ovídio Damiani, João dos Santos, Oswaldo Menoti, Izídio Modena, Vitalino
Rodrigues da Silva, Alberto Filipak, Durval Veronese, Serafim dos Santos e
Francisco Antônio de Oliveira se tornaram os primeiros vereadores da recém
constituída Câmara Municipal de Terra Rica. Em menos de dois anos, o município
somou 20 mil habitantes, a maior parte vivendo sob a égide da cultura do café,
algodão e cereais. “Tínhamos quase sete milhões de pés de café plantados em
Terra Rica”, disse o pioneiro Joaquim Luiz Pereira Briso em entrevista
concedida ao autor deste blog em 2006.
A alta produtividade cafeeira contribuiu para que o
município alcançasse a marca de 146 estabelecimentos comerciais em pleno
funcionamento em 1957. Segundo o pesquisador Edson Paulo Calírio, Terra Rica
estava se desenvolvendo muito bem, além das expectativas. “Havia quatro hotéis
na cidade, cinco pensões e um cinema com capacidade para pelo menos 200
pessoas”, contou.
Entre os meios de transporte, o mais popular era o caminhão,
até pela facilidade de tráfego nas precárias e íngremes estradas de chão da
região. A frota de veículos circulando no município era de 52 caminhões, 14
automóveis e 3 jipes.
Em 1959, um novo prefeito trouxe mais esperanças à
população. O engenheiro de origem inglesa James Patrick Clark assumiu a
administração municipal quando a cidade atravessava um bom momento econômico.
Há dez anos vivendo em Terra Rica, Clark foi enviado à
região pela Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná (Sinop), comandada por
Ênio Pipino e João Pedro Moreira de Carvalho, com a missão de coordenar a
abertura de estradas, delimitação do perímetro urbano e divisão de lotes
rurais. James Patrick começou a gostar do lugar e dos moradores, então adotou a
cidade como lar definitivo.
Com bastante conhecimento sobre a realidade local e regional
não foi difícil para o engenheiro conquistar os eleitores e se eleger prefeito.
O trabalho liderado na mata fez até os mais humildes se identificarem com
Clark.
No entanto, a postura de James Patrick não agradava a todos,
principalmente a oposição política que não aceitou muito bem o resultado
registrado nas urnas.
“Exatamente no dia 4 de dezembro, quando Clark assumiu como
prefeito, atearam fogo na prefeitura, deixando somente as cinzas do antigo
prédio de madeira. Supostamente, a intenção era eliminar papéis comprometedores
que estavam em posse do novo gestor. A maior parte dos documentos tinha relação
com apropriação de terras”, revelou o pioneiro Joaquim Luiz Pereira Briso.
No momento da tragédia, não havia ninguém na prefeitura.
Outros antigos moradores de Terra Rica declararam que James Patrick Clark tinha
uma postura de trabalho bastante rígida e provavelmente não cedeu aos
interesses de outros políticos. Por isso, atearam fogo na prefeitura como forma
de punição e destruição de provas. Apesar da gravidade, ninguém foi
responsabilizado pelo incêndio criminoso.
Considerada uma autoridade de “pulso firme”, o engenheiro de
origem inglesa tinha fama de rejeitar acordos que não beneficiassem diretamente
a população.
“Naquele tempo de pioneirismo, havia muita rixa política,
era algo absurdo. Vendo tudo isso, eu nunca quis me meter com política, sempre
tive nojo. É muita sujeira”, desabafou Pereira Briso. Mais tarde, mesmo não
cedendo aos adversários, Clark foi surpreendido por uma grave doença que o
obrigou a se afastar da prefeitura para se tratar fora de Terra Rica.
Nesse período, a administração municipal foi comandada por
José Teixeira Prates, Agostinho Vicenzi, Antônio Gerlach e Alberto Filipak.
James Patrick planejava retomar a vida política, mas a doença já estava em
estado avançado. Clark faleceu antes de colocar em prática seus planos para
Terra Rica. “Ninguém jamais soube o que poderia ter mudado se ele tivesse
vivido mais”, comentou Briso.
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