Ao que tudo indica, se a intenção do interino Michel Temer é
fingir que não existem protestos no Brasil contra sua permanência no poder em
função do impeachment de Dilma Rousseff, a operação "abafa vaia" terá
de ser reformulada para alcançar resultados melhores, além de ser estendida ao
resto do mundo. Isso porque além dos atos "Fora Temer" Brasil afora,
a censura aplicada pela Rio 2016 nos estádios também viraram alvos de
reportagens da imprensa internacional.
Na última sexta, o GGN mostrou que o comitê organizador da
Olimpíada decidiu lançar de regras que impedem manifestações de qualquer ordem
- incluindo políticas - dentro dos espaços oficiais dos Jogos. Para dar guarida
à medida que fere claramente a Constituição brasileira, o Ministério da Justiça
de Temer disse que as normas da Rio 2016 estavam em conformidade com a lei
assinada por Dilma no dia 10 de maio, que versa, entre outras coisas, sobre os
direitos e deveres de torcedores dentro dos estádios.
A reportagem "Censurando protestos contra Temer, Rio
2016 viola a lei máxima" apontou que a lei desvirtuada pelo governo Temer
para censurar protestos políticos na Olimpíada foi a 13.284/2016. Agentes
policiais foram flagrados em vídeos abordando torcedores e ameaçando dar voz de
prisão. O motivo? A mensagem "Fora Temer" em cartazes, camisetas,
faixas ou até mesmo no grito dos insatisfeitos, de repente, virou uma
"mensagem ofensiva".
Neste final de semana, o Washington Post reportou ao mundo
que "por duas vezes, os espectadores foram removidos de seus assentos ou
expulsos de estádios porque pediu a destituição do presidente interino, Michel
Temer. (...) Estas últimas incidências de agitação política em eventos
Olímpicos são seguidas de protestos durante as procissões da tocha olímpica ao
redor do estado do Rio e de duas manifestações de rua antes de cerimônias de
abertura de sexta-feira."
"Organizadores e porta-vozes do governo disseram que o
regulamento da Rio 2016, bem como a lei brasileira aprovada em maio,
significava que nenhum tipo de manifestação política é permitida nos Jogos.
Críticos disseram que os espectadores estavam sendo censurados - uma palavra
que tem conotações amargas em um país que vivia sob uma ditadura militar
1964-1985."
Na lei assinada por Dilma, há um inciso no artigo 28
afirmando que "é ressalvado o direito constitucional ao livre exercício de
manifestação e à plena liberdade de expressão em defesa da dignidade da pessoa
humana." Os organizadores dos Jogos endureceram os trechos que vetam o uso
de objetos, como faixas ou bandeiras, mas quando as mensagens são discurso de
ódio ou ofensa a minorias.
Ainda de acordo com o WP, a censura praticada na Olimpíada
está no contexto de impopularidade de Temer. "Ele tem enfrentado crescente
dissidência desde que assumiu o poder em 12 de maio, depois que o presidente
Dilma foi suspensa por um processo de impeachment controverso. Ele tinha apenas
14 por cento de aprovação em uma pesquisa de julho - um ponto a mais do que
Rousseff teve em abril - e foi ruidosamente vaiado durante a cerimônia de
abertura de sexta-feira."
O New York Times escreveu que a expulsão de torcedores para
blindar Temer "está alimentando um debate sobre os limites da liberdade de
expressão em um país que permanece no limite, em meio a um período de
extraordinária agitação política."
"Temer suportou um coro de vaias quando declarou
brevemente o início dos Jogos Olímpicos durante a cerimônia de abertura na
sexta-feira. (...) Muitos brasileiros não estão dispostos a aceitar que lhe
digam onde eles podem protestar."
Na cerimônia de abertura, Temer contou com a colaboração da
mídia eletrônica nacional, que ao transmitir o ato tentou relativizar as vaias.
O apresentador Galvão Bueno chegou a dizer que ouviu vaias, mas também alguns
aplausos a Temer.
Inconstitucional
Ainda sobre a censura, o ex-ministro do Supremo Tribunal
Federal, Carlos Ayres Britto, disse que "levar uma placa ou cartaz dizendo
fora quem quer que seja, pacificamente, é uma legítima manifestação da
liberdade de expressão e, logo, não cabe este tipo de cerceamento" por
parte da Rio 2016.
Ao GGN, o criminalista William Cesar Pinto de Oliveira disse
que a proibição afronta a nossa Constituição e que todo torcedor que passar
pelo contrangimento de ter seu direito à livre manifestação podado deve
registrar um boletim de ocorrência e procurar a Justiça.
Alguns torcedores decidiram usar do jocoso jogo de cintura
brasileiro para lidar com a situação de censura prévia.
Nas redes, nesta segunda (8), circulam imagens do uso de
cartazes com a mensagem "Fora vocês sabem quem". Há a alusão ao filme
Harry Potter, no qual existe um personagem chamado Lord Voldemort, "aquele
que não pode ser nomeado" - como Temer.
Reações de brasileiros aos jogos
A censura nos estádios não foi o único assunto que repercutiu
na mídia internacional. A reação de brasileiros à Olimpíada também foi citada
pelo NY Times.
Segundo o jornal, o brasileiro reagiu de três maneiras à
chegada dos Jogos: primeiro, houve "raiva", com alguns grupos se
organizando para apagar a tocha, enquanto outros usaram em seus carros adesivos
com os anéis olímpicos reorganizados para "formar uma palavra de quatro
letras" - possível o "Fora" do "Fora Temer".
O segundo sentimento foi a ansiedade. "Com humor negro
em meio a uma onda de crimes e temores de terrorismo, um jogo de bingo está
circulando para as pessoas apostarem em qual dia durante os Jogos irá ocorrer
um ataque."
A terceira reação foi a "indiferença", com a
"gigante Globo" não se importando em transmitir os jogos olímpicos no
domingo à tarde, preferindo, no lugar disso, dar espaço a campeonatos nacionais
de futebol.
Via - Blog do Miro
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