Então, chegam notícias de que o velho comunista está morto.
Nos últimos dias, vários comunistas se foram. Pensei mesmo
se tratar de uma epidemia desconhecida que varre os ares da América Latina. De
Valparaíso a Havana passando por Macondo e São Luís do Maranhão. Mas esse
comunista velho morreu assassinado.
Em verdade, já estava morto há alguns anos.
Matou-o aquele que lhe era mais íntimo. Aquele com quem
dividia paixões. Mas não matou-o por amores ou por ódios. Matou-o porquê o
velho comunista se tornara incômodo, renegado.
Crime político? Não, eutanásia.
Conquanto, pelos obituários, nos chegue que também o poeta
estaria morto.
Teria morrido de morte natural. Morte incomum para um poeta.
Por estes cantos gerais, quando a peste não lhes alcança o peito ou a corda se
entrelaça em seus pescoços, simplesmente abrem o gás.
Mentem os jornais. E enganam-se os poetas. Os poetas
suicidas e aqueles que tão somente se deixam morrer de velhos. Poeta não morre.
Por certo que seu cadáver concreto como vil metal não tem a
liberdade poética de negar o que acaba de afirmar. Mas não descem ao túmulo
seus poemas sujos. Tampouco em sua rigidez de métrica decassílaba se encerram
suas lutas corporais.
Os poetas não morrem. Não lhes é dada tal remição de pecados
versejados em rimas ou livres como escravos libertos. Seus versos vagam dentro
da noite veloz a assombrar corações desabrigados e a amaldiçoá-los com seus
mistérios.
PS: a Oficina de Concertos Gerais e Poesia não fecha em luto
pela morte de poeta. Pé de pato mangalô três vezes.
Sérgio Saraiva
Via - Jornal GGN
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