O senador Aécio Neves (PSDB-MG) utilizou parte do seu tempo
no julgamento da presidenta Dilma Rousseff para tentar justificar que sua
atuação na política do "quanto pior melhor" não foi provocado pelo
inconformismo com a derrota nas urnas em 2014. Disse que já se conformou com a
derrota, mas fez questão de citar a ação que o seu partido, o PSDB, abriu logo
depois da derrota nas urnas.
"O que eu tenho dito, afirmei no meu discurso, e
reafirmo aqui para o senhor, é que a partir do dia seguinte da minha eleição,
uma série de medidas políticas para desestabilizar o meu governo foram tomadas.
Primeiro, pediu-se recontagem de votos. Depois, pediu-se auditoria das urnas.
Nos dois casos, após um ano, verificou-se que isso não tinha nenhuma
irregularidade. Na sequência, senador, antes da minha diplomação, arguiu-se no
TSE, e levantou-se a necessidade de auditar as minhas contas. Isso está em
processo", disse Dilma, lembrando que o senador tucano também tem suas
contas de campanha sob investigação do TSE.
O que motivou a pergunta de Aécio foi o discurso da
presidenta Dilma que foi enfática: "Desde a proclamação dos resultados
eleitorais, os partidos que apoiavam o candidato derrotado nas eleições fizeram
de tudo para impedir a minha posse e a estabilidade do meu governo. Disseram
que as eleições haviam sido fraudadas, pediram auditoria nas urnas, impugnaram
minhas contas eleitorais, e após a minha posse, buscaram de forma desmedida
quaisquer fatos que pudessem justificar retoricamente um processo de
impeachment... Como é próprio das elites conservadoras e autoritárias, não viam
na vontade do povo o elemento legitimador de um governo. Queriam o poder a
qualquer preço".
Respondendo as indagações de Aécio, que resgatou perguntas
que fez durante os debates eleitorais de TV, Dilma afirmou que a queda dos
preços das commodities, como petróleo e minério de ferro, em 2014, que afetou a
economia do país. A presidenta destacou que três dias após o segundo turno
eleitoral, os Estados Unidos começaram a sair da política de expansão fiscal.
"A consequência é elevação dos juros americanos e
desvalorização generalizada das moedas. Esse é um processo extremamente
comprovável. Não foi só o real. Foram todas as moedas atingidas, provocando um
efeito na inflação, via o câmbio desvalorizado", disse Dilma, citando
ainda a grave crise energética provocando uma das maiores secas da história no
Sudeste.
Dilma salientou que a política do "quanto pior
melhor" ganhou um parceiro com a eleição de Eduardo Cunha par a
presidência da Câmara dos Deputados.
"Esta eleição do senhor Eduardo Cunha produz uma
situação complexa para meu governo. Os projetos que enviamos para buscar uma
saída fiscal para nossa situação, [...] houve uma ação negativa, no sentido de
não aprovar o que mandamos. E ainda houve as 'pautas-bomba' [que aumentaram os
gastos]", lembrou.
Ela afirmou de forma chantagista o Congresso não funcionou
como deveria. "Todas as comissões cuja ação têm impacto na questão fiscal
não funcionaram", disse ela, frisando que essa conduta tinha como objetivo
inviabilizar o seu governo. "Isso sim é um descompromisso com a coisa
pública", afirmou.
Ela salientou que o seu governo propôs as medidas
necessárias para equacionar a questão fiscal. "Não acho, de maneira
nenhuma, a situação que qualquer presidente da República enfrentará, diante de
crises cíclicas, que elas podem ser encaradas sem cooperação de diferentes esferas
do poder. Não podemos aceitar que se faça a política do 'quanto pior,
melhor'."
Dilma refirmou que respeita o voto direto e que prefere o
barulho das ruas, das disputas eleitorais. "Não respeito a eleição
indireta, que é produto de um processo de impeachment sem crime de
responsabilidade. Isso não posso respeitar. Posso, ao longo do meu mandato, ter
cometido erros e não ter cumprido tudo o que era esperado de mim",
declarou.
Finalizou a sua fala dizendo que, quando qualquer sistema
político aceita condenar um inocente é criado um nível de exceção com
consequências políticas. “Não estou aqui dizendo que hoje está tendo um golpe
de Estado. Estou dizendo ‘me condenem que este golpe será irreversível’. E aí
uma das maiores instituições do país, o Senado da República, terá cometido um
crime contra uma pessoa inocente”.
Assista ao trecho do pronunciamento de Dilma Rousseff em que
cita "o candidato derrotado": Clique Aqui
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