Falei já algumas vezes do jornalismo de guerra.
Foi a expressão usada pelo editor do jornal argentino Clarín
para designar a caça a Cristina Kirchner.
Você pode tomar também como uma confissão.
No Brasil, nada define tão bem o que as grandes empresas de
mídia fizeram e fazem contra Lula, Dilma e o PT como jornalismo de guerra.
Basicamente, os barões da imprensa se autoconcedem o direito
de mentir, distorcer, manipular, omitir qualquer coisa em nome do sagrado interesse
da plutocracia. A verdade, a ética, a decência de nada valem.
Nas Olimpíadas, tivemos um caso notável de jornalismo de
guerra: a maneira como foi tratado o comportamento de Temer.
Não houve um único editorial que analisasse a fuga de Temer.
Não estou dizendo um editorial que criticasse: que simplesmente analisasse.
Podia ser até um texto que apoiasse e justificasse.
Mas não. Um silêncio intransponível, como se fosse um tema
de uma banalidade avassaladora.
E os comentaristas, os chamados fâmulos dos patrões? Como
bobos não são, se abstiveram de tocar no assunto. Foram tão medrosos quanto
Temer.
É uma anomalia, é uma aberração um chefe de governo não
passar na cerimônia de encerramento a tocha a seu par do país que receberá os
próximos jogos. É uma quebra de protocolo de proporções ancestrais e
planetárias.
Você pode ver o tamanho da importância deste ritual pela
forma como o Japão recebeu a tocha. No Maracanã estava o primeiro ministro
Shinzo Abe, vestido do heroi de videogames Mario, uma criação japonesa.
E Temer, onde estava? Desaparecido. A transmissão foi feita
por Rodrigo Maia, que só aceitou a incumbência depois de lhe garantirem que não
teria que dizer uma só palavra.
Um covarde salvando outro. Por medo do povo.
Vazaram relatos jornalísticos do desconforto do premiê
japonês. Tente entrar na cabeça de Abe. Que outro compromisso poderia
justificar a ausência de Temer numa noite tão fora do comum?
Alguém deve ter lhe dito, nos bastidores: é medo. É paúra. É
covardia.
Para um país que preza tanto o código de honra dos samurais,
a atitude de Temer não poderia ser mais desprezível.
O sumiço de Temer foi um episódio absolutamente insólito.
Você conhece a definição do que é notícia e do que não é. Notícia é quando um
homem morde um cachorro. Quando um cachorro morde um homem, não é notícia.
Pois Temer mordeu o cachorro. E o jornalismo de guerra
fingiu não ter visto.
Sobre o Autor
*O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial
do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Via - DCM
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