Ignácio de Loyola Lopes Brandão nasceu em Araraquara - SP,
no dia 31 de julho de 1936, dia de Santo Ignácio de Loyola, filho de Antônio
Maria Brandão, contador, funcionário da Estrada de Ferro Araraquarense, e de
Maria do Rosário Lopes Brandão. Foram, ao todo, cinco irmãos: Luiz Gonzaga
(1933), Francisco de Assis (1934 - já falecido), Ignácio, José Maria (1946 - já
falecido) e João Bosco (1953).
Inicia seus estudos na escola primária de D. Cristina
Machado, em 1944, onde cursa o primeiro ano. No ano seguinte transfere-se para
a escola da professora D. Lourdes de Carvalho.
Seu pai, que chegou a publicar histórias em jornais locais e que
conseguiu formar uma biblioteca com mais de 500 volumes, o incentivou a ler
desde que foi alfabetizado. Fascinado
por dicionários, chegou a trocar com seus colegas de classe palavras por
bolinhas de gude e figurinhas. Mais tarde, esse fato acabou se transformando no
conto "O menino que vendia palavras", primeiro a ser publicado pelo
autor.
Em 1946, passa a estudar no Colégio Progresso de Araraquara.
Participa de concurso de desenho patrocinado pelo Consulado da França com o
tema "Como você vê a Paris libertada", sendo agraciado com os livros
"Pinóquio" e "O barba azul".
Para cursar o ginásio, em 1948 ingressa no Colégio Estadual
e Escola Normal Bento de Abreu, hoje Escola Estadual Bento de Abreu. Nesse período escreve seu primeiro romance
num caderno, com o título de "Dias de Glória", policial cuja ação se
passa em Veneza.
Em 1955, inicia o curso científico, muito embora admita hoje
que foi por engano. "Deveria ter me inscrito no clássico, mais apropriado
para quem pretendia se dedicar a Humanas".
A Folha Ferroviária, semanário da cidade de Araraquara,
publica no dia 16 de agosto de 1952 uma crítica do filme "Rodolfo
Valentino", primeiro texto de Ignácio. Dias depois, o jornal Correio
Popular daquela cidade a reproduz.
Dado o primeiro passo, o precoce escritor passa a escrever
reportagens, críticas de cinema e entrevistas em outro diário de Araraquara, O
Imparcial. Nele aprende a arte da
tipografia, lidando com composição com linotipo, clichê em zinco e paginação em
chumbo. Em 1955 inaugura a primeira coluna social da cidade.
Se apaixona pelo cinema e participa, em 1953, das filmagens
de "Aurora de uma cidade", semidocumentário dirigido por Wallace
Leal. No ano seguinte funda o Clube de Cinema de Araraquara.
Concluído o curso científico, em 1956, muda-se para São
Paulo e vai trabalhar no jornal Última Hora, tendo ali permanecido por nove
anos. Um fato interessante marca sua
admissão. Aguardando para ser
entrevistado, ouve o chefe de reportagem perguntar quem sabia falar inglês, pois
precisava de uma entrevista com o irmão do presidente do Estados Unidos, General
Eisenhower, que se encontrava na cidade. Sem pestanejar o biografado disse
"Eu sei". Fez a entrevista, com seu inglês capenga aprendido no
ginásio e nos filmes que assistiu em Araraquara. Sua entrevista teve chamada de
primeira página. Como seu francês,
também aprendido no ginásio, era bem melhor que o inglês, ganhou status de
entrevistador de personalidades
internacionais.
Seu gosto pelo cinema permanece e, em 1961, participa como
figurante de O Pagador de Promessas, dirigido por Anselmo Duarte, baseado em
peça homônima de Dias Gomes, vencedor no Festival de Cannes em 1962.
