Uma postagem por Vicente Neto em um grupo de rede social que
participo da Bahia, reportada nesse título, sucintamente traduz o combate ao
machismo e ao “gaslighting”, essa tão naturalizada forma de machismo, insidiosa
e muitas vezes eficiente.
A foto da presidenta Dilma Rousseff e a matéria publicadas
por uma revista semanal, no dia 2 de abril, estão incluídas vergonhosamente no
pior tipo de jornalismo e foram prontamente combatidas nas redes sociais.
Tornou-se evidente a intenção desqualificar Dilma Rousseff, com o objetivo
politico de alimentar a campanha golpista do impedimento da presidenta exercer
o mandato para o qual foi eleita, sem justificativa prevista na Constituição.
Amplamente também foram caracterizadas de machismo.
A caracterização não é gratuita. Ela desnuda uma forma de
machismo que muitas vezes passa desapercebida, até mesmo por pessoas que se
dizem não machistas e nem sempre acontece de forma tão rude. Originalmente o
termo gaslighting parece se reportar à peça GasLight que se transformou em
filme na década de 40 (no Brasil, À Meia Luz ) e retrata a tentativa do marido
de culpar a mulher e, sobretudo, de convencê-la, ainda que sendo vítima, de que
é culpada. O termo se generalizou e, atualmente, é considerado como referência
a um tipo de violência com manipulação psicológica que tenta levar uma
determinada mulher e também todos ao seu redor a considerar que ela esta fora
da realidade. Essa violência nem sempre tem sucesso e é tão planejada, mas a
depender das circunstâncias pode estar contida em expressões tipo ‘Você está
louca’, ‘Não dá pra falar com você desse jeito’, ‘Isso não aconteceu, você está
inventando’.
Para além da esfera interpessoal que se refere à violência
psicológica, esta a manipulação da mídia e na reprodução de estereótipos com
base na discriminação da mulher. No caso, a revista estampa uma foto tentando
ressaltar descontrole emocional, “As explosões nervosas”, da presidenta com o
objetivo de desmerecê-la pessoalmente e passando a idéia que ela não é
confiável para o cargo que ocupa. Uma outra capa de revista semanal por
exemplo, citada nas redes sociais, retratou o jogador Dunga, criticado por
comportamentos explosivos e a manchete foi “O Dom da Fúria. O que nos faz
perder o controle”. Nítida a diferença.
Como se vê não é somente manipulação da informação no geral,
tem a ver com machismo. Na mesma linha, não é raro, mulheres que participam da
politica, que tem opinião, que estão em espaços de decisão na sociedade, que
concorrem a cargos eletivos são frequentemente caracterizadas como de
“personalidade forte”, “mal amadas”, “solitárias”. Estereótipos que muitas
vezes levam as mulheres a uma defensiva para se incluir nos espaços a que têm
direito.
Acabei de ler o livro a Rainha Ginga, de Aqualusa. Numa
passagem nos idos de 1600, numa visita da rainha africana à Luanda como
embaixadora da paz, o seu anfitrião comenta sobre ela que “a inteligência
quando manifesta numa mulher, e para mais numa mulher de cor preta, de tão
inaudita, deveria ser considerada inspiração do maligno e , portanto, matéria
de competência do Santo Ofício”. Não estamos em 1600 na África e nem se trata
de vitimização. O machismo permanece entranhado na nossa sociedade, ainda que
grandes conquistas foram obtidas. Sua superação é um avanço civilizacional.
A mídia como difusora e produtora de cultura permanece
reproduzindo a discriminação das mulheres. Temos um longo caminho para se
alcançar a equidade de gênero. Um das ações é democratizar a mídia e combater
estereótipos que tentam desqualificar as mulheres, além de também tornar invisíveis
protagonismos de mulheres estupendas. E são muitas em nosso país.
*Julieta Palmeira é integrante do Conselho Estadual de
Comunicação do Estado da Bahia
Via- Portal Vermelho
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