No DCM
O que levou a ministra Carmen Lúcia a ser tão deselegante,
tão impiedosa e tão maldosa exatamente no dia em que foi eleita para suceder
Lewandowski no comando do STF?
A única resposta que me ocorre é uma combinação letal de
ódio no coração com ignorância presunçosa.
Dizer que quer ser tratada como “presidente”, tudo bem. Mas
afirmar que quer isso por ser “amante da língua portuguesa” é ao mesmo tempo
uma crueldade com Dilma e um disparate linguístico.
Presidenta é uma forma absolutamente correta. Ao contrário
de Carmen Lúcia, o português é uma língua generosa: em várias situações, admite
mais de uma escolha.
Dilma optou por presidenta para reforçar o ineditismo de ser
a primeira mulher a ocupar o Planalto.
A mídia jamais a tratou como ela desejava não por amor ao português
castiço ou coisa do gênero. Foi uma decisão meramente política. A Veja tratou
Isabelita Peron como presidenta da Argentina nos anos 1970, para ficar num
caso. Presidenta figura no Aurélio desde a edição inicial, em 1975.
No âmbito da Academia Brasileira de Letras, o imortal Merval
Pereira não usa presidenta, mas o imortal Machado de Assis usou em Memórias
Póstumas de Brás Cubas.
Chega?
Negar a Dilma o título escolhido por ela fez parte do jornalismo
de guerra que as grandes companhias de mídia adotaram contra ela desde o
primeiro dia de seu primeiro mandato.
Dilma teve 54 milhões de votos. Carmen Lúcia teve um: o de
Lula, que a levou ao STF em mais uma de suas escolhas desastradas.
Mesmo assim, Carmen Lúcia se acha no direito de sapatear em
cima de Dilma. E exatamente quando Dilma enfrenta um drama épico, seu
afastamento por um crime que não cometeu.
As mulheres de hoje têm uma palavra para expressar a
fraternidade feminina: sororidade. O que Carmen Lúcia fez é o exato oposto de
sororidade.
Se não bastasse tudo, o comentário infeliz vem num momento
em que uma parcela expressiva dos brasileiros nutrem total desconfiança em
relação à lisura da Justiça e, especificamente, do STF.
A mesquinharia gratuita de Carmen Lúcia apenas vai reforçar
essa desconfiança.
Numa tirada antológica, Sêneca escreveu que ao se lembrar de
certas coisas que dissera invejava os mudos.
A nova presidente — chamemo-la como quer — do STF poderia
refletir sobre a frase de Sêneca.
*O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial
do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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