Após a conquista inédita do ouro no futebol masculino na 31ª
Olimpíada, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) prometeu nesta
segunda-feira (22) dar um prêmio de R$ 12 milhões aos integrantes da Seleção
Olímpica de futebol. Ao mesmo tempo, fala-se em extinção da seleção permanente
de futebol feminino.
A diferença em relação aos outros esportes coletivos é
gritante. Segundo informações divulgadas pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB)
cada atleta que subiu no pódio recebeu uma premiação de R$ 35 mil, não
importando de qual metal fosse feita a medalha.
Nos esportes coletivos, a remuneração é de R$ 17,5 mil,
metade e o pagamento será feito via patrocinadores.
A dura surpresa, no entanto, veio na tarde desta
segunda-feira, quando a CBF ventilou a possibilidade de extinguir a Seleção Permanente
de Futebol feminino. O que isto significaria?
As meninas do futebol terminaram os Jogos Olímpicos na
quarta colocação, o que é um bom lugar em vista do investimento que a CBF faz
na modalidade. A boa primeira fase, em que o Brasil goleou a China por 3 a 0 e
depois a Suécia por 5 a 1, para em seguida se classificar com um 0 a 0 diante
da África do Sul, fez com que a mídia colocasse a seleção feminina como
postulante ao título.
Essa expectativa só aumentou após a Seleção eliminar nos
pênaltis a Austrália e a Suécia também despachar a favorita Estados Unidos –
que nas 5 edições que disputou conquistou 4 ouros e um bronze –, também nos
pênaltis.
Esse desempenho rendeu. Segundo o Facebook, o futebol
feminino foi o esporte que mais mobilizou os usuários brasileiros da rede
social durante os Jogos. A modalidade ficou à frente do futebol masculino e da
ginástica artística, as duas outras categorias com maior número de interações
da rede.
No entanto, a desclassificação para a seleção escandinava
nos pênaltis e posterior derrota por 2 a 1 para o Canadá na disputa da medalha
de bronze, serviu para aguçar a crítica ao futebol feminino por setores
retrógrados da mídia esportiva e, agora, da própria CBF.
Após o jogo, visivelmente emocionada, a maior estrela do
time, Marta, declarou: "Ganhamos vários fãs durante a Olimpíada, enchendo
estádios. Isso é o maior prêmio para a gente. É óbvio que queríamos estar no
pódio, mas vamos levar esse reconhecimento com a gente. E peço ao povo
brasileiro: não deixe de apoiar o futebol feminino. Precisamos de vocês".
No entanto, a CBF parece estar tratando de esvaziar o
interesse pela modalidade. Em um bate-papo com o programa esportivo da Globo, o
Globo Esporte, um dos cartolas da CBF afirmou – com base não se sabe onde – que
o futebol feminino não "pega" no país.
Ele disse que o resultado do time na Olimpíada "não foi
o esperado" e agora vai restar apenas "a conta para pagar". Não
fosse apenas isso, ele defende a extinção da seleção permanente feminina,
fazendo com que o Brasil passe somente a "monitorar" atletas
nacionais e internacionais.
E o cenário pode ficar ainda mais preocupante, pois isso
resultaria no corte do apoio da CBF às atletas, como os salários mensais e a
regulamentação de competições nacionais. Nos próximos dias, o assunto deve ser
discutido pela confederação.
A declaração do dirigente vai contra o que propõe a Fifa,
que procura incentivar o desenvolvimento do futebol feminino, inclusive
repassando recursos à CBF.
O interesse pela modalidade no Brasil tem aumentado e é
inegável que atrai milhares de pessoas, tanto nos campeonatos continentais,
quando mundiais e olímpicos. Porém, nem a CBF, nem a mídia, dão o apoio
necessário às competições estaduais e nacionais para que o futebol feminino
decole também entre a massa de torcedores.
Dentro desse quadro, não é novidade que o técnico Vadão, o
comandante do time nos Jogos, ficasse "surpreso" com a quantidade de
pessoas acompanhando os jogos de sua seleção.
"Antes do jogo contra o Canadá, tivemos uma conversa
longa, em que eu disse que fiquei meio assustado e impressionado com a
conquista que tivemos, a do coração do torcedor brasileiro. Mesmo disputando o
bronze, o estádio estava lotado mais uma vez. A impressão que se tem é de que o
torcedor brasileiro vai começar a enxergar o futebol feminino de outra
forma", declarou Vadão à emissora ESPN.
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