No ano seguinte parte para a Itália, onde pretendia
trabalhar como roteirista em Cinecittà. Para poder viver por lá, enquanto seu
sonho não se realiza, manda reportagens para a Ultima Hora, faz sinopses de
roteiros e faz coberturas — como a da morte do Papa João XXIII — para a TV
Excelsior. Nessa época afirma que assistiu 53 vezes ao filme "Oito e
meio" de Federico Fellini, o que, segundo admitiu, o influenciou na feitura
do seu romance "Zero".
Na sua volta ao Brasil, começa a escrever o romance "Os
imigrantes", com seu amigo araraquarense José Celso Martinez Correa. Nessa
época Zé Celso dirigia a peça de grande sucesso, "Os pequenos
burgueses", que Ignácioafirma ter assistido mais de 100 vezes. O romance,
por não haver acordo quanto ao nome do personagem principal, não chegou a ser
concluído.
Em 1965, usando de uma divulgação inovadora, lança seu
primeiro livro: "Depois do sol" (contos).
No ano seguinte começa a trabalhar na revista Cláudia, como
redator, chegando a redator chefe dois anos depois.
Em 1968, ocorre o lançamento de "Bebel que a cidade
comeu", seu primeiro romance. O livro é adaptado para o cinema por Maurice
Capovilla, com Rossana Ghessa no papel-título e roteiro do próprio Ignácio,
Capovilla e Mário Chamie. O filme recebe o Prêmio Governador do Estado de São
Paulo de "Melhor Roteiro Cinematográfico". Ainda nesse ano, o
escritor recebe o Prêmio Especial do I Concurso Nacional de Contos do Paraná
por "Pega ele, Silêncio", publicado posteriormente em "Os
melhores contos do Brasil". Sua mãe falece, aos 60 anos.
Baseado em seu conto "Ascensão ao mundo de
Annuska", publicado em "Depois do sol", Francisco Ramalho filma
"Anuska, manequim e mulher", em 1969.
No ano seguinte, casa-se com a Maria Beatriz Braga,
psicóloga, ligação que duraria até 1978. Trabalha nas revistas
"Realidade" e em "Setenta".
Contratado para editar a versão brasileira de
"Planeta", a primeira revista esotérica do Brasil, em 1972. Nasce seu
primeiro filho, Daniel.
Desde 1960 Ignácio tinha na cabeça uma idéia surgida de um
conto — sobre um grupo de amigos que vai a uma vila em busca de um garoto que
teria música na barriga — escrito para
uma antologia de histórias urbanas organizada por Plínio Marcos para a Editora
Senzala e que não chegaria a ser lançada. Escreveu, depois, diversas novelas
paralelas a ela, ao mesmo tempo em que colecionava recortes de jornais,
prospectos e anúncios. Com isso, reuniu
material que lhe permitia ter um retrato sem retoques do homem comum, vivendo
numa cidade violenta e num clima ditatorial. Em 1974, escreve o romance, com
800 páginas iniciais, sob o título "A inauguração da morte".
Feita a primeira revisão, são cortadas 150 páginas. Entrega,
então, o texto ao amigo e escritor Jorge de Andrade, que sugeriu novos cortes —
acatados pelo autor. Jorge comenta o romance com Luciana Stegagno Picchio, que
lecionava Literaturas Portuguesa e Brasileira na Universidade de Roma. Luciana se interessa pelo texto, já com o
título de "Zero" e, após lê-lo, encaminha o livro para a editora
Feltrinelli, de Milão, que o publica em uma série intitulada "I
Narratori", onde Ignácio fica na companhia do ilustre João Guimarães Rosa,
único brasileiro até então publicado.
Em 1975, após o lançamento de "Zero" no Brasil,
Ignácio participa de inúmeros encontros com seus leitores, debatendo sua obra e
a situação do país. No primeiro encontro, realizado no Teatro Casa Grande, no
Rio de Janeiro, ele contou com a presença de João Antônio, Wander Priolli, José
Louzeiro, Antônio Torres e Juarez Barroso.
