Terra Rica amanheceu apreensiva com a ação ocorrida durante
a madrugada. Estima-se que no mínimo 15 homens participaram da ação que teve
explosões, troca de tiros, reféns e fuga.
Na manhã de ontem a vida seguia normalmente para a maioria
da população de Terra Rica Foto: Robson Fracaroli.
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“Já ouvi dizer que isso acontece em cidade grande, nunca
imaginei que aconteceria aqui. No momento em que começaram as explosões deu
muito medo. Hoje a minha sensação é de indignação e insegurança. Questiono-me
se isso vai acontecer novamente”.
A frase é do empresário do ramo de construção civil, Jorge Crepaldi
Pontes, e demonstra o sentimento da população de Terra Rica (61 quilômetros de
Paranavaí). A cidade com uma população estimada em 16.326 habitantes amanheceu
ontem com o saldo de 13 caixas eletrônicos explodidos em quatro agências
bancárias.
Uma outra agência bancária teve a porta danificada e o
sistema de segurança foi ativado (cortina densa de fumaça) evitando a ação
criminosa neste local.
A AÇÃO - Sem dúvida este foi o maior roubo (em termos de
organização e locais afetados simultaneamente) realizado na região da
Associação dos Municípios do Noroeste do Paraná (Amunpar).
A ação começou por volta das 3h. Os criminosos entraram na
cidade vindo pela região de Diamante do Norte, usando uma picape Chevrolet
S-10, uma Toyota L-200, um Ford Versailles e um Peugeot 307.
Antes de instalarem os explosivos os criminosos renderam
dois vigias e os fizeram de reféns. Os vigias foram obrigados a ficar
ajoelhados no meio da Avenida São Paulo em frente às agências do Bradesco e da
Caixa Econômica Federal.
Um policial civil que estava de folga escutou a primeira
explosão e saiu de sua casa com o carro particular. Foi verificar o que
acontecia na cidade e acabou recebido a tiros.
O policial foi até a Delegacia e se uniu a um investigador
que estava de plantão. Juntos foram até a casa de um terceiro policial, que
também estava de folga. Os três retornaram e novamente foram recebidos com
tiros.
Parte da quadrilha ficou trocando tiros com os policiais e o
restante continuou explodindo os caixas eletrônicos do Banco Itaú, da Agência
Sicredi e do Banco do Brasil.
Interferiu na ação dos policiais o fato de os criminosos
terem feito uma barreira com os dois reféns e também o armamento mais pesado da
quadrilha. Mesmo assim, foram mais de 10 minutos de troca de tiros.
Em menos de uma hora de ação, os ladrões fugiram com os
reféns seguindo em direção ao Rio Paranapanema. Antes de chegar à barranca do
rio, os reféns foram liberados - ninguém mais viu os criminosos.
Um grande número de policiais militares foi deslocado para Terra
Rica, barreiras foram montadas nas rodovias e um intenso patrulhamento
realizado nas estradas rurais.
No final da madrugada a PM localizou a camionete L-200
abandonada dentro da água próximo onde funciona a travessia de balsa no Rio
Paranapanema.
Quando o dia amanheceu, as pessoas saíram às ruas e os
comentários eram de incredulidade. No local da troca de tiros os policiais
recolheram cartuchos de munições de 9 milímetros, ponto 45, ponto 40 e ponto
380.
Na frente das agências, vidros estilhaçados e espalhados
pela calçada e ruas. No interior dos bancos, o que se via era ferro distorcido
e muito prejuízo provocado pelas explosões.
PREJUÍZO - O saldo da noite de terror foram dois caixas
eletrônicos explodidos no Banco Bradesco, três no Banco Itaú, três na agência
do Sicredi e outros cinco terminais eletrônicos destruídos no Banco do Brasil.
Os valores levados dos caixas eletrônicos ainda não tinham
sido calculados e provavelmente não serão divulgados por questão de segurança.
Porém, para se ter uma noção do tamanho do prejuízo, ontem
seria realizado o pagamento dos funcionários de uma usina de álcool que emprega
mais de 1.500 funcionários. O que não foi divulgado é se os caixas já estavam
com dinheiro ou se seriam abastecidos na manhã antes do início do atendimento
ao público.
RELATOS - Um comerciante (pediu para não ser identificado),
morador próximo ao Banco do Brasil, relatou que no momento da primeira explosão
acordou assustado. Em seguida escutou vários disparos e mais explosões.
“Minha filha acordou e começou a chorar de medo. Torcia para
que tudo acabasse o mais rápido possível. Meu medo era que uma bala perdida nos
atingisse”, relatou o comerciante.
Um casal de namorados estava deitado na sala e assistia
filme quando houve uma das explosões. O detalhe é que estavam num apartamento
no andar superior de um dos bancos que tiveram os caixas eletrônicos
explodidos.
“Foi um grande susto e corremos para a despensa e nos
trancamos. O medo era dos tiros que sucederam. Achávamos que uma bala perdida
poderia nos atingir. Depois que acabou a ação dos bandidos é que saímos e vimos
o tamanho do estrago. Não consegui dormir depois, fechava os olhos e tudo
voltava na mente”, disse o rapaz.
MOVIMENTO - Na manhã de ontem a vida seguia normalmente para
a maioria da população de Terra Rica, porém, algumas pessoas tiveram suas
rotinas alternadas. O empresário José Benedito Filho foi uma delas. Ele teve
que adaptar o atendimento para dar conta do aumento de 50% em sua lotérica.
Benedito Filho explicou que teve que limitar o saque em no
máximo R$ 500,00 para poder atender todas as pessoas na Lotérica Terra Rica.
“Acredito que no período da tarde o movimento será maior e não queremos deixar
de atender ninguém”, disse o empresário, no final da manhã.
Um taxista que pediu para não ser identificado, explicou que
já tinha feito uma corrida com quatro funcionários da usina que foram até
Itaúna do Sul sacar o pagamento. “Eles racharam o valor da corrida. Acho que
nos próximos dias terei muito serviço”, concluiu o motorista.
NORMALIDADE
Em todas as agências danificadas a resposta foi padrão
quanto à previsão de voltar a normalidade. Eles primeiro teriam que fazer uma
avaliação dos estragos e contratar um engenheiro para analisar se houve danos
na estrutura dos prédios.
No caso do Sicredi já estava certo que no máximo em 45 dias
uma nova agência estará montada e recebendo os cooperados. Neste período os
clientes poderão usar a estrutura de Diamante do Norte e uma equipe de negócios
será mantida em Terra Rica para atender associados.
Com relação ao pagamento de boletos bancários a população
terá que fazer a quitação nas casas lotéricas, centrais de recebimento e na
agência dos Correios. Além disso, os clientes poderão usar o sistema on-line de
cada banco.
Via - Diário do Noroeste
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