As manifestações deste domingo contra a corrupção e em apoio
à Lava Jato emparedaram o Congresso e especialmente o presidente do Senado, Renan Calheiros, um dos alvos dos protestos, que em nota algo
enigmática pareceu admitir o adiamento da votação do projeto sobre abuso de
poder, apontado pelo juiz Sergio Moro como ameaça à Lava Jato.
Por Tereza Cruvinel
Mas se Renan capitular, livrando também Temer do dilema de sancionar ou vetar a proposta, que fará o baixo clero da Câmara, que deu o golpe e empossou Temer buscando apenas a boia de salvação? Todos os caminhos levam ao agravamento da crise: ou partirão para novos confrontos com o Judiciário/Ministério Público, ou começarão a desistir de Temer, que não serviu para estancar a sangria, nem estabilizar a política, nem recuperar a economia.
Por Tereza Cruvinel
Mas se Renan capitular, livrando também Temer do dilema de sancionar ou vetar a proposta, que fará o baixo clero da Câmara, que deu o golpe e empossou Temer buscando apenas a boia de salvação? Todos os caminhos levam ao agravamento da crise: ou partirão para novos confrontos com o Judiciário/Ministério Público, ou começarão a desistir de Temer, que não serviu para estancar a sangria, nem estabilizar a política, nem recuperar a economia.
As manifestações foram expressivas e tiveram caráter
político-ideológico claro: foram conduzidas pelo “Vem pra rua” e outros grupos
de direita que impulsionaram o impeachment da ex-presidente Dilma, foram contra
a classe política e contra o Congresso, que errando ou acertando, representa a
população. Logo, foram nefastas à democracia. Representaram também segmentos de
extrema-direita, que no Rio formaram um bloco pedindo a volta dos militares.
Representaram ainda o moralismo conservador, com críticas à decisão do STF que
descriminaliza o aborto até o terceiro mês de gravidez. Foram grandes mas não
representam o país. Esta semana veremos novos protestos, puxados pelos
movimentos sociais de esquerda, contra a política econômica recessiva do governo
e a PEC 55, sob o slogan “Fora Temer”. O
racha do país volta a revelar sua extensão, apontando para a única saída
consistente e segura, a convocação de eleições diretas.
A nota de Renan, emitida nesta tarde de domingo, diz: “O presidente do Senado, Renan Calheiros,
entende que as manifestações são legítimas e, dentro da ordem, devem ser
respeitadas. Assim como fez em 2013, quando votou as 40 propostas contra a
corrupção em menos de 20 dias, entre elas a que agrava o crime de corrupção e o
caracteriza como hediondo, o Senado continua permeável e sensível às demandas
sociais.”. A permeabilidade significa
que o Senado se vergará aos protestos e adiará a votação do abuso de
autoridade? É o que parece.
O deputado Silvio Costa (PTB do B-PE), vice-líder da
oposição, adverte:
– Renan e o Senado não podem capitular. Acabei de escrever
ao Rodrigo Maia (presidente da Câmara) sugerindo que ele use a TV Câmara para
um pronunciamento em que esclareça o que a Câmara votou. A população foi
envenenada pela histeria dos procuradores, pelas versões de que estraçalhamos
as propostas contra a corrupção. O que
fizemos foi ajustá-las à Constituição. A população, se esclarecida, entenderá
que não podemos criar a figura do dedo duro remunerado. Que não podemos
flexibilizar o habeas corpus, como fez a ditadura. Estão querendo encurralar o
Congresso – diz ele.
Mas, encurralada, esperando pelas delações da Odebrecht, o
que fará a base de Temer? Agravar a crise, com mais medidas que confrontam o
Judiciário-Ministério Público, ou desistir da pinguela Temer. Isso é o que veremos a partir de amanhã,
quando deputados e senadores voltarem a Brasília digerindo as manifestações de
hoje.
Via – Brasil 247
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