Em julho de 1976 "Zero" recebe o prêmio de
"Melhor Ficção", concedido pela Fundação Cultural do Distrito
Federal. Em novembro o livro é censurado pelo Ministério da Justiça e sua venda
é proibida. Lança "Dentes ao sol" (romance) e "Cadeiras
proibidas" (contos) e, em 1977, o infanto-juvenil "Cães
danados".
Escreve "Cuba de Fidel: viagem à ilha proibida"
(livro-reportagem), após participar, em 1978, do júri do Prêmio Casa de Las
Américas.
"Zero" é liberado pela censura em 1979. Passa a
viver com a jornalista Angela Rodrigues Alves, união que duraria até 1982.
Deixa o jornalismo para se dedicar integralmente à literatura.
Nova York, Flórida, Georgetown, Albuquerque, Tucson, San
Diego foram as cidades em cujas universidades o autor fez conferências, em
1980, a convide da Fundação Fullbright, dos EUA.
Em 1981, sai o romance "Não verás país
nenhum". Visita a Nicarágua por
ocasião das comemorações do segundo aniversário da Revolução Sandinista.
"É gol" (narrativa-homenagem ao futebol) é lançado
em 1982. A convite da Fundação Alemã de Intercâmbio Cultural, viaja em março
para Berlim, onde permanece por dezesseis meses. Lá, publica
"Oh-ja-ja-ja", uma seleta de seu diário berlinense, ainda inédito em
português.
Voltando ao Brasil, em 1983, publica "Cabeças de
segunda-feira" (contos).
Em 1984, lança "O verde violentou o muro", onde
narra sua experiência alemã. O senador italiano Amintore Fanfani lhe entrega o
Prêmio IILA, do Instituto Ítalo-Latino-Americano, pelo romance "Não verás
país nenhum", publicado na Itália no ano anterior. Assume a
vice-presidência da União Brasileira de Escritores, onde permanecerá até 1986.
Participa das Jornadas Literárias na cidade de Passo Fundo
(RS), em 1985. Desde então, lá comparece a cada dois anos para participar do
evento. Lança o romance "O beijo
não vem da boca".
Em 1986, volta a Berlim, como convidado especial, para
participar dos festejos dos 750 anos da cidade. Participa de encontro sobre
literatura brasileira promovido pela Universidade de Colônia, na Alemanha, ao
lado de João Ubaldo Ribeiro e Haroldo de Campos. Casa-se com a arquiteta Márcia
Gullo e participa, como figurante, de "No país dos tenentes", filme
de João Batista de Andrade.
"O ganhador" (romance) e "O homem do furo na
mão" (contos) são lançados em 1987. O primeiro receberia, no ano seguinte,
os Prêmios Pedro Nava (da Academia Brasileira de Letras) e Associação Paulista
de Críticos de Arte (APCA) na categoria "Melhor Romance". "Não
verás país nenhum" é encenado no Teatro José de Alencar, em Fortaleza, sob
a direção de Júlio Maciel.
Em 1988, lança o volume de contos e crônicas "A rua de
nomes no ar". No ano seguinte, "Manifesto verde", que havia sido
publicado em 1985 como brinde do Círculo do Livro, é lançado
comercialmente. Publica o álbum
infanto-juvenil "O homem que espalhou o deserto".
Como diretor de redação da revista Vogue, Ignácio volta ao
jornalismo, em 1990. Passa a escrever crônicas para o jornal Folha da Tarde.
"Zero", um espetáculo de dança realizado pelo Balé
da Cidade, inspirado em seu romance homônimo, é apresentado no Teatro Municipal
de São Paulo no ano de 1992. Vai à Zurique, na Suíça, onde participa de
leituras de sua obra.
Em 1993, começa a escrever uma crônica no caderno "Cidades"
de "O Estado de São Paulo" que, a partir de 2000, seria transferida
para o "Caderno 2". Seu pai falece, aos 88 anos.
No ano de 1995 realiza três lançamentos: "O anjo do
adeus" (romance), "Strip-tease de Gilda" (crônicas) e "O
menino que não teve medo do medo" (infanto-juvenil).
Afligido por fortes tonturas, descobre existir um aneurisma
cerebral. Submete-se, em maio de 1996, a uma bem-sucedida cirurgia, que dura
onze horas.
Publica "Veia bailarina", em 1997, onde conta sua
experiência como aneurisma. Em 15 de abril inaugura, no Instituto Moreira
Salles de São Paulo, a série "O escritor por ele mesmo".
Em 1998, publica "Sonhando com o demônio", seu
terceiro livro de crônicas. No ano seguinte é lançado "O homem que odiava
a segunda-feira (contos).
Recebe o Prêmio Jabuti de "Melhor Livro de
Contos", em 2000, por "O homem que odiava a segunda-feira".
Obras do autor:
Contos:
Depois do sol, Brasiliense, 1965
Pega ele, Silêncio, Símbolo, 1976
Cadeiras proibidas, Símbolo, 1976
Cabeças de segunda-feira, Codecri, 1983
O homem do furo na mão, Ática, 1987
O homem que odiava segunda-feira, Global, 1999
Romances:
Bebel que a cidade comeu, Brasiliense, 1968
Zero, Brasília/Rio, 1975
Dentes ao sol, Brasília/Rio, 1976
Não verás país nenhum, Codecri, 1981
O beijo não vem da boca, Global, 1985
O ganhador, Glogal, 1987
O anjo do adeus, Global, 1995
Infanto-juvenis:
Cães danados, Belo Horizonte Comunicações, 1977. Reescrito e
publicado com o título "O menino que não teve medo do medo", Global,
1995.
O homem que espalhou o deserto, Ground, 1989
Viagens:
Cuba de Fidel: viagem à ilha proibida, Livraria Cultura,
1978
O verde violentou o muro, Global, 1984
Relatos autobiográficos:
Oh-ja-ja-ja (Diário de Berlim, inédito em português).
Tradução de Henry Thorau. LCB, 1982
Veia bailarina, Global, 1997
Cartilha:
Manifesto verde, Círculo do Livro, 1985 e Ground, 1989
Crônicas:
A rua de nomes no ar, Círculo do Livro, 1988
Strip-tease de Gilda, Fundação Memorial da América Latina,
1995
Sonhando com o demônio, Mercado Aberto, 1998
Biografias:
Fleming, descobridor da penicilina, Ed. Três, 1973
Edison, o inventor da lâmpada, Ed. Três, 1973
Ignácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, Ed. Três,
1974
Antologia:
Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão, organização
de Deonísio da Silva, Global, 1994
Traduções:
Para o alemão:
Null (Zero), Suhrkamp, 1979
Kein land wie dieses (Não verás país nenhum), Suhrkamp, 1984
Para o coreano:
(Zero), Seto, 1990
Para o espanhol:
Cero (Zero), Galba, 1976
El hombre que espandió el desierto (O homem que espalhou o
deserto), Global - México, 2000
Para o húngaro:
(Zero), JAK, 1990
Para o inglês:
Zero, Avon Books, 1983
And still
the earth (Não verás país nenhum), Avon Books, 1984
Teeth under
the sun (Dentes ao sol), Dalkey Archive Press, 2007
Para o italiano:
Zero, Feltrinelli, 1974
Non vedrai paese alcuno (Não verás país nenhum), Mondadori,
1983
Vietat le sedie (Cadeiras proibidas), Marietti, 1983
Adaptações:
Para o teatro:
Não verás país nenhum. Direção de Júlio Maciel, Fortaleza,
Teatro José de Alencar, 1987 (baseado no romance homônimo)
Para o cinema:
Bebel, a garota-propaganda. Direção de Maurice Capovilla,
1986 (baseado no romance Bebel que a cidade comeu)
Anuska, manequim e mulher. Direção de Francisco Ramalho,
1969 (baseado no conto Ascensão ao mundo de Annuska").
Dados extraídos de livros do autor, da Internet e dos
Cadernos de Literatura Brasileira, Instituto Moreira Salles, São Paulo
Via - ICAB